A renovação da outorga do Sistema Cantareira, o maior
complexo de abastecimento de água de São Paulo, prevista para ocorrer em agosto
deste ano, vai precisar conter mais regras para atender à população e evitar
disputas políticas, defendeu em 25/03/14 o diretor presidente da Agência
Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu Guillo, durante audiência pública de
cinco horas de duração, na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), que
debateu o racionamento de água.
“A nova outorga do Cantareira precisará ter regras. E aí não
importa de que partido é o governo. Aconteceu tal coisa, a população deve saber
por que existe um cuidado das empresas de saneamento de não passar risco ou
intranquilidade [para a população]. Há sempre cuidado para que não se transfira
essa intranquilidade, e isso se reflita na área eleitoral. Nunca discutimos
água nessa intensidade, e agora estamos fazendo no momento das eleições, quando
tudo fica mais difícil”, disse ele.
A crítica de Guillo se estendeu à disputa pelas águas do Rio
Paraíba do Sul pelos governos do Rio de Janeiro e de São Paulo. O governador de
São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), encontrou-se recentemente com a presidenta
Dilma Rousseff, em Brasília, para tratar sobre a crise no Sistema Cantareira, e
pediu para utilizar água do Rio Paraíba do Sul para ajudar no abastecimento de
São Paulo. O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, no entanto, tem
defendido que esse projeto é inviável e poderia dar prejuízos para a população
fluminense, que é abastecida pelo rio. Para Guillo, essa é uma questão que “não
pode ser contaminada pelas eleições” e deveria ser resolvida em uma mesa de
discussão.
“Estou apreensivo com o tom dos governadores. É natural,
porque estamos vivendo um momento eleitoral, mas não podemos deixar contaminar
essa discussão pela questão eleitoral. Todas as soluções, exceto o volume
morto, não acontece em nenhum mandato das pessoas envolvidas, mas somente daqui
a dois anos. Trazer uma discussão com essa intensidade em um momento como esse
é muito complexo”, disse o presidente da ANA.
Segundo o presidente da ANA, 2014 vai ser um ano “bastante difícil”
para a população de São Paulo. “Esta crise deve continuar durante todo o ano de
2014”, ressaltou ele, que ainda defendeu a utilização do volume morto do
Cantareira como medida de curto prazo para ajudar na solução da crise de
desabastecimento. “A utilização do volume morto é uma situação emergencial e
necessária”, defendeu.
Também presente à audiência pública, Paulo Massato, diretor
metropolitano da Companhia de Abastecimento Básico do Estado de São Paulo
(Sabesp), disse que, apesar da crise, não vai faltar água em São Paulo. “Não
[vai faltar água), mas é preciso que chova. Aqui na Bacia do Alto Tietê está
chovendo próximo à média. Na Bacia do Guarapiranga choveu até acima da média.
Na Bacia do Alto Tietê, as represas que armazenam os afluentes do Rio Tietê
estão em boa condição de regularização. O ponto crítico é o Sistema Cantareira.
A bacia onde ficam as barragens do sistema é menos de 20% do total da Bacia do
Piracicaba e 80% já está abaixo das barragens. E não está chovendo nessa
cabeceira. Normalmente, é um local que chove muito, mas este ano não está
acontecendo isso”, disse ele.
Massato negou também que vá ocorrer racionamento de água ou
rodízio. “Tenho pavor de racionamento. Tenho pavor de rodízio. Todos os dias
fazendo manobra na rede, aumenta muito o risco de ter um acidente no nosso
sistema. Não gostamos de rodízio ou racionamento. Estamos buscando todas as
alternativas para manter a qualidade de vida da população. Até agora foi
possível atender, reduzindo a produção com as águas do Cantareira e aumentando
no Guarapiranga e no Alto Tietê. Onde dá para transferir a água de um sistema e
ajudar a do Cantareira, vamos fazer”.
Ele admitiu que alguns lugares da região metropolitana de
São Paulo podem estar sofrendo com a falta de água, mas disse que isso não tem
relação com a crise no abastecimento. “Alguns locais têm falta de água. Nosso
call center registra entre mil e 1,5 mil reclamações de falta de água todo dia,
mas é o mesmo número que vem sendo registrado antes da crise do Cantareira.
Isso [a falta de água] acontece porque fazemos manutenção, falta energia
elétrica, ou porque dá algum problema na nossa tubulação”, falou.
Para Massato, a crise no Sistema Cantareira está ocorrendo
por uma questão climática. “Sei que vocês querem achar todos os problemas, mas
no mundo todo, se você for para a Inglaterra agora, ela está sofrendo a pior
inundação dos últimos 100 anos. Se você for para a Costa Oeste dos Estados
Unidos, eles estão passando pela maior crise de falta d’água. Se for para a
Austrália, ela passou pela maior temperatura já registrada. Tem um fenômeno
global que atingiu o mundo todo, inclusive a região metropolitana de São Paulo.
Quem não quer enxergar, tem um fenômeno global. No momento em que deveria estar
chovendo 280 milímetros, em dezembro, janeiro e fevereiro, choveu 60
milímetros. No momento em que deveria estar se enchendo as represas, elas estão
esvaziando. É uma crise climática”, disse o diretor da Sabesp. (ecodebate)
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