A partir de outubro, São Paulo ficará ao menos seis meses
com o Sistema Cantareira seco, prevê engenheiro.
A falta de chuva diminuiu o volume de água do Sistema
Cantareira, que abastece São Paulo.
Para conselheiro da FIESP, Júlio Cerqueira César Neto, não
há outra solução, do ponto de vista técnico, que não seja o racionamento de
água para enfrentar a crise do Sistema Cantareira.
São Paulo vai chegar à primeira semana de outubro com o
Sistema Cantareira seco, sem volume morte, quantidade de água localizada em uma
região mais profunda do reservatório, e com as chuvas do período ainda em sua
fase inicial, incapazes de reabastecer o reservatório antes dos seis meses,
diagnosticou em 22/04/14 o engenheiro Júlio Cerqueira César Neto.
“Estamos em uma situação em que temos que nos conscientizar.
Vamos ter seis meses, depois de outubro, sem o Sistema Cantareira. E como os
outros sistemas também não estão na plenitude de sua capacidade, vamos ter uma
restrição de abastecimento de mais de 50%”, afirmou Cerqueira César Neto.
“Imagine uma região desse porte com uma economia de 50% do sistema por pelo
menos por seis meses que é enquanto se enche o volume morto”, completou o
engenheiro.
Ao participar da reunião do Conselho Superior de Meio
Ambiente (Cosema) da Federação das Indústrias do Estado de Saulo (Fiesp), Cerqueira
César Neto afirmou que a única solução para contornar a crise de abastecimento
do principal reservatório de água da cidade é o racionamento.
“Sob o aspecto técnico, não há dúvida que a única solução em
curto prazo é o racionamento. A engenharia não tem solução em curto prazo para
esse problema”, explicou.
Neto avaliou que a crise de abastecimento pode se estender
por até um ano e meio, já que, segundo o engenheiro, o Sistema Cantareira
demora um ano para se recompor desde que sejam retirados dele menos de 15% da
sua capacidade. “Vamos ter um ano e meio em que a cidade vai ter a
possibilidade de menos da metade da água que necessita. Vai faltar água na
casa, na indústria, no comércio. Todo o sistema da cidade será afetado com essa
dificuldade e não temos de onde tirar essa água”.
O Sistema Cantareira fornece água para mais de 8 milhões de
pessoas na Grande São Paulo e atingiu níveis menores do que 12% nas últimas
semanas, recorde de baixa. Segundo Neto, essa crise “vai exigir de nós
competência e criatividade que ainda não demonstramos”.
Segurança hídrica
Engenheiro e conselheiro da Fiesp, Neto afirmou que os
projetos de abastecimento de água de qualquer cidade devem prever fatores
cíclicos, inclusive variações extremas de clima que “são coisas absolutamente
naturais e existem no Brasil e no mundo inteiro”.
“Os sistemas têm de ter segurança hídrica e o nosso sistema
não tem isso. E a causa fundamental dessa seca é a absoluta falta de
investimento do governo em novos sistemas de abastecimento nos últimos 30
anos”, criticou.
Segundo ele, a população de São Paulo aumentou em 10 milhões
desde a década de 1990 enquanto os mananciais são os mesmos. “Não são
suficientes para atender com segurança hídrica. A consequência só poderia ser
essa”.
“A própria natureza fez o seu próprio alerta. Em 2003 ela
produziu uma estiagem prolongada e nem esse alerta da natureza foi suficiente
para mudar a condição”, afirmou Cerqueira César Neto.
Além de comentar a crise do Sistema Cantareira, o engenheiro
apresentou, durante o encontro, seu livro “Um Estadista Urgente – São Paulo
está precisando”, que ainda não foi lançado.
Na obra, ele analisa 12 itens da pauta pública na região
metropolitana de São Paulo: abastecimento de agua, esgoto, poluição das águas,
poluição do ar, enchentes, habitação, transporte, gestão metropolitana, gestão
de recursos hídricos, comportamento da Sabesp, educação, saúde, e segurança
pública.
“Nas minhas reflexões em torno dessa situação cheguei à
conclusão que todos esses itens estão indo de forma negativa e não é pouco”,
disse Neto. “Da minha parte eu cheguei a uma conclusão: de 1990 para cá, os
nossos governos deixaram de governar e a nossa sociedade deixou de reclamar e
exigir os seus direitos”, analisou.
A reunião do Cosema foi presidida pelo presidente do
conselho, Walter Lazzarini. (ecodebate)
Nenhum comentário:
Postar um comentário