Falta de água pode piorar no Nordeste e em São Paulo, dizem especialistas
A situação de
abastecimento de água no semiárido brasileiro e na região metropolitana de São
Paulo pode piorar entre 2014 e 2015. Foi o que afirmaram em 04/06/14 o
diretor-presidente da Agência Nacional de Águas, Vicente Andreu Guillo, e o
secretário-executivo do Ministério da Integração Nacional, Irani Braga Ramos em
audiência pública realizada pela Comissão de Serviços de Infraestrutura (CI),
sob a presidência do senador Wilder Morais (DEM-GO).
Requerida pelo
senador Jorge Viana (PT-AC), a audiência pública teve como tema de debate a
escassez de água no país e as medidas para evitar o racionamento. Viana
lamentou a ausência de representantes do Ministério das Cidades e da Companhia
de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp).
Os convidados da
audiência mostraram que a situação de abastecimento de água tanto no semiárido
nordestino como na região metropolitana de São Paulo pode piorar, pois a
perspectiva é de pouca chuva para este ano. O senador Jorge Viana disse que
teme uma grande crise em São Paulo e ressaltou que a sociedade tem que
contribuir, evitando o desperdício de água.
- Se o problema da
falta de chuva seguir em São Paulo, não tem saída. Vai ter mais do que
racionamento, vai ter uma grave crise enfrentada. É a conclusão que eu tiro
dessa audiência – disse.
Os senadores Inácio
Arruda (PCdoB-CE) e José Pimentel (PT-CE) afirmaram que falta planejamento
estratégico no Brasil para enfrentar os problemas de abastecimento de água.
Inácio Arruda e Eduardo Suplicy (PT-SP) defenderam a obra da transposição do
Rio São Francisco.
- Hoje é uma obra
fascinante do ponto de vista da engenharia e um socorro que é dado ao Nordeste
como garantia de que nós não vamos passar sede na nossa região. 12 milhões de
pessoas não é pouca coisa - afirmou Inácio Arruda.
Água em São Paulo
Vicente Guillo
explicou que, para o abastecimento de água da população, não basta apenas
chover, mas a chuva tem que cair no lugar certo, ou seja, no reservatório. Ele
apontou ainda a dificuldade de gestão do abastecimento de água devido à
interligação entre rios e reservatórios estaduais e federais entre si.
- O potencial de
geração de conflitos sobre essa questão é muito maior do que a eventual e
positiva colaboração federativa. Nós achamos que nós precisaríamos de um
arranjo na Constituição em relação a esse tema - opinou Guillo.
Guillo explicou que o
complexo de reservatórios do Cantareira é formado por cinco reservatórios e
responsável por quase 50% do abastecimento de água da região metropolitana de
São Paulo. Segundo ele, o complexo de reservatórios que, em 2010 chegou ao seu
máximo, inclusive causando enchentes, no final do ano passado até fevereiro de
2014, ficou vazio devido ao baixo volume de chuvas.
- No dia de hoje, o
reservatório interligado dos rios Jaguari e Jacareí, o maior deles todos,
chegou ao seu zero operacional. Então, a situação se agravou sobremaneira - disse.
O diretor presidente
da ANA observou, no entanto, que o volume morto do complexo do Cantareira é
diferente do volume morto da maioria dos reservatórios do Brasil, onde a água
fica ali parada, sem uso. No caso do Cantareira, há duas saídas da água: uma
superficial para o abastecimento da população e outra por baixo para abastecer
os rios do Piracicaba, para a região de Campinas. Então, há uma grande
circulação de água, inclusive no volume morto.
- Aqueles alertas,
que são sempre positivos, de que esse reservatório tinha uma água parada, que o
volume morto era uma água estagnada, sem circulação, não corresponde à
realidade desse reservatório – disse.
Para Guillo, o
problema de abastecimento de água de São Paulo teve três causas. A primeira foi
a seca anormal, fora de qualquer padrão já registrado. A segunda seriam as
obras não executadas no passado, como duas barragens na região de Campinas que
não foram feitas porque apenas gerariam segurança hídrica. E a terceira, a
ausência de uma regulação mais efetiva, com critérios objetivos.
Ele explicou que, no
momento, a Sabesp propõe manter um fornecimento de água que seja confortável
para a população. No entanto, há o risco de, se não chover no reservatório, a
água não ser suficiente e a Sabesp ter de usar o volume morto.
- Na nossa visão,
essa proposta precisa ser ponderada pela vazão afluente, ou seja, se chegar
menos água, qual a consequência de se manter essa vazão de 31, essa retirada de
21 m3/seg para São Paulo? Vai ter como consequência, e isso está no
próprio estudo da Sabesp, que a água existente no reservatório mais o volume
morto de 180 m3não será suficiente – afirmou.
Semiárido nordestino
Em relação ao
semiárido nordestino, Guillo disse que, dos 507 reservatórios existentes na
região, monitorados pela ANA, quase 50% apresentam menos de 30% de sua
capacidade. Ele explicou que a situação deste ano pode ser mais grave do que a
do ano passado, pois os reservatórios não foram plenamente recuperados.
- Estamos chegando a
uma situação, agora, em 2014, que é equivalente, na maioria dos casos mais
graves, à situação que enfrentávamos no ano de 2013 para 2014, ou seja, há uma
situação que merece um acompanhamento de toda sociedade brasileira - afirmou.
Além disso, o diretor
presidente da ANA afirmou que as previsões meteorológicas não são boas, podendo
haver o fenômeno climático do El Niño, que provoca seca nessa região.
O
secretário-executivo do Ministério da Integração Nacional, Irani Braga Ramos,
disse que, no semiárido brasileiro, em cerca de 600 dos 1.300 municípios, as
chuvas serão menores do que a média histórica segundo dados preliminares dos
meteorologistas.
Ele afirmou que o
governo federal está fazendo uma série de ações para garantir a segurança
hídrica da região. Entre elas, a Operação Carro-pipa, com mais de 6 mil
pipeiros para 792 municípios, e o Programa Água para Todos, que tem uma meta de
construir 750 mil cisternas até o final do ano.
- Estamos com um
indicativo muito forte de que a meta será atingida. Já temos quase 600 mil
cisternas - disse.
Ramos afirmou que a
grande obra que o governo tem para garantir a segurança hídrica é a
transposição do Rio São Francisco. Segundo ele, as obras, que estão com cerca
de 11 mil funcionários trabalhando em ritmo muito forte, devem ser finalizadas
no final de 2015. (ecodebate)
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