O IPCC (sigla em
inglês de Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) publicou
recentemente os relatórios finais dos Grupos de Trabalho 2 e 3. Estes dois
novos relatórios lidam com as questões de impactos, vulnerabilidades e
adaptação e a mitigação das emissões.
O relatório sobre
impactos, adaptação e vulnerabilidade faz pela primeira vez uma análise
quantitativa dos riscos que estamos correndo ao não reduzir as emissões de
gases de efeito estufa. A vulnerabilidade é certamente muito maior nos países
pobres e em desenvolvimento (Bangladesh, índia, países da África central) do
que nos países desenvolvidos. Portanto a mudança climática vai aumentar o fosso
entre países ricos e em desenvolvimento.
A vulnerabilidade ao
aumento do nível do mar (projetado de 40 a 90 cm ao longo deste século) e às
alterações na chuva na região Nordeste do Brasil é apontada também como um
potencial aumento na desigualdade regional. A questão da disponibilidade de
água é apontada como uma das maiores vulnerabilidades socioeconômicas, e que já
afeta atualmente grande parte de nosso planeta, com impactos importantes na
agricultura, que deverão se agravar ao longo das próximas décadas.
O relatório sobre
mitigação das mudanças globais relata que as emissões continuam a aumentar,
apesar de ser muito clara e urgente a necessidade da redução de emissões de
gases de efeito estufa. Se quisermos evitar que nosso planeta seja aquecido de
2 a 5°C em média, temos que agir já (na verdade, ontem). Minimizar as emissões
de gases de efeito estufa exigirá alterações importantes no modo como
produzimos e consumimos energia e usamos matéria primas.
A produção de
alimentos também poderá ser afetada, bem como nosso estilo de vida, onde
teremos que usar os recursos naturais de nosso planeta de modo mais
inteligente.
É fundamental a
redução de subsídios aos combustíveis fósseis, e a um aumento de eficiência
energética em todos os setores. Transporte urbano é um bom exemplo. Já existe
tecnologia automobilística que é 4 vezes mais eficiente do que os nossos
automóveis em uso. Veículos híbridos 4 vezes mais econômicos e com baixíssimas
emissões de poluentes já existem. Por que não são utilizados em larga escala?
Faltam políticas públicas que incentivem a transição a automóveis mais
eficientes e limpos, e a falta de inovação industrial é enorme nesta área.
Como resolver estes
conflitos, sem que haja um sistema de governança global em funcionamento? Esta
é uma das questões mais importante e pouco discutida na área das mudanças
climáticas globais. A ONU (Organização das Nações Unidas) não tem poder nem
meios para atuar nesta questão. Teremos que construir organismos multilaterais
para administrar esta que é maior crise que nosso planeta já passou.
A perspectiva de
aumento forte de temperatura, com intensificação de secas, enchentes e
destruição dos ecossistemas, como os conhecemos, é algo que nos escapa à
percepção. Mas é claro hoje que temos que usar os recursos naturais do planeta
de maneira muito mais inteligente que usamos hoje. Já existe tecnologia de
mitigação de emissões em larga escala. Mas a força econômica e política da
indústria do combustível fóssil é muito grande, em todos os países, e seus
lucros se baseiam na extração, no processamento e na venda de combustíveis
fósseis.
Há alternativas em
escala menor, como a energia eólica e solar, além dos biocombustíveis de última
geração. Mas a maior questão é a redução do consumo de modo geral, pois isso
vai contra o motor atual das economias de todos os países. A questão de que
habitamos um planeta comum, com recursos naturais finitos, está ficando cada
vez mais clara. Mas, nosso planeta não tem um sistema de governança para
implementar as medidas necessárias. Teremos que construir este sistema de
governança global, e isso deverá demora algumas décadas. Um tempo que não
dispomos, pois as mudanças climáticas já estão entre nós e se acelerando. Temos
que agir já, pois a ciência do clima é robusta o suficiente para mostrar a
urgência da necessidade de redução de emissões, e agora indicando como reduzir
e quanto vai custar. Mas, falta governança. (ecodebate)
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