Água é um bem comum. Sem água não
existe vida. Mas não lemos nenhuma linha na mídia sobre o Direito Humano à Água
e Saneamento, determinado pela Resolução 64/292 das Nações Unidas. Nada foi
publicado sobre esse direito nem mesmo no Dia Internacional da Água, 22 de
março, apesar de três bilhões de pessoas no mundo não terem acesso a água
corrente em casa, segundo dados da ONU.
Em julho de 2010, 122
Estados-membros das Nações Unidas aprovaram a Resolução 64, com 41 abstenções e
nenhum voto contra. Os Estados Unidos se abstiveram, como outros Estados
industrializados, entre eles Áustria, Austrália, Canadá, Grã-Bretanha, Holanda,
Israel, Luxemburgo, Japão e Suécia. Nos debates houve clara divisão entre as
nações do Norte e do Sul, como já era esperado.
Durante a Rio+20, em 2012, os
Estados da União Europeia e outras nações industrializadas tentaram derrubá-la.
Desde 2010, o ecomercado centraliza o tema água, apresentando-a como commodity
e de maneira subliminar, utilizando sofisticado marketing ambiental e cooptando
a imprensa alternativa.
Na sua edição de março de 2014, a
Folha do Meio Ambiente abriu dez páginas para lembrar todas as campanhas da
água desde 1994, quando foi criado o Dia Internacional. Ao citar 2010, no
entanto, omitiu a aprovação da Resolução 64/292 em 28 de julho e considerada
por muitos a maior conquista do início do século.
Carta Capital, publicação
preferida de muitos militantes da esquerda, ignorou o Dia Internacional. Tendo
oferecido pouco ou nenhum destaque ao 22 de março, a mídia alternativa
mostrou-se cooptada pelo sofisticado marketing do ecomercado.
Que dizer então da Agência
Brasil, veículo da Empresa Brasil de Comunicação e que, portanto, deveria estar
imune aos interesses do mercado para informar corretamente e expor a
manipulação? Acabou também escancarando sua cooptação, ao ouvir uma porta-voz
dos grupos financeiros e de conglomerados de mídia, a ONG WWF-Brasil. ONG esta
que já foi presidida pelo senhor José Roberto Marinho.
Como já era de se esperar, o
jornal O Globo publicou uma matéria sobre os problemas de água em Manaus. Mas
apontou como vilão o indivíduo que desperdiça água tratada, não observando os
vazamentos domésticos… Essa abordagem a respeito do abastecimento de água em
Manaus é cruel. Primeiro porque há muitas pessoas que não têm água em suas
torneiras há muito tempo e, por isso, deixaram de pagar a conta. Atualmente,
elas não têm crédito porque seus nomes estão no SPC. Segundo, e o mais
importante, Manaus está sobre o maior aquífero do mundo, o Alter do Chão, que
tem água de boa qualidade. Há denúncias de que a concessionária que abastece
Manaus é estrangeira, não investe e cobra caríssimo pela água que fornece. Quem
não pode pagar não tem.
Voltando ao assunto manipulações
da mídia, pasmem, os meios alternativos passaram a usar dados do ecomercado
sobre informações essenciais. Quando esteve recentemente no Brasil a relatora
da ONU para os Direitos Humanos a Água e Saneamento, a portuguesa Catarina de
Albuquerque, colocaram para assessorá-la um representante da mídia alternativa
que defendia os créditos de carbono. Em uma entrevista coletiva não divulgada
para a maioria dos jornalistas especializados, a relatora apresentou dados
positivos apenas de cidades abastecidas por concessionárias privadas.
Albuquerque certamente recebeu
esses dados de sua assessoria brasileira, uma vez que é contra a privatização.
Grande surpresa para os fluminenses bem informados sobre o tema, Niterói foi
uma das cidades bem avaliadas – fato repercutido pelas mídias. Não faz muito
tempo, a “cidade sorriso” foi palco de um drama: ao sair do hospital onde
tratava um câncer, a mãe de um jornalista encontrou a água de sua casa cortada
por falta de pagamento, em razão da absurda taxa que os familiares não puderam
pagar.
Assim, depois de muito tempo
entendi a frase lapidar do professor Carlos Walter Porto-Gonçalves: “Quanto
mais se fala em meio ambiente, pior fica”. Por isso ficaremos em silêncio por
algum tempo, até que possamos fazer uma campanha robusta sobre os Direitos
Humanos a Água e Saneamento. (ecodebate)
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