Vilã das perdas, metade da tubulação da Sabesp no centro tem
mais de 30 anos
Documento da companhia enviado à agência reguladora admite que
envelhecimento da rede é um dos principais motivos de vazamento de água;
capital tem até tubos dos anos 1930. Empresa perde atualmente 31,2% de toda a
água produzida.
O envelhecimento da
tubulação da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp)
atinge metade da rede de distribuição de água na região central da capital,
onde vivem cerca de 3,5 milhões de habitantes. Levantamento feito pela empresa
revela que 51% do sistema de abastecimento que atende bairros como Perdizes
(oeste), Moema (sul), Tatuapé (leste) e Sé (centro) tem mais de 30 anos de uso,
o que aumenta os casos de vazamento - o maior vilão do desperdício na própria
Sabesp.
Em 2013, a empresa
perdeu 31,2% de toda a água produzida entre a estação de tratamento e a caixa
d’água dos consumidores, conforme o Estado revelou em fevereiro. O índice
representa cerca de 950 bilhões de litros - quantidade equivalente a quase todo
o "volume útil" do Sistema Cantareira, que tem capacidade para 981
bilhões de litros. Segundo a Sabesp, 66% das perdas são provocadas por
vazamentos ou transbordamentos de reservatórios.
"O
envelhecimento das tubulações, especialmente na Região Metropolitana de São
Paulo, é um dos principais motivos das perdas físicas (vazamentos) da
Sabesp", informa a companhia em documento enviado em março à Agência
Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo (Arsesp) durante o
processo de negociação da revisão tarifária.
Segundo a empresa,
17% da rede têm mais de 40 anos e 34%, entre 30 e 40 anos de uso. No centro,
ainda há tubulação feita na década de 1930.
"Ressalta-se
que a grande dificuldade para a execução dos serviços de manutenção ou
substituição das tubulações em áreas centrais, como a do Município de São Paulo,
reside na obtenção de licenças para a liberação de obras por parte de órgãos
municipais (CET e Convias, entre outros), fazendo com que a execução seja
postergada frequentemente", justifica a Sabesp ao órgão regulador.
Pela meta traçada
pela Arsesp, o índice de desperdício deveria ter caído para 30% no ano passado,
ante os 32,1% de 2012. Para este ano, a agência impôs a meta de 29,3%. Enquanto
isso, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) quer multar em 30% quem gastar 20%
mais água.
Obstrução
Segundo o presidente
da seção paulista da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental
(Abes), Alceu Bittencourt, tubulações com mais de 30 anos de uso são
predominantemente feitas de ferro fundido, que sofre um processo de
cristalização pela ação da água que vai obstruindo o tubo. "Essa obstrução
reduz o diâmetro da tubulação, o que reduz muito a capacidade de vazão. Para
mantê-la, é preciso aumentar a pressão da água na rede e isso eleva o índice de
perdas nas juntas e conexões."
De acordo com
Bittencourt, essas tubulações precisam ser substituídas por redes mais
modernas, como as feitas de polietileno de alta densidade (PEAD). "Isso
não se resolve com manutenção. Nesse caso, a solução é substituição integral. A
Sabesp tem substituído muito os ramais e agora vai intensificar a troca das
redes com o programa japonês de financiamento", explicou o engenheiro.
Sem parar
O aposentado Sergio
Dias Teixeira, de 75 anos, fica indignado com o desperdício na esquina das Ruas
Manuel Joaquim Pera e José Benedito Macedo, no Butantã, zona oeste. "Somos
cobrados para economizar ao mesmo tempo que convivemos com o desperdício de
água limpa que, literalmente, vai para o bueiro", criticou.
Segundo a Sabesp,
"não foi detectado nenhum vazamento na rede de distribuição" no
local, mas "infiltrações de água provenientes de lençol freático".
(OESP)
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