Sabesp oferece ao Rio/RJ
volume morto de Paraibuna em troca de transposição.
Projeto feito em
parceria com técnicos da Universidade de São Paulo dá como garantia reserva de
162 bilhões de litros de água.
A gestão Geraldo Alckmin (PSDB)
quer criar uma reserva de 162 bilhões de litros de água para oferecer ao
governo do Rio como forma de compensar a obra de transposição prevista para a
Bacia do Paraíba do Sul. A expectativa do Estado é de que esse "volume
morto" funcione como uma espécie de "fiador" no processo de
aprovação da medida, que visa a aumentar a capacidade hídrica das regiões
metropolitanas de Campinas e São Paulo.
De acordo com estudo formulado pela
Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) em parceria com
técnicos da Universidade de São Paulo (USP), a que o Estado teve acesso, a
intenção é reforçar e aumentar os níveis de garantia do Sistema Cantareira, a
partir de uma obra de interligação entre as Represas Jaguari e Atibainha (mais
informações nesta página).
Caso o projeto de Alckmin, que está
avaliado em R$ 830 milhões, receba o aval da Agência Nacional de Águas (ANA), a
Sabesp poderá captar, em média, 5 mil litros de água por segundo da Bacia do
Rio Paraíba do Sul, dando fôlego ao Cantareira.
A autorização da ANA é necessária
porque a Bacia do Paraíba do Sul tem gestão federal. O rio corta Minas e São
Paulo, onde a água é armazenada na Represa de Paraibuna, na qual será
assegurado o volume morto. Em seguida, corre para o Estado do Rio, onde
posteriormente forma a Represa do Funil. Na prática, a reserva representa a
soma dos litros por segundo que serão revertidos para o Cantareira ao longo de
um ano de transposição entre os mananciais.
A empresa desenvolveu o projeto
segundo critérios de segurança para o abastecimento e também a geração de
energia - os Rios Jaguari e Paraíba do Sul são usados pela Companhia Energética
de São Paulo (Cesp). A Furnas, que produz energia para o Estado do Rio, também
usa os mesmos recursos na divisa de Estados.
Represa de Paraibuna
Com
capacidade total de 2,1 trilhões de litros de água, quase duas vezes maior do
que o Sistema Cantareira, a Represa Paraibuna vive uma das maiores estiagens de
sua história.
Em 21/11 o manancial estava com 74 bilhões de litros de água
do volume útil (sem contar com 162 bilhões de litros do volume morto) segundo
relatório da Agência Nacional das Águas (ANA).
Na cidade de Paraibuna comerciantes perdem cada
vez mais clientes.
Benedito Marcos Farias Soares, de 60 anos, dono de um
pesqueiro, diz estar com o movimento 40% menor.
Antes as crianças brincavam no balanço molhando os pés na
água. Agora, a represa desceu mais de 20 metros, que chegou a uma parte que eu
nunca tinha visto, afirmou, apontando para as árvores que surgiram.
O mesmo prejuízo por falta de movimento vive uma marina da
região. Conforme a água foi baixando, os clientes foram retirando os barcos. Em
18/11 um empresário de São Paulo foi obrigado a
retirar a sua lancha.
Garantia
As condições apresentadas por São
Paulo ao governo do Rio e à ANA foram baseadas em simulações feitas no
Laboratório de Sistema de Suporte a Decisões (LabSid), da USP. De acordo com o
coordenador do órgão, Rubem La Laina Porto, o volume morto é sugerido como uma
garantia.
"É uma reserva que só deve ser
usada em casos extremos, em uma probabilidade muito pequena", afirma o
engenheiro e professor de Hidrologia da USP. "A quantia é o suficiente
para atender à necessidade dos três Estados", diz.
Ao mesmo tempo em que possibilita a
reversão de água de Jaguari para Atibainha com o objetivo de reforçar o Sistema
Cantareira, a transposição libera a captação inversa. Isso quer dizer que a
obra permitirá que São Paulo "devolva" o mesmo volume captado caso
chova o suficiente no Estado para aliviar a crise hídrica sem a utilização da
alternativa.
Tanto essa devolução quanto o uso
do volume morto são vistos pelo governo fluminense como cenários extremos. De
acordo com a Secretaria Estadual de Ambiente do Rio, ambos seriam cogitados
caso não ocorressem as chuvas da estação, que já começaram.
Em nota, a pasta informou que,
apesar de o Rio ter entrado na temporada de chuvas, a orientação é prever
quadros adversos. Por isso, a secretaria já solicitou dados sobre a reserva
técnica de Paraibuna. O pedido foi feito à ANA no dia 5.
Segurança
Já a Secretaria Estadual de Recursos
Hídricos de São Paulo afirmou que a interligação proposta entre Jaguari e
Atibainha vai assegurar o armazenamento de água nos dois reservatórios.
Quanto ao uso do volume morto de
Paraibuna, o governo paulista afirmou que o tema é de responsabilidade do
Operador Nacional do Sistema (ONS) e da ANA, que disse ainda estar discutindo
com os demais interessados a viabilidade de execução da obra.
Custo de R$ 3,5 bi
A interligação das Represas de Jaguari e Atibainha, em São
Paulo, faz parte de um plano de ação apresentado pelo governador Geraldo
Alckmin (PSDB) à presidente Dilma Rousseff, no início deste mês, para enfrentar
a crise hídrica. São oito obras no total, ao custo de R$ 3,5 bilhões.
A lista inclui, por exemplo, a construção de estações que
transformam esgoto em água de reuso, de dois novos reservatórios em Campinas e
a perfuração de poços artesianos na região do Aquífero Guarani. Nenhuma saiu do
papel ainda. (OESP)
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