Presidente da Sabesp admite que água do Cantareira pode
acabar em novembro
Se seca continuar, água acaba em novembro, admite Sabesp
Presidente da Sabesp diz que Justiça Eleitoral barrou
propagandas e que não podia falar a palavra ‘seca’ e sobre gravidade da
situação.
A presidente da
Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), Dilma Pena,
admitiu em 15/10/14, que a água vai acabar na capital “em meados de novembro”,
caso o regime de chuvas se mantenha baixo. Para evitar o desabastecimento
generalizado, ela disse contar com o aumento das precipitações e com a segunda
cota do volume morto do Sistema Cantareira, que nem sequer foi autorizado pela
Justiça.
A revelação foi feita em depoimento
na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara Municipal, criada em
agosto para investigar falhas no serviço de abastecimento. “Temos uma
disponibilidade suficiente para atender a população nesse regime de chuvas até
meados de novembro”, disse Dilma. Nesta quarta, o nível do Cantareira caiu para
4,3% da capacidade, índice mais baixo da história.
Dilma negou a ocorrência de
racionamento e entrou em atrito com os vereadores em diversas ocasiões, durante
mais de quatro horas de depoimento. Ela chegou acompanhada de cerca de 50
funcionários. “A missão da Sabesp é levar água. O lema da empresa é ‘Água, não
pode faltar”, afirmou, ao ser questionada se a não implementação do
racionamento foi uma decisão política. “Foi uma decisão técnica”, garantiu.
"Não podíamos falar a palavra
"seca". Só alertar para a economia. Não podíamos falar da gravidade
da situação", argumentou a presidente da Sabesp, Dilma Pena.
Dilma Pena ouviu perguntas sobre falta de transparência com
a população. Ela atribuiu à Justiça Eleitoral o fato de as pessoas não serem
informadas sobre a situação, que ela chama de “gravíssima”.
“Não podíamos fazer as peças
publicitárias que achávamos que devíamos fazer por causa da restrição do
período eleitoral. Tivemos de apresentar as peças no Tribunal Regional
Eleitoral e foram riscadas algumas palavras que não poderiam ser veiculadas,
por exemplo, a palavra ‘seca’. Nós não podíamos colocar, na peça publicitária,
a palavra ‘seca’. Então, veiculamos, e estamos veiculando até hoje, propaganda
falando exclusivamente da economia de água”, disse. A Justiça Eleitoral nega a
restrição.
Questionada sobre alternativas,
como a construção de poços artesianos para captar mais água, ela disse que o
solo de São Paulo era pobre para essa função. “Se adiantasse, teríamos feito”,
apontou.
Dilma disse ainda que a gestão
Fernando Haddad (PT) poderia “seguir Campinas” e multar quem desperdiçasse água
- ideia que o governador Geraldo Alckmin (PSDB) descartou em julho para o
Estado.
Tensão
Na sessão, os vereadores se
queixaram do que classificaram como “falta de objetividade” da presidente da
Sabesp ao responder as questões. “Vou pedir para a senhora ser mais objetiva
quando responder. Porque a senhora começa a falar e acaba se perdendo”, disse o
vereador Nelo Rodolfo (PMDB), após Dilma explicar que o desabastecimento
observado em diversas regiões da cidade nos últimos dias estaria ligado a duas
falhas pontuais ocorridas nas regiões de Americanópolis, na zona sul, e perto
da Avenida Brigadeiro Luís Antônio, no centro.
Dilma disse que os vereadores
precisam “ter paciência para ouvir”. A resposta veio do vereador Roberto
Tripoli (PV). “Estou tendo paciência quando tomo banho, enquanto minhas plantas
estão morrendo sem água”, disparou.
Volume morto
Dilma afirmou novamente que a
Sabesp pretende usar a segunda cota do volume morto do Cantareira, de 106
bilhões de litros. “Isso vai garantir o abastecimento até abril”, disse. O uso
dessa segunda reserva ainda não foi autorizado pelos órgãos reguladores e está
vetado pela Justiça Federal.
Ao lembrar que o volume de chuvas
no Sistema Cantareira, no acumulado deste mês, foi de apenas 0,4 milímetro -
ante média histórica de 130,8 no mesmo período -, ela disse que as previsões do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) eram positivas: chuvas após o
próximo dia 20.
Técnicos do clima fazem avaliação
diferente. “Os modelos apontam para a chegada de uma frente fria do Sul a
partir do dia 20, que deve quebrar essa massa de ar seco e provocar chuvas. Mas
não será um volume suficiente para alterar significativamente a situação dos
reservatórios”, disse a meteorologista da Unicamp Ana Maria Heuminski de Ávila.
(OESP)
Nenhum comentário:
Postar um comentário