Ministério Público quer preservar água do Cantareira para
2015, diz especialista da Unicamp
Reserva técnica do
Sistema Cantareira
A ação dos
ministérios públicos (MP) Estadual e Federal para coibir a retirada de mais
água do Cantareira pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo
(Sabesp) tenta evitar um colapso do sistema no próximo período de seca, em
2015, segundo o professor de hidrologia e recursos hídricos da Universidade de
Campinas (Unicamp), Antônio Carlos Zuffo.
“O MP está preocupado
com o ano que vem, porque agora entramos no período chuvoso, apesar de não ter chovido
muito. Mas se os reservatórios não tiverem uma recuperação dos seus volumes até
abril do ano que vem, quando começa o próximo período seco, nós não teremos
água, teremos desabastecimento”, disse o especialista.
O volume útil do
Cantareira acabou em maio e, desde então, a água vem sendo bombeada da reserva
técnica, o chamado volume morto. A Sabesp quer agora captar ainda mais água,
utilizando a segunda cota dessa reserva, o que aumentaria em 10,7% a
capacidade do Cantareira.
A ação judicial
lembra que a falta de água pode trazer riscos à saúde pública, impactos ao meio
ambiente e impactos à indústria, à agricultura e à economia. A Sabesp, por sua
vez, informou apenas que “a ação judicial parte de pressupostos que não são
corretos e que vêm sendo esclarecidos”, diz a nota da companhia.
Segundo Zuffo, é
impossível prever, no próximo período chuvoso, quanto vai chover e isso
prejudica qualquer garantia de que não faltará água no futuro. “Esperamos uma
chuva na normalidade, mas se vier abaixo, isso comprometerá a recuperação dos
reservatórios e, no ano que vem, teremos um volume menor que o deste ano, em
que já estamos em crise”, disse.
Em 05/10/14 o
governador reeleito de São Paulo, Geraldo Alckmin, descartou mais uma vez a
necessidade de racionamento de água. Para Zuffo, no entanto, houve erro na
gestão dos reservatórios, pois a outorga do Cantareira estabelecia que uma
espécie de racionamento deveria ter sido adotada desde janeiro, quando o
sistema atingiu 27% da capacidade.
“Existe um
instrumento na Portaria 1.213, de 2004, em conjunto entre a ANA [a Agência
Nacional de Águas] e o Daee [Departamento de Águas e Energia Elétrica],
da renovação da outorga do sistema que previa a utilização de uma curva de
aversão ao risco. As vazões liberadas deveriam obedecer a um limite de acordo
com o volume dos reservatórios. Esse instrumento simplesmente foi ignorado este
ano. Em janeiro, já estávamos com 27% do volume, não poderíamos estar tirando
mais de 30 metros cúbicos por segundo, já estávamos em uma situação de alerta
por causa dos níveis muito baixos”, disse ele.
De acordo com a ANA,
a vazão liberada para a Sabesp em 07/10 chegou a 17,27 m3 por
segundo, reduzida desde o início do ano, conforme aumentava a escassez de água.
“Se essas curvas de aversão ao risco tivessem sido utilizadas, nós ainda
estaríamos com volume positivo. Estaríamos numa situação muito mais confortável
do que estamos hoje”, destacou Zuffo. (ecodebate)

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