Depois do Cantareira, estiagem agora ameaça volume do
Sistema Alto Tietê
Segundo maior reservatório, que abastece 4 milhões na
capital e Grande São Paulo, está com pior nível pré-inverno em 10 anos – 29% da
capacidade; no mesmo ritmo de queda do Cantareira, sistema já perdeu 15,4%
desde fevereiro.
Alto Tietê/SP atinge seu pior nível pré-inverno em dez anos
Considerada a solução emergencial mais eficiente para suprir
a crise do Sistema Cantareira, a transferência de água de outros mananciais
para socorrer bairros da capital está delineando um novo cenário crítico no
segundo maior sistema da Grande São Paulo. Com seu pior nível pré-inverno em
dez anos, o Alto Tietê – que abastece 4 milhões de habitantes – registra queda
diária com a mesma velocidade do Cantareira e corre o risco de secar ainda
neste ano, segundo estimativa de especialista na bacia hidrográfica.
Desde fevereiro, quando a Companhia de Saneamento Básico do
Estado de São Paulo (Sabesp) passou a remanejar água dos Sistemas Alto Tietê e
Guarapiranga para cerca de 1,6 milhão de pessoas que eram atendidas pelo
Cantareira, o Alto Tietê perdeu 15,4 pontos porcentuais, chegando a 29% da
capacidade em 13/06/14. No período, o Cantareira caiu 16,2 pontos e estava
com 23,3% de armazenamento nesta sexta por causa do uso do “volume morto”.
Apenas o Guarapiranga subiu, graças às chuvas de março.
Os dados da Sabesp mostram que não foram só os reservatórios
do Cantareira que sofreram com a falta de chuva no verão. Nas cinco represas do
Alto Tietê, distribuídas entre Suzano e Salesópolis, região leste da Grande São
Paulo, o índice pluviométrico também ficou mais de 30% abaixo da média
histórica entre fevereiro e maio. Enquanto reduziu a retirada de água do
Cantareira em quase 10 mil litros por segundo, porém, a Sabesp manteve a
produção de 15 mil litros do Alto Tietê e pretende avançar mais com a produção
do sistema na capital.
“Estamos perdendo por dia 12 mil litros por segundo. Se
continuar assim, o volume do Alto Tietê acaba em 150 dias e, pelo que sei, aqui
não temos volume morto significativo para explorar. Estamos indo para o brejo
do mesmo jeito e ninguém fala nada”, afirma o engenheiro José Roberto Kachel
dos Santos, membro do Comitê da Bacia do Alto Tietê. Temendo o agravamento da
situação, o grupo decidiu criar uma Câmara Técnica de Monitoramento Hidrológico
semelhante ao grupo anticrise que acompanha a estiagem do Cantareira.
Para quem sobrevive das represas do Alto Tietê, a seca já
traz prejuízos. “Estou há 14 anos aqui e é a segunda vez que vejo uma seca
dessas. Os peixes já estão sumindo. Bagre, por exemplo, você já não encontra
mais. E os clientes também, porque a represa baixou demais”, disse o pescador
Moacir Natalício de Brito, de 59 anos, dono de um bar às margens da Represa
Jundiaí, em Mogi das Cruzes, lembrando-se da seca na região entre 2003 e 2004.
Rodízio? Segundo a Sabesp, a transferência de água de outros
sistemas foi responsável por 47% da redução de produção de água do Cantareira,
que caiu de 31,7 mil litros por segundo para 22,9 mil. Outros 25% foram obtidos
com a diminuição da pressão na rede, que tem provocado falta d’água em bairros
altos e periféricos, e 28% com a economia no consumo pela população. Com essas
medidas, afirma a companhia, “evitou-se rodízio de 36 horas com água e 72 horas
sem água”.
Mas três dias antes de tornar pública a crise do Cantareira,
no dia 27 de janeiro, a Sabesp afirmou, em uma nota técnica na qual defendia a
manutenção das regras da outorga do manancial, que uma atualização recente dos
estudos feitos para implementar um rodízio de 48 horas com água e 24 horas sem
durante a crise de 2004 do Cantareira aponta que, com vazão em 28 mil litros
por segundo, “haveria a implementação de um rodízio administrável para 9
milhões de habitantes”. Abaixo dessa vazão, continua, “teríamos consequências
imprevisíveis para o atendimento dos 20 milhões de habitantes da região”.
Isso significa que antes da atual crise a Sabesp admitia que
uma redução do volume do Cantareira levaria a um “rodízio administrável”, que
foi descartado pela companhia e pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB) no mês
seguinte. Para o coordenador do Programa Água para a Vida da organização
ambientalista WWF-Brasil, Glauco Kimura, a nota da companhia mostra uma
contradição entre o “discurso técnico e a decisão política” adotada na crise.
“Decisões técnicas dificilmente são respeitadas, ainda mais
em momentos de crise. Não sei se é por causa do ano eleitoral que o governo não
quis adotar uma medida sensível. O fato é que ainda estão apostando nas chuvas,
o que é muito incerto e arriscado”, disse.
Crise hídrica em São Paulo já dura 140 dias
- Estiagem
No fim de janeiro, a Sabesp anuncia seca histórica do
Cantareira, a pior em 84 anos, e inicia ações para evitar o rodízio, como
reversão de água e desconto em contas.
- Gravidade
Chuvas não chegam em março e queixas de falta d’água
crescem. Em maio, Geraldo Alckmin inicia a captação inédita e polêmica do
volume morto do manancial.
- Incerteza
Cálculos apontam que parte da reserva profunda pode acabar
em outubro e o déficit de água já começa a ameaçar em junho o Sistema Alto
Tietê. (OESP)
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