Duas enormes Pegadas Ecológicas: EUA grande consumo e China
grande população
Os Estados Unidos da
América (EUA) e a China são as duas maiores economias globais e os dois países
com maior impacto negativo sobre o meio ambiente do mundo. Ambos possuem
aproximadamente a mesma extensão territorial. Mas os EUA, com apenas 4,5% da
população mundial, possui alto padrão de consumo, enquanto a China, com
gigantescos 20% da população mundial, possui um padrão médio e crescente de
consumo.
Utilizando-se a
metodologia da Footprint Network, há duas medidas úteis para se comparar o
impacto das atividades antrópicas dos EUA e da China sobre o meio ambiente. A
Pegada Ecológica serve para medir o impacto que o ser humano exerce sobre a
biosfera (em termos de hectares globais – gha). A Biocapacidade avalia o
montante de terra e água, biologicamente produtivo, para prover bens e serviços
do ecossistema à demanda humana por consumo, sendo equivalente à capacidade
regenerativa da natureza. O planeta Terra possui aproximadamente 12 bilhões de
hectares globais (gha) de terra e água biologicamente produtivas.
Em 2008, a Pegada
Ecológica per capita dos EUA era de 7,19 gha, a biocapacidade per capita era de
3,86 gha e a população era de 305 milhões de habitantes. Isto quer dizer que os
EUA tinham uma Pegada Ecológica total de 2,2 bilhões de gha, para uma
biocapacidade total de 1,2 bilhão de gha. O déficit ecológico era de 1 bilhão
de hectares globais.
A China, no mesmo
ano, tinha uma Pegada Ecológica per capita de 2,13 gha, uma biocapacidade per
capita era de 0,87 gha, mas uma enorme população de 1,359 bilhão de habitantes.
Isto quer dizer que a China tinha uma Pegada Ecológica total de 2,9 bilhões de
gha, para uma biocapacidade total de 1,2 bilhão de gha. O déficit ecológico
chinês foi de 1,7 bilhão de hectares globais, em 2008.
Ou seja, os EUA e a
China possuem aproximadamente a mesma biocapacidade total, em torno de 1,2
bilhão de gha, representado, cada um, 10% da biocapacidade do Planeta. Mas por
conta do alto consumo, os EUA possuem uma Pegada Ecológica total que é
equivalente a 18% dos recursos naturais da Terra. Já a China, por conta da
enorme população, possui uma Pegada Ecológica total equivalente a 24% dos
recursos da biocapacidade da Terra. Mesmo sendo mais pobre, a China se
transformou no inimigo número 1 do meio ambiente global.
Desde a década de
1970 a Pegada Ecológica per capita dos Estados Unidos está mais ou menos
estável, mas a biocapacidade tem diminuído, o que tem aumentado o déficit
ecológico do país. Em 2009, houve uma queda da Pegada Ecológica per capita
americana por conta da crise econômica e o menor nível de atividade econômica.
Mesmo assim, historicamente, os Estados Unidos se transformaram no país que
causou os maiores danos à natureza e que mais impactou negativamente o meio
ambiente mundial.
Já a China tinha
superávit ambiental até a década de 1960, porém com o acelerado crescimento
econômico e com o intenso processo de urbanização e industrialização o Gigante
Asiático passou a ter o maior déficit ecológico do mundo. Quanto mais rica fica
a China, mais pobre fica o meio ambiente local e mundial. Mesmo durante a crise
econômica mundial de 2009, a China continuou elevando rapidamente a sua Pegada
Ecológica per capita.
Os dois grandes
poluidores poderiam dar uma inestimável contribuição ao mundo se chegassem a um
acordo na Conferência Internacional que vai ocorrer em Paris em 2015, a COP-21,
no sentido de construir um acordo que substitua o Protocolo de Kyoto, de 1997,
que teve resultados decepcionantes e foi incapaz de garantir a redução das
emissões dos gases de efeito estufa. A emissão de CO2 é um dos
principais componentes da Pegada Ecológica.
Considerando que o
nível da Pegada Ecológica está altamente correlacionada com o padrão de
consumo, verifica-se que a China tem um padrão de consumo per capita cerca de 3
vezes menor do que os EUA, mas agride mais o meio ambiente, pois tem uma
população cerca de 4 vezes maior.
Portanto, comete um
erro elementar aqueles que focam suas críticas apenas no tamanho da população
ou somente no tamanho do consumo. Para evitar o déficit ambiental é preciso que
o resultado da multiplicação do nível médio de consumo pelo número de
habitantes caiba dentro dos limites da biocapacidade de cada país. É preciso
considerar também os efeitos diferenciados da desigualdade social, pois as
elites consomem mais do que os trabalhadores, mas o impacto ambiental destes
últimos não é desprezível.
O fato é que EUA e
China são os dois maiores poluidores do Planeta e os dois países que mais
degradam o meio ambiente global. Como utilizam muito mais recursos ambientais
do que possuem, precisam buscar no resto do mundo a biocapacidade necessária
para sustentar suas populações e estilos de vida. A conjugação de alto consumo
e grande população, não necessariamente nesta ordem, é desastrosa para a
natureza, a biodiversidade e a continuidade da vida na Terra. Nem o modelo
americano e nem o modelo chinês são sustentáveis e precisam ser modificados,
pelo bem do Planeta. (ecodebate)
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