Há queixas em todas as regiões; algumas relatam
desabastecimento pela primeira vez no ano; Sabesp fala em ‘processo de
normalização’
Pelo menos um em cada quatro
distritos da capital paulista já registra falta d’água. É o que mostra um
levantamento feito pelo Estado nesta semana, com base em visitas e queixas da
população. A reportagem constatou desabastecimento em parte de 26 dos 96
distritos de São Paulo. O número de bairros com reclamações passa de 30 e
alguns relataram desabastecimento pela primeira vez no ano.
A Companhia de Saneamento Básico do
Estado de São Paulo (Sabesp) afirmou, em nota oficial, que o abastecimento de
água “já está em processo de normalização”. “As altas temperaturas e a baixa
umidade do ar (nível desértico), aliadas à redução na disponibilidade de água,
provocaram uma série de problemas de abastecimento. A seca histórica, com
temperaturas recordes, levou à redução dos níveis dos reservatórios e à
consequente limitação de retirada da água imposta pela ANA”, continua o
texto.
Dono de um restaurante em Santana,
zona norte, Ivan Debastiani teve de comprar água de um caminhão-pipa
A Sabesp ainda alega
“possibilidades limitadas de operação, o que fica mais patente em horários de
pico, dias muito quentes e quando há problemas técnicos no sistema, como o que
ocorreu no Reservatório Campo Belo, que afetou boa parte da região sul no
início da semana”.
Queixas pelo 2° dia seguido em
todas as regiões. Pelo segundo dia seguido, moradores que não haviam sido
afetados pela falta d’água passaram a conviver com torneiras vazias. Bairros
como Barra Funda, Brasilândia, Consolação, Cidade Dutra, Morumbi, Campo Belo e
Itaquera já colecionam reclamações. Houve problemas sobretudo nas zonas norte e
sul, por causa de “acidentes no fornecimento”, segundo a Sabesp.
Em 15/10 as torneiras que usam água
da rua da casa da educadora Paula Fernandes Camargo Fonseca, de 31 anos, só
faziam barulho de ar. Ela mora na Saúde, zona sul. “Dias 9 e 10/10, não tinha
água à tarde.” A Sabesp não comentou o caso.
Já nos elevadores de um edifício na
Rua Antônio Carlos, próximo da Avenida Paulista, na região central, o anúncio
foi feito em 14/10/14: “é preciso economizar água”. A Tecad, imobiliária que
administra o condomínio, disse que está fazendo um racionamento preventivo.
Procurada, a Sabesp informou que
houve um rompimento de tubulação na Rua Doutor Fausto Ferraz, na Bela Vista, a
1,5 quilômetro do edifício. E isso poderia ser a causa da pouca quantidade de
água.
Segundo o superintendente de
produção de água da Região Metropolitana de São Paulo, Marco Antônio Lopes
Barros, essa situação do Campo Belo e também o rompimento de uma tubulação na
região da Avenida Paulista foram resolvidos rapidamente, mas o alto consumo e a
limitação de retirada de água tornam bem mais lenta a normalização dos
sistemas.
“Mas os moradores terão o
abastecimento regularizado nos próximos dias”, afirmou Lopes Barros.
Quando a água falta nas torneiras,
a preocupação da dona de casa Se uma Tenório, de 54 anos, é uma só: a filha,
Denise Pires, de 26, que tem paralisia cerebral. Com uma lesão no cérebro,
Denise sofre convulsões constantemente, que podem até provocar refluxo. “Se
vomitar, não vou ter como limpar”, diz a mãe.
Seuma mora na Vila Espanhola, na
zona norte de São Paulo, um dos dez bairros afetados por uma obra emergencial
da Sabesp em 15/10/14. De acordo com a companhia, cerca de 20 mil pessoas
tiveram o abastecimento prejudicado para que uma válvula fosse trocada na Rua
Antonio Pereira Souza, em Santana.
Em relação a outros bairros com problemas
nas regiões central, leste e oeste, a Sabesp não deu informações. Em 14/10,
em nota oficial, admitiu a possibilidade de falhas em “alguns pontos altos e
distantes”.
Branco
Há quem relate problemas mais
antigos. A copeira Sandra Andrade Barbosa, de 46 anos, sofre com a falta de
água há “pelo menos três meses”. Ela mora na Rua Virajuba, na Brasilândia, zona
norte. “Quem não tem caixa tem de se virar com baldes”, afirma.
Já o supervisor de operações Márcio
Garrutti, de 26 anos, morador de Itaquera, zona leste, afirmou que há um mês o
problema se intensificou e passou a ser registrado quase todos os dias. E
quando a água começa a chegar, de manhã, vem esbranquiçada, o que impede o uso
normal. “Isso afeta nossa qualidade de vida.”
O mesmo ocorre no Rio Pequeno, zona
oeste, segundo o administrador de empresas Manoel Fernandes, de 39 anos. (OESP)
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