Apesar do
investimento bilionário, evento deve ter influência apenas pontual em alguns
setores, como o de turismo. Entre os motivos, investimentos em infraestrutura
que não saíram do papel e excesso de feriados.
Quando o Brasil
recebeu a confirmação de que sediaria a Copa do Mundo, uma das grandes
expectativas era que o evento poderia aquecer a economia e, de alguma forma, se
refletir no Produto Interno Bruto (PIB). Mas, a cerca de 100 dias para o
pontapé inicial, tudo indica que o efeito do Mundial será menor que o esperado.
A expectativa era tão
grande que o Itaú Unibanco divulgou em julho de 2011 um estudo afirmando que o
Mundial traria um impacto positivo de 1,5 pontos percentual no PIB nos três
anos seguintes. Porém, em dezembro de 2013, o banco diminuiu a previsão para
cerca de um ponto percentual.
Um dos motivos para o
impacto no PIB ser menor é o baixo investimento na infraestrutura das cidades-sedes
– não há estimativa oficial, mas o total deve ser inferior aos cerca de 33
bilhões de reais divulgados em estudo do Ministério do Esporte em março de
2010. Além disso, colaboram negativamente o atraso em obras e projetos que nem
sequer vão sair do papel.
“Os projetos que eram
importantes para a sociedade e que efetivamente iriam impactar positivamente na
economia depois da Copa não existem”, afirma José Matias-Pereira, professor de
administração pública da UnB. “Se principalmente os projetos de mobilidade
tivessem saído do papel, o reflexo no crescimento do PIB seria muito maior.”
Matias-Pereira
explica que o grande investimento em estádios – considerados por ele uma
infraestrutura não produtiva e que não gera efeitos positivos na economia –
deve ocasionar enormes custos de manutenção para o governo e anular parte dos
ganhos que foram gerados para o país, por exemplo, no setor de construção
civil.
Feriados
De acordo com a Lei
Geral da Copa, o governo federal pode declarar feriado nacional nos dias em que
houver jogo da seleção brasileira. Estados e cidades-sede poderão fazer o mesmo
em dia de qualquer partida que receberem. Apesar de muitos governantes ainda
não terem decidido o que vão fazer, o impacto das seguidas pausas será grande
para empresários e a economia.
Por causa de
feriados, empresários e economia brasileira deverão perder 30 bilhões de reais
A Federação do
Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP)
divulgou recentemente um estudo que avalia o impacto dos 64 feriados previstos
nas cidades-sedes – sete deles, na hipótese de o Brasil chegar até a semifinal,
serão feriados nacionais. A produção brasileira, segundo a pesquisa, pode
sofrer em um mês perda de até 30 bilhões de reais.
“Se por um lado você
tem o aquecimento, por outro você verifica o desaquecimento. Se você tem uma
indústria e vai ser feriado, você vai ter que pagar hora dobrada para o
funcionário trabalhar ou vai ter que fechar a fábrica neste dia e vai produzir
menos”, diz Samy Dana, economista da FGV.
Ele explica, ainda,
que mesmo que alguns setores como hotelaria e restaurantes sejam aquecidos
pontualmente por causa do turismo, o estímulo não será suficiente para
compensar as perdas geradas por causa dos feriados.
“A Copa, em termos
econômicos, não deverá ser compensada. Deve haver um ou outro setor
beneficiado, mas, em regra, o evento não impulsiona o PIB”, diz.
Efeito negativo
Outro estudo, do
pesquisador Stefan Szymanski, da Universidade de Michigan (EUA), mostra que o
fato de um megaevento como a Copa não impulsionar o PIB de um país não deve ser
um problema exclusivo do Brasil. Ele analisou os dados do PIB entre 1972 e 2002
das maiores 20 economias do mundo, muitas das quais receberam um Mundial.
De acordo com
estudo, Mundial não impactou de forma positiva todos os países que o receberam
A conclusão foi que o
Mundial provoca um impacto negativo no PIB de 0,09% no ano seguinte à sua
realização. Já nos anos anteriores e no ano em que o evento é realizado, a
variação foi muito pequena e não apresenta uma melhora significativa nos
indicadores econômicos.
Gilberto Braga,
professor de finanças do Ibmec/RJ, lembra que uma Copa realizada em países
abaixo da linha do Equador é diferente de um evento na Europa, sobretudo em
países onde há outro nível de desenvolvimento social e econômico. Além disso,
nesses países que já têm uma estrutura consolidada não foi necessário
investimentos estruturais, como no Brasil, para receber o megaevento.
“Há indução ao
crescimento do PIB. No Brasil praticamente tivemos a construção e reforma de 12
estádios e isso produz um grande impacto, pois gera demanda agregada em uma
série de setores ligados à construção civil”, diz Braga. “O impacto só não será
maior por conta da fragilidade da economia brasileira.” (ecodebate)
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