Dilma Pena admitiu que ‘superiores’ impediram campanhas de
racionamento na mídia.
Ações da Sabesp para economia de água foram barradas
A presidente da Companhia de Saneamento Básico do Estado de
São Paulo (Sabesp), Dilma Pena, admitiu em uma reunião interna da companhia que
seus "superiores" barraram ações na mídia para estimular a população
de São Paulo a economizar água. Em áudios obtidos pelo jornal O Estado de
S.Paulo, a executiva diz que gostaria de informar aos paulistas
"reiteradamente" sobre a necessidade de consumo racional, mas tem de
seguir orientação contrária.
A gravação, de um minuto e 18 segundos, é de uma discussão
administrativa entre a diretoria da Sabesp e o Conselho de Administração sobre
estratégias de comunicação. Durante o encontro, Dilma diz que a companhia de
abastecimento deveria aparecer mais na mídia, em veículos como rádios
comunitárias, o que não estava ocorrendo contra sua vontade.
"Acho que, por uma orientação superior, a Sabesp tem
estado muito pouco na mídia. Acho que é um erro", reclamou, citando os
superintendentes da empresa e ela própria como potenciais porta-vozes.
Segundo ela, a mensagem "Cidadão, economize água"
deveria estar "reiteradamente na mídia". "Mas nós temos de
seguir a orientação. Nós temos superiores. A orientação não tem sido essa. Mas
é um erro, é um erro", repetiu.
Questionada, a Sabesp confirmou a reunião, mas não quis
precisar a data e quem seriam os superiores. O jornal O Estado de S.Paulo apurou
que ela ocorreu em agosto.
A presidente da empresa diz estar ciente de que a estratégia
de comunicação é equivocada. Na gravação, a palavra "erro" é repetida
quatro vezes ao se referir à falta de divulgação. "Tenho consciência
absoluta e pauto as pessoas com quem eu converso sobre esse tema, mesmo os meus
superiores", insistiu ela.
Mas em fevereiro deste ano, a Sabesp lançou o programa de bônus
para estimular a população a economizar, remanejou água de outros sistemas,
incluindo Alto Tietê e Guarapiranga, e reduziu a pressão da água na rede à
noite. A ação de comunicação da Sabesp incluiu, assim, o estímulo a medidas de
restrição de consumo de água, que já vinham sendo discutidas.
Nos últimos dias, a crise da água entrou na propaganda de TV
da presidente Dilma Rousseff, candidata do PT à reeleição, com o objetivo de
desgastar o modelo de gestão tucana e recuperar terreno no eleitorado paulista.
No horário eleitoral, a presidente ligou o PSDB do adversário Aécio Neves à
falta de planejamento. O governador Geraldo Alckmin (PSDB) foi reeleito no primeiro
turno, em 05/10.
Em sua propaganda, Dilma Rousseff disse que o PT está
"há dez anos" alertando o PSDB sobre o problema. "É preocupante
e também muito triste saber que os brasileiros que vivem em São Paulo, Estado
mais rico do país, estão passando por uma crise de falta de água sem
precedentes na sua história", comentou a candidata do PT.
Em 15/10, em depoimento à CPI da Sabesp na Câmara Municipal,
Dilma Pena afirmou que a empresa tem disponibilidade suficiente para abastecer
a população até meados do mês que vem.
Dilma participou apenas da primeira parte da reunião, quando
foi discutida a estratégia de comunicação da companhia. Em outro trecho de
gravação obtido pela reportagem, da segunda parte do encontro, quando Dilma
estava ausente, o diretor metropolitano da Sabesp, Paulo Massato, reconheceu
que o governo enfrenta "ações desafiadoras" para prolongar a vida
útil do Sistema Cantareira e "esticar um pouco mais" o abastecimento
de água e disse que as pessoas deviam "tomar banho com água mineral".
"(...) Porque se repetir o que aconteceu este ano, de
final de 2013, de outubro pra cá, se voltar a repetir em 2014, confesso que não
sei o que fazer, tá certo?", desabafou o diretor, definindo a situação
como "uma agonia".
Ele aconselhou os presentes a saírem de São Paulo e tomarem
banho com "água mineral" ou na casa de parentes. "Não vai ter
água para o banho, não vai ter água para a limpeza da casa. Quem puder compra
garrafa água mineral, tá certo? Quem não puder, vai tomar banho na casa da mãe,
lá em Santos, lá em Ubatuba, em Águas de São Pedro, sei lá. Aqui não vai ter",
adiantou
Outro lado
Procurada pelo jornal O Estado de S.Paulo, por telefone,
Dilma reagiu, com tom de irritação: "Isso não existe. Isso aí é uma coisa
muito complicada. Não sei do que você está falando". Em seguida, pediu
para que questionamentos fossem feitos aos assessores de comunicação.
A assessoria de imprensa da Sabesp informou, em nota, que o
objetivo da reunião de Dilma "foi de ampliar ao máximo as ações de
comunicação para o uso racional da água junto aos funcionários da
companhia". A empresa alegou que sua comunicação é feita "de forma
autônoma", com decisões tomadas "no âmbito da companhia".
"Naquele momento, a diretoria da Sabesp discutia com o
conselho de administração (órgão superior) a estratégia de comunicação",
acrescentou.
Sobre as declarações do diretor, a Sabesp informou que,
também naquele momento, "a diretiva era diminuir ao máximo a dependência
do Sistema Cantareira".
"O contexto era de convencer, de forma contundente, os
gerentes operacionais da companhia da necessidade de redução. A estratégia tem
dado certo. A dependência do Cantareira diminuiu de 9 milhões para 6,5 milhões
de pessoas, uma redução de cerca de 30%", explicou. (yahoo)
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