Suzana Kahn: para
mitigar o aumento da temperatura será preciso uma mudança de comportamento em
relação ao consumo.
Especialistas
alertaram em 29/04/14, na Comissão Mista Permanente sobre Mudanças Climáticas,
que as alterações no clima provocam impactos físicos, econômicos e sociais
irreversíveis em diversos países. Entre os cenários de futuro apresentados no
relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC),
discutidos na reunião, estão dias e noites mais quentes, ondas de calor,
eventos de chuva extrema, aumento dos ciclones tropicais e prolongamento das
secas.
“A mudança climática
já é alarmante com riscos irreversíveis e vai necessitar um grande trabalho de
adaptação, com medidas que devem ser tomadas rapidamente”, alertou Osvaldo Luiz
Leal de Moraes, representante da Secretaria de Políticas e Programas de
Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação
(MCTI).
Medidas como o uso de
materiais de construção adequados a climas diferentes, a contenção de
enchentes, entre outras, foram apontadas pelo representante da Secretaria de
Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Sérgio Margulis.
Divulgado em 31/03/14 o documento está sendo considerado como a avaliação mais completa já
feita sobre o impacto das mudanças climáticas no planeta. De acordo com o
relatório, o efeito do aquecimento global será “grave, abrangente e
irreversível”.
Comportamento
consumista
Durante o debate, a
vice-presidente do IPCC, Suzana Kahn, enfatizou que o acordo internacional para
mitigar o aumento da temperatura passa por uma mudança de comportamento em
relação ao consumo. “A tecnologia pura e simples não vai resolver o problema.
Se a gente considerar o aumento populacional no mundo, mantendo o mesmo padrão
de consumo da classe média ocidental, não adianta”, afirmou.
Na opinião de Suzana
Kahn, os países consumidores também são responsáveis pelo aquecimento global.
Ela ressaltou que os países mais poluidores são os de menor renda, que produzem
bens para atender a demanda dos mais ricos.
Na América do Sul, a
previsão é que a distribuição e uso da água sejam afetados, assim como a
produção de alimentos. A safra de trigo já caiu e pode reduzir também a de
milho, soja e arroz.
Geração de energia
O relatório sobre
mudanças climáticas revelou ainda que, em 2010, a emissão de gás carbono, que
causa o efeito estufa foi o maior da história. O aumento está relacionado à
geração de energia e, em menor número, ao uso da terra (queimadas e
desmatamento).
A Europa, por razões
geopolíticas, intensificou o uso do carvão na sua matriz energética, gerando o
crescimento da intensidade de carbono no setor industrial.
Aprovada pelos
governos, a utilização da biomassa para substituir as usinas térmicas a carvão,
é uma das medidas de mitigação destacadas no relatório.
Para o presidente da
comissão, deputado Alfredo Sirkis (PSB-RJ), um acordo entre os países para
instituir a redução de carbono como unidade de valor do sistema financeiro internacional,
seria uma medida complementar para manter os níveis desejados de temperatura no
planeta.
Efeitos climáticos no
Brasil
Segundo os
especialistas, nos últimos cem anos a temperatura no Brasil aumentou em média
2°C. E a previsão é aumentar mais dois graus até o fim do século.
Fenômenos climáticos
recentes como as grandes cheias em Rondônia, Rio de Janeiro e outros estados,
tornado em Santa Catarina e a seca em São Paulo foram mencionados pelos
debatedores.
O senador pelo Ceará
e vice-presidente da comissão, Inácio Arruda (PCdoB), lembrou os três anos de
estiagem seguida no Nordeste e questionou os participantes sobre as previsões
climáticas para a região.
As respostas
divergiram, com tendência de aumento da desertificação e períodos maiores de
seca, mas também aumento de chuvas, ainda que com distribuição irregular.
Estudos apontam que no litoral nordestino, nos últimos 50 anos, não houve
mudança na quantidade de chuvas, ao contrário do interior.
A previsão é que
chova mais, tanto no Nordeste quanto na Região Amazônica, nos próximos anos.
Contudo, como são usados mais de 30 modelos climáticos diferentes, é comum que
os resultados sejam mais discordantes em relação às chuvas do que sobre o
aumento da temperatura. A expectativa é que o uso por cientistas brasileiros de
um modelo de escala global possa garantir melhores cenários e previsões mais
precisas. (ecodebate)
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