As enchentes urbanas
tem sua principal causa na incapacidade das cidades em reter suas águas de
chuva, o que as faz, pela impermeabilização generalizada de sua superfície,
lançar essas águas em enormes e crescentes volumes, e em tempos
progressivamente reduzidos, sobre um sistema de drenagem que não mais lhes
consegue dar a devida vazão. O excesso de córregos canalizados e o intenso
assoreamento por sedimentos, lixo e entulho que atinge todo o sistema de
drenagem urbana só fazem agravar o problema.
Bosque florestado
– Trianon S. Paulo
Não é por outro
motivo que o Coeficiente de Escoamento Superficial – parâmetro que expõe a
relação entre o volume das águas que escoam superficialmente sem infiltrar no
terreno e o volume total de uma chuva – nas grandes cidades brasileiras está
atingindo a escandalosa ordem de 80%. Ou seja, 80% do volume de uma chuva
pesada escoa superficialmente comprometendo rapidamente seu sistema de
drenagem. Inversamente, em uma floresta, ou um bosque florestado urbano, o CES
fica em torno de 20%; ou seja, cerca de 80% do volume de uma chuva torrencial é
retido pela floresta, alimentando em boa parte, por infiltração, o lençol
freático.
Fica claro que, ao
contrário do que gostam de afirmar nossos governantes, as enchentes urbanas não
acontecem por um eventual excesso de chuvas, ou, mais prosaicamente, por
vingança dos deuses, e muito menos como efeito do polêmico aquecimento global,
mas sim, liminarmente, pela absurda compulsão com que as cidades procuram
livrar-se de suas águas pluviais o mais rápido que possam.
Bosque florestado
– Campinas
Frente a esse claro
diagnóstico é estranho e inconcebível que os programas oficiais de combate às
enchentes, insistindo isoladamente nos dispendiosos projetos de ampliação das
calhas de nossos principais rios, não tenham até hoje implementado um arco de
medidas voltadas a recuperar a capacidade das cidades em reter suas águas de
chuva, ou seja, medidas que atacariam as enchentes em suas causas elementares.
Inúmeros são os
dispositivos e expedientes conhecidos para o aumento da retenção das águas de
chuva, como calçadas e sarjetas drenantes, pátios e estacionamentos drenantes,
valetas, trincheiras e poços drenantes, reservatórios para acumulação de águas
de chuva internos aos lotes, multiplicação dos bosques florestados na cidade,
etc. Todos devem ser implantados, pois será a somatória de seus efeitos que
propiciará os resultados hidrológicos esperados.
Como um bom exemplo,
por sua eficácia hidrológica e por seus enormes trunfos ambientais, vale
destacar a importância da multiplicação dos bosques florestados urbanos,
entendidos como espaços da cidade assemelhados a uma verdadeira floresta.
Comportar-se-iam como verdadeiros e virtuosos piscinões verdes, tão diversos
dos atuais deletérios piscinões, que comportam-se como verdadeiros agentes de
deterioração sanitária, ambiental e urbanística das cidades onde vem sendo
instalados.
Importante considerar
que para que os bosques florestados realmente cumpram um papel representativo
no combate às enchentes teriam que ser disseminados em profusão por toda a área
urbana, o que, do ponto de vista ambiental, já seria um espetacular ganho.
Muitas praças nossas, hoje praticamente sem árvores, inúmeros terrenos públicos
e privados totalmente abandonados, áreas urbanas demarcadas como APPs- Áreas de
Proteção Permanente, como também áreas internas de cemitérios, condomínios,
órgãos públicos, clubes, escolas, etc., poderiam ser transformados rapidamente
em bosques florestados. Incentivos fiscais ou de outra natureza poderiam ser direcionados
ao atendimento desse objetivo. Pode-se trabalhar na perspectiva de, ao final de
um determinado prazo, cada sub-bacia hidrográfica urbana passe a contar com um
mínimo de 12% de sua área total cobertos por pequenos, médios ou grandes
bosques florestados, o que, em termos hidrológicos, significaria reduzir,
somente via esse expediente, em cerca de 10% ou mais o volume pluvial que escoa
hoje para o sistema de drenagens urbanas colaborando para a ocorrência de
enchentes. (ecodebate)
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