Entre furacões e secas, o clima muda na América Latina
Cada vez mais, região vive fenômenos climáticos
extremos.
Imagem da barragem de Los Laureles, em Honduras, que fornece água
potável para um milhão de habitantes da capital Tegucigalpa foi registrada em
27/03/14 e mostra um nível extremamente baixo devido à seca.
"Tive que vender um bezerro para sobreviver, para comprar
milho", conta Teodoro Acuña Zavala, de 64 anos, vítima da seca na
Nigarágua, uma vítima dos fenômenos climáticos extremos que afetam cada vez
mais a América Latina.
Em
sua aldeia de Palacagüina, no norte do país, Teodoro observa as galinhas
ciscando restos de sua roça de milho, devastada pela falta d'água e lembra que
há 16 anos, o furacão Mitch castigou seu terreno.
Este
ano, a seca "foi pior que qualquer outra", confessa este homem de
rosto curtido pelo sol: "oito dias (de chuva) é tudo o que caiu para nós
este ano". Debaixo de sua casa modesta, o rio não é mais que um caminho
rochoso.
"Nunca
tinha visto isso", acrescentou Guillermina Inglesia, de 54 anos, que tem
uma pequena loja de comida perto dali. "O que vamos fazer a partir de
agora com a seca? Se continuar, então do que vamos depender, se vivemos
precisamente de milho e feijão? Se não temos milho, nem feijão, nós estamos
praticamente sem comida".
O fazendeiro
nicaraguense Teodoro Acuna, de 42 anos, mostra feijões em seu campo de cultivo
na comunidade de La Tuna, em Madriz, no dia 17 de novembro de 2014.
Entre
1 e 12 de dezembro, a América Latina sedia em Lima, capital peruana, a 20ª
conferência da ONU sobre mudanças climáticas, um fenômeno que torna a região
particularmente vulnerável, explicou Sonke Kreft, encarregada destas questões
no âmbito da ONG alemã Germanwatch, que avalia os países mais frágeis na
questão.
"Os
países da América Latina e do Caribe estão no topo de todas as nossas
classificações, sobretudo a longo prazo", explicou.
Em
sua lista mais recente, a Germanwatch situou Honduras como primeira, o Haiti
como terceira e a Nicarágua como quarta entre os países que mais sofreram com o
aquecimento global entre 1993 e 2013. A ONG revelará sua nova classificação no
começo de dezembro, em Lima.
Sua
colocação nestes níveis se deve, sobretudo, a que a região "é
frequentemente afetada por furacões", explicou David Eckstein, um dos
encarregados da classificação, que destaca que "a intensidade e a
frequência dos furacões aumentaram claramente nos últimos anos".
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Eventos climáticos extremos -
No
final de 2012, o Banco Mundial avaliou que a América Latina e o Caribe seriam
"uma das regiões mais afetadas pelo aumento da temperatura", apesar
de sua fraca contribuição (12,5%) às emissões globais de gases de efeito
estufa.
"O
México e a maior parte da América Central se tornarão mais secos e a América do
Sul será mais úmida em sua parte norte e sudeste. Mas o centro do Chile e o sul
do Brasil ficarão mais secos", explicou Rodney Martínez, membro da
comissão de climatologia da Organização Meteorológica Mundial.
E
"as principais provas das mudanças climáticas são os eventos (climáticos)
extremos, cada vez mais numerosos", como os furacões e os episódios de
seca.
Tania
Guillén, que representa a ONG nicaraguense Centro Humboldt nas discussões
internacionais sobre o clima, pode atestá-lo: "este ano, na região, toda a
área de corredor seco, de Guatemala, Honduras, até a Nicarágua, sofreu com a
seca, o que afetou a produção de alimentos".
"Após
três meses de seca, começou a temporada chuvosa em setembro e tivemos
inundações no país, com aproximadamente 30 mortos por diferentes consequências
das inundações e da chuva", prosseguiu.
Mas
a chuva só chegou a uma parte da Nicarágua e a seca persistiu em outras
regiões, atrasando em um mês o início da colheita do café.
"As
mudanças climáticas significam uma tendência da temperatura para cima, mas
outro problema é a variabilidade climática, um ano seco, um ano úmido, um ano
frio, um ano quente", confirmou Henry Mendoza, responsável técnico da
associação nicaraguense de pequenos produtores de café Cafenica.
Na
Nicarágua, o Centro Humboldt, que estuda com a ONG Oxfam a possibilidade de um
plano de ajuda humanitária para as populações afetadas pela seca, se preocupa
com as "coisas estranhas" que percebe agora sobre o clima, como a
multiplicação de tornados ou os picos de temperatura, até oito graus acima da
média habitual. (yahoo)
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