Um outro Dia Mundial do Meio Ambiente, mas com
desafios ainda maiores
C@rt@s Amig@s,
O tom irado com que diversos ambientalistas estão se
manifestando indica o nosso grau de frustração, mas também demonstra
desesperança e um alto grau de intolerância, indicando que estamos perdendo o
contato com alguns conceitos essenciais do ambientalismo. Não é e nunca foi
fácil ser ambientalista.
Acredito que, sempre que possível, devemos compartilhar
experiências e opiniões com nossos companheiros e é exatamente isto que estou
fazendo. Como o texto é longo, por ser uma reflexão pessoal, vocês decidem se
continuam a ler ou ignoram.
Muitos dos que participam das listas de discussão sobre meio
ambiente estão atuando no movimento ambiental há pouco tempo. Isto é bom porque
demonstra o crescimento da consciência ambiental, ao mesmo tempo em que traz
uma nova energia, de fundamental importância à causa ambiental e aos velhos
companheiros, que, pelo tempo de estrada, já estão cansados e céticos.
Acho que os “velhotes” ainda podem contribuir com as suas
experiências pessoais, assim como vários outros buscam fazer. Também tentarei
dividir minhas experiências e opiniões.
Em primeiro lugar, sugiro que tenhamos um extremo cuidado
com os “grandes temas” ambientais. Explico melhor, citando alguns “grandes
temas”: aumento da erosão e desertificação, atualmente estimada em mais de 20
milhões de hectares/ano; destruição das florestas tropicais na média de 10
milhões de hectares/ano; intensa redução da biodiversidade pela extinção de
centenas de espécies animais e vegetais por ano; crescimento populacional; etc.
Que podemos fazer para combater a erosão e desertificação ou
evitar a destruição das florestas tropicais, além de cuidar melhor de nossas
samambaias. Em que posso contribuir para combater a destruição das florestas
tropicais ou para evitar a extinção da rã arborícola da Costa Rica ou o Mico
Leão? Até podemos reduzir a nossa contribuição pessoal e familiar para o
crescimento populacional, mas e o vizinho?
O problema essencial ao grande tema é a sua dimensão global,
o que o torna paralisante. No nosso cotidiano pouco ou nada podemos fazer para
mudar estes desastres anunciados e por isto ficamos com a frustrante sensação
de que nada podemos fazer. No entanto existem centenas de ações que podemos
fazer diariamente e incontáveis mudanças de atitude e comportamento que podem
transformar a nossa qualidade de vida, logo contribuindo com a nossa
microscópica parte de responsabilidade nos grandes temas.
Citando Sêneca – “pequena
é a parte da vida que vivemos”. Mas, mesmo pequena, ainda há muito em
que podemos ajudar ou, no mínimo, atrapalhar menos.
Cada um de nós pode e deve fazer o que estiver ao seu
alcance. O resultado final, com a soma de todas a contribuições individuais,
será imenso, no mesmo conceito de bioconexão, tão importante para o equilíbrio
dinâmico da natureza.
O segundo passo é compreender que somos uma minoria e
pagamos o preço disto. O primeiro revide é a desqualificação. Todo
ambientalista minimamente sério já aprendeu a lidar com a desqualificação.
Recebemos os mais variados adjetivos – comunistas
viúvas de Stalin; órfãos do muro de Berlim;, mauricinhos neoliberais;
pequeno-burgueses, eco-chatos; românticos; piegas; elitistas; inimigos do
progresso; inimigos dos seres humanos; etc. Aliás, um dos que mais gosto
é o que diz que gostamos mais de bichos do que de gente e por isto não nos
importamos com as pessoas. Ainda assim e mesmo com estes adjetivos continuamos
nosso trabalho da melhor forma que conseguimos, porque realmente acreditamos no
que fazemos.
Em terceiro, está a compreensão da importância da nossa
própria diversidade e que ninguém é melhor do que o outro. Meio ambiente é um
tema transversal e multidisciplinar, razão pela qual direta ou indiretamente
interessa a todos, de acordo com as suas vocações e afinidades.
É por isto que tantos temas diferentes são discutidos e
debatidos. Simplesmente porque tudo se relaciona com o meio ambiente. Nós
escolhemos o que pessoalmente nos interessa ou não.
Não importa se atuamos na defesa dos animais, das florestas,
do ar, da água, dos gnomos e fadas… Repito que o importante é a soma de nossas
contribuições individuais. Acredito, sinceramente, que o resultado coletivo é
transformador.
No EcoDebate e na Cidadania & Meio ambiente, procuramos
manter nosso conteúdo centrado em temas ligados às questões socioambientais,
dosando cidadania e meio ambiente como questões centrais dos grandes debates. É
por isto que mantemos debate permanente sobre o modelo de desenvolvimento.
Neste sentido, destacamos nosso conceito base: “Compreendemos
desenvolvimento sustentável como sendo socialmente justo, economicamente
inclusivo e ambientalmente responsável. Se não for assim não é sustentável.
Aliás, também não é desenvolvimento. É apenas um processo exploratório, irresponsável
e ganancioso, que atende a uma minoria poderosa, rica e politicamente
influente. [Henrique Cortez, 2005]”.
Acreditamos firmemente na socialização da informação
socioambiental, razão pela qual o acesso ao conteúdo diário e ao banco de dados
de matérias e artigos é gratuito, de forma a contribuir para que nossos
leitores possam construir seus próprios conhecimentos e consciência crítica da
realidade.
Estamos, portanto, na mesma ‘trincheira’ que incontáveis
ativistas e militantes, que das mais diversas formas, estão empenhados na busca
de um outro mundo possível e necessário.
Em que pesem as diferenças de nossas “tribos”, acredito que
alguns pontos em comum nos unem:
*Acreditamos que somos responsáveis para com o nosso planeta
e para com as próximas gerações, para as quais temos a pretensão de deixar um
planeta melhor do que recebemos;
*Somos pacifistas e expressamos este compromisso para com a
paz, quer seja no oriente médio ou na nossa própria casa. É por isto que o
discurso agressivo é um equívoco, tal como incentivar as crianças a serem
“guerreiros da natureza”. Pior ainda os que acreditam nas ações destrutivas, como
os ecoterroristas, que felizmente são raros, mas, ainda assim, prestam um
inimaginável desserviço à causa ambiental.
*Além da biodiversidade, defendemos e respeitamos a nossa
própria diversidade, de raças, gêneros, cultura, opinião, expressão, pensamento
e opções pessoais. Temos o direito de experimentar e errar. A própria natureza
“experimenta” como demonstram as experiências evolutivas. Costumo brincar
dizendo que a natureza também faz rascunhos, citando como exemplo o
ornitorrinco.
*Somos democratas. Todo aquele que acredita que nossos
problemas possam ser resolvidos por decisões e ações autoritárias e
autocráticas presta um desserviço à causa ambiental e à sociedade como um todo.
Ninguém possui as respostas para tantos problemas complexos, cuja solução
exigirá a contribuição de todos.
*Por fim, nossa militância integra conceitos socioambientais
com fundamentos técnicos e metodologia científica. Ao mesmo tempo, temos que
compreender as nossas próprias limitações e que somente poderemos melhorar
nossa sociedade e o meio ambiente se realmente tentarmos melhorar a nós mesmos.
Como veem não é nada fácil ser ambientalista. Poucos
assuntos causam tanta polêmica quanto as questões socioambientais. Isto é
natural, tendo em vista a sua imensa complexidade e incontáveis desafios. Nosso
conhecimento técnico-científico ainda está sendo desenvolvido e até ser
completado, se é que isto acontecerá, teremos mais dúvidas do que certezas.
Existe uma estória, incorporada ao folclore científico, em
que Einstein entregou à secretaria da Universidade de Princeton as questões da
prova final de física. A funcionária da secretaria estranhou as perguntas
porque elas eram as mesmas da prova de três anos antes, ao que Einstein
respondeu que as perguntas eram as mesmas, mas as respostas agora eram outras.
Folclore à parte, isto é verdade em temas ambientais.
De qualquer forma, o debate é necessário porque, sendo um
tema multi e interdisciplinar, o meio ambiente exige grandes discussões.
Ninguém possui todas as respostas porque ninguém possui a total percepção de
todas as interações e implicações possíveis. É necessário pesquisar, analisar e
debater.
De um modo ou de outro, não podemos perder o contato com
alguns dos mais essenciais conceitos do ambientalismo. O respeito ao outro, por
exemplo. (ecodebate)
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