Separadas por 15 km, Jaguari e Atibainha esvaziam e enchem juntas, o que
põe em xeque proposta de Alckmin de transposição.
Apontada como um
trunfo no projeto de transposição de água da Bacia do Rio Paraíba do Sul para o
Sistema Cantareira, a proximidade entre as Represas Jaguari, em Igaratá, e
Atibainha, em Nazaré Paulista, põe em xeque proposta feita pelo governador
Geraldo Alckmin (PSDB). A ideia é aumentar a capacidade do principal manancial
paulista sem comprometer o reservatório que abastece também o Estado do Rio.
Represa Jaguari. Obra de interligação custará R$ 504 mi
O governador
sugeriu à Agência Nacional de Águas (ANA) que a reversão de água entre os dois
reservatórios só seja liberada quando os níveis das represas estiverem abaixo
de 35% ou acima de 75% da capacidade. O objetivo, segundo Alckmin, é
"garantir segurança hídrica" aos dois sistemas para evitar crises de
estiagem como a atual e de cheia como a que ocorreu no Cantareira entre 2010 e
2011, com abertura de comportas.
Especialistas
ouvidos pelo Estado apontam, contudo, que, por ficarem a apenas 15 quilômetros
de distância, as Represas Jaguari e Atibainha estão sob regime climático
similar. Por isso, apresentam um "padrão hídrico" muito semelhante.
Ou seja, costumam secar ou encher na mesma época do ano.
"A série
histórica mostra que os dois reservatórios têm o mesmo comportamento hídrico.
Quando um está cheio, o outro também está. Quando uma seca, a outra também
seca. Por isso, é difícil imaginar que será possível transferir água de uma
represa para outra nessas condições", disse o presidente do Comitê da
Bacia do Alto Tietê, Chico Brito, prefeito de Embu das Artes pelo PT.
Segundo o
coordenador de Pesquisa e Desenvolvimento do Centro Nacional de Monitoramento e
Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), Javier Tomasella, as semelhanças
climáticas fazem com que a chance de os dois reservatórios terem o mesmo
comportamento hídrico seja de 99%.
"Nada impede
que uma região tenha chuvas mais intensas do que a outra. Mas, como a distância
entre as barragens é pequena, a tendência é ter padrões de precipitação muito
similares. Aparentemente, se tiver uma estiagem severa de um lado, também
haverá do outro", afirmou Tomasella.
Registros
O Estado levantou
os eventos mais críticos registrados no Sistema Cantareira na última década e
confrontou com a situação da Represa Jaguari na mesma época. Em 2004, por
exemplo, ano da última grande seca do manancial que abastece 47% da Grande São
Paulo e a região de Campinas, o Cantareira estava com 23,4% da capacidade em 8
de janeiro. A represa localizada em Igaratá batia a marca de 27,5% no mesmo
dia, segundo medições da Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp) e
do Operador Nacional do Sistema Elétrico.
Seis anos depois, o
Cantareira chegou a transbordar durante o verão de 2010. No dia 8 de janeiro
daquele ano, o nível atingiu 97,4% da capacidade. Na mesma data, o Jaguari
estava ainda mais cheio, com 105,2%. E hoje, na pior crise de estiagem do
Cantareira, que chegou a 13,8% anteontem, a represa de Igaratá também tem nível
crítico (38,9%) para um período pós-verão.
Em nenhum desses
casos, a transposição com as regras propostas por Alckmin poderia ser feita
entre os dois reservatórios. O governador disse que antecipou a obra, que
estava prevista apenas para 2025, porque ela é mais rápida. Ao custo de cerca
de R$ 504 milhões, ela está estimada para o segundo semestre de 2015. Pelo
canal, será possível remanejar, em média, 5,1 mil litros por segundo. (OESP)
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