Debate sobre crise da água alerta para ameaça de
desertificação da Região sudeste
Preservação da Floresta Amazônica e recuperação das nascentes dos rios,
das áreas de mananciais e das matas ciliares são medidas defendidas pelos
participantes do evento “Crise da água: desafios e soluções”.
“Sem a grande Floresta Amazônica,
o destino climático de São Paulo é um deserto.” O alerta é do pesquisador do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Antonio Donato Nobre, que
participou em 03/06/14 em São Paulo, do debate “Crise da água: desafios e
soluções”.
Ao apresentar dados do estudo “Rios voadores”, Nobre explicou aos
participantes a relação existente entre a cobertura vegetal da Região Norte e o
clima do Sudeste. “Temos aqui [no Sudeste] dois fatores de sorte: um chama-se
Cordilheira dos Andes e o outro é a Floresta Amazônica”, relatou ele, para, em
seguida, complementar: “Por isso, que nossa região não é um deserto, como
acontece na Namíbia e no Kalahari [regiões desérticas da África situadas na
mesma faixa de latitude do Sudeste brasileiro]”.
Para o pesquisador do INPE, o “pesadelo” é que o desmatamento acumulado
da Região Amazônica, até 2013, atingiu 779.930 km2. “Essa é a área somada da
França e Alemanha”, comparou. O desmatamento, segundo Nobre, tem provocado o
declínio no volume das chuvas constato nos últimos 32 anos no Sudeste e a sua
continuidade poderá provocar a desertificação da região. “A vida no deserto é
um pesadelo, e isso que estamos construindo: um deserto de grande magnitude”,
argumentou.
Por fim, ele convocou a sociedade e os governos a agirem rapidamente
para reverter o processo em curso. “A complacência é nosso pior inimigo.
Precisamos de um grande esforço de guerra”, sentenciou.
Promovido por Rede Nossa São Paulo, Programa Cidades Sustentáveis,
Instituto Ethos e Instituto Socioambiental (ISA), com o apoio da Escola
Superior do Ministério Público do Estado de São Paulo, o debate contou com a
participação de outros especialistas sobre o tema.
O tom de alerta para a gravidade da crise da água esteve presente desde
a abertura do evento. Jorge Abrahão, presidente do Instituto Ethos, falou da
preocupação com falta de água e com a forma pouco efetiva com que os governos
têm enfrentado o problema.
Oded Grajew, coordenador geral da Rede Nossa São Paulo e do Programa
Cidades Sustentáveis, considerou a situação muito grave. “Nossa
responsabilidade [da sociedade civil] é alertar para tentar evitar desastres
maiores. Estamos consumindo mais do o planeta tem condições de repor”, avaliou.
Apresentações dos debatedores
A situação dos mananciais em São Paulo foi apresentada por Marússia
Whately, assessora do Instituto Socioambiental (ISA). “Já tem vários municípios
com racionamento de água para que a cidade de São Paulo não passe por esta
situação”, informou.
Ela denunciou que o entorno do Sistema Cantareira está quase
completamente desmatado e apresentou “sugestões para construir um futuro
sustentável e seguro para a água na Metrópole Paulistana”. Entre as propostas
estão: adotar o racionamento; qualificar o consumo: doméstico, industrial,
irrigação e definir prioridades; e recompor a vegetação dos mananciais
(começando pelas cabeceiras).
Em seguida, Marco Antônio dos Santos, diretor técnico e operacional da
SANASA, empresa municipal de saneamento de Campinas, citou alguns fatores
causadores da crise da água.
Rodrigo Sanches Garcia, promotor de Justiça do Grupo de Atuação Especial
e Defesa do Meio Ambiente do Ministério Público, abordou as regras legais do
sistema hídrico. Segundo ele, desde 1990 foram elaborados quatro planos
hídricos e só um virou lei.
O especialista em recursos hídricos, Sérgio Rodrigues Ayrimoraes Soares,
que representou a Agência Nacional de Águas (ANA) no debate, apresentou a situação
dos recursos hídricos do Brasil.
Maurício Broinizi, coordenador executivo da Rede Nossa São Paulo,
relatou boas práticas de diversa cidades na área de preservação da água. Ele
também defendeu a aprovação do Projeto de Lei 792/2007, que cria a Política
Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais e prevê um fundo federal para
financiar programas de recuperação do meio ambiente.
Ao final do encontro, os participantes puderam fazer perguntas aos
debatedores.
Manifesto “Por maior transparência nas questões da água”
Durante o evento, o coordenador geral da Rede Nossa São Paulo, Oded
Grajew, leu o manifesto “Por maior transparência nas questões da água”, que
ficará aberto a novas adesões por alguns dias e, posteriormente, será
encaminhado ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.
O documento propõe, entre outras medidas, a transparência total nos
dados para manter a sociedade informada sobre a real condição dos reservatórios
e das ações que será necessário adotar, mesmo em caso de chuvas, respondendo as
seguintes perguntas: “Qual o impacto do uso do volume morto na qualidade da
água e na saúde pública? A solução de usar a capacidade de outros sistemas pode
dar conta das necessidades de todos aqueles que dependem das bacias que serão
interligadas? E por quanto tempo? Caso o regime de chuvas do próximo verão seja
semelhante ao do verão passado, existe algum plano de emergência para a cidade?
Esse plano, se existir, não deveria começar a ser adotado desde agora?”.
(ecodebate)
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