Cresce procura por poços em SP; aquíferos podem ser afetados
Com seca, cresce procura por poços em SP; aquíferos podem
ser afetados.
Estima-se
que, só na Região Metropolitana, foram feitas 400 perfurações só em 2014; uso
destas construções equivale ao abastecimento de 150 mil pessoas. Especialista
alerta para o risco à saúde em caso de captação de água poluída por metais
pesados.
A seca nos principais mananciais
paulistas e os cortes no abastecimento de água têm provocado uma corrida por
poços clandestinos na Grande São Paulo, o que coloca em risco a eficiência das
reservas subterrâneas e a saúde dos usuários. Levantamento feito pelo Centro de
Pesquisa de Águas Subterrâneas (Cepas) da Universidade de São Paulo (USP) com
construtores de poços estima que cerca de 400 perfurações foram feitas na
Região Metropolitana somente neste ano.
O uso de poços amplia em 43 milhões
de litros o volume de água retirado dos aquíferos por dia, quantidade
suficiente para abastecer 150 mil pessoas.
"A corrida para a construção
de poços profundos clandestinos é grave, tanto pela possibilidade de
esgotamento dos aquíferos, quanto por causa dos riscos aos quais os usuários
estão expostos, por não saberem sobre a qualidade da água extraída",
afirma o diretor do Cepas, Reginaldo Bertolo. "Não raro, eles apresentam
captações em níveis aquíferos relativamente rasos e deficiências construtivas
do ponto de vista sanitário, levando o usuário, frequentemente, a captar águas
poluídas por esgoto, micro-organismos patogênicos e, a depender de sua
localização, por metais pesados, muitas vezes em concentrações elevadas, mas
imperceptíveis para o paladar."
O uso de poços amplia em 43 milhões
de litros o volume de água retirado dos aquíferos por dia, quantidade
suficiente para abastecer 150 mil pessoas.
Segundo Bertolo, a Grande São Paulo
tem hoje uma oferta de água subterrânea de 16 mil litros por segundo, ou 1,4
bilhão de litros por dia, volume equivalente ao do Sistema Guarapiranga. Mas
40% desses recursos, que seriam suficientes para atender 1,8 milhão de pessoas,
não são usados. Por isso, ele defende um maior aproveitamento da água subterrânea,
mas alerta que essa exploração deve ser melhor controlada.
"O poder público precisa rever
seus processos, facilitando e barateando a burocracia para a outorga", diz
Bertolo.
Hoje, uma licença para construção
de poços custa cerca de R$ 10 mil e pode levar até três meses para ser
concedida pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo (DAEE).
"A outorga é considerada pelo usuário uma exigência cartorial e cara, não
sendo claro para ele qual o benefício em fazer o cadastramento do poço", afirma.
Segundo estimativa do Cepas, cerca de 60% dos 12 mil poços da Grande São Paulo
são clandestinos.
Aumento
Segundo o DAEE, o número de
licenças de execução de poços profundos em todo o Estado concedidas entre
janeiro e setembro deste ano subiu 19,6% em relação a igual período de 2013. Na
capital, foram apenas 39 poços cadastrados neste ano, totalizando 2.082
construções regulares. Em todo o Estado, são 27.312 poços legais, utilizados
principalmente pela indústria e para abastecimento público. Hoje, 48% dos
municípios paulistas usam exclusivamente água subterrânea para atender a
população.
O DAEE afirma que tem um cronograma
rotineiro de fiscalização para os maiores usuários, como indústrias e grandes
empresas, e realiza campanhas em conjunto com os municípios, Vigilância
Sanitária e Companhia Ambiental de São Paulo (CETESB). No caso dos pequenos
usuários, as ações acontecem a partir de denúncias.
O órgão regulador informou ainda
que tem uma das maiores equipes técnicas do País e que monitora mais de 46 mil
poços cadastrados no Estado.
No País
Ao menos 85% dos poços artesianos
existentes no Brasil são clandestinos, de acordo com a Associação Brasileira de
Águas Subterrâneas (Abas). Segundo a entidade, estima-se que o País pode ter
cerca de 100 mil poços irregulares.
"As águas subterrâneas
poderiam ser melhor utilizadas em crises hídricas", disse o secretário
executivo da Abas, Everton de Oliveira.
Para o professor Celso Loureiro, do
Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental (Desa) da Universidade Federal
de Minas Gerais (UFMG), a perfuração correta de poços é uma forma de garantir a
qualidade da água subterrânea. "Não é solução do problema em longo prazo,
mas um paliativo", disse. (OESP)
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