segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Maior do que Cantareira, Billings tem água ‘perdida’

Ampliação do uso da represa na região sul esbarra em poluição e produção de energia.
Morador há 30 anos do Parque Cocaia, no extremo sul da capital, o pintor Raimundo Barbosa, de 38 anos, aponta para a Represa Billings e lamenta a degradação. “É uma injustiça não poder beber a água por causa da Poluição. É uma pena não usar toda essa água nessa época de crise”, afirma, sem saber que o manancial, com capacidade superior a todo o Sistema Cantareira (veja quadro ao lado), poderia ajudar a afastar o risco de desabastecimento.
Da represa que banha São Paulo, Diadema, São Bernardo do Campo, Santo André, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, 7,7 mil litros de água por segundo são destinados hoje para o consumo da população – em potência máxima, o Cantareira produz 33 mil litros por segundo. Outros 6 mil litros seguem para a Baixada Santista, onde geram energia e vão para o mar.
A subutilização do manancial como fonte de abastecimento, porém, não é explicada apenas pela quantidade de água destinada para a Usina Hidrelétrica Henry Borden, em Cubatão. Poluição, ocupação irregular das margens e assoreamento do corpo da represa compõem a lista. “O esgoto é jogado no córrego (que deságua na represa) até pelas casas que têm relógio de água (onde a coleta de esgoto é regularizada)”, diz Barbosa.
No bairro Pedreira, na margem oposta onde vive o pintor, a população viu a degeneração da Billings a partir dos anos 1990, com o bombeamento das águas do Rio Pinheiros, em dias de temporal. “Quando eu cheguei aqui, em 1987, a represa tinha pássaros, macacos e área verde. Depois que começaram a puxar a água do rio ficou degradado”, diz o líder comunitário Ricardo Prieto, de 46 anos.
A combinação de ocupação irregular às margens da Billings com a Poluição do manancial já fez a represa perder 20% de sua capacidade de armazenamento, ou 240 milhões de litros de água. Segundo estudo feito pelo Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam), o impacto no espelho d’água equivale a 2 mil campos de futebol.
O presidente da entidade, o ambientalista Carlos Bocuhy, afirma que a Billings não recebe atenção, mesmo na crise. “O governo fala em tratar o esgoto do Rio Pinheiros, mas não em despoluir a Billings. Porque, em seca histórica, tiramos 6 mil litros por segundo da população para energia elétrica?”
Para a especialista em Saneamento Ambiental da Universidade Federal do ABC (UFABC) Tatiane Araújo de Jesus, é preciso tirar o esgoto da represa não só para aumentar a vazão destinada ao abastecimento, mas para proteger a população. “O esgoto cria um ambiente mais propício para bactérias, que, por sua vez, produzem toxinas que causam problemas para a saúde”, diz. Segundo ela, uma alternativa seria tratar o esgoto para produzir água de reuso.
Concepção
A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) ressaltou que a Billings foi concebida para a geração de energia elétrica. “Por esse motivo, e não por questões ligadas à qualidade da água, é que ela não é usada em maior escala para o abastecimento”, informou a empresa, em nota.
Além disso, a companhia informou que a água destinada à Henry Borden acaba sendo usada para o abastecimento via Rio Cubatão.
Responsável pela usina, a Empresa Metropolitana de Águas e Energia (EMAE) afirmou que precisa de 6 millitros por segundo para fazê-la funcionar. A Henry Borden produz 889 megawatts, energia suficiente para abastecer 2 milhões de pessoas. Seu foco principal, porém, são as indústrias da Baixada.
Outros reservatórios
18,1 mil litros por segundo é a quantidade de água produzida pelo Sistema Cantareira, que está na segunda cota do volume morto.
15 mil litros de água por segundo são produzidos tanto pelo Sistema Guarapiranga quanto pelo Sistema Alto Tietê. (OESP)

Um comentário:

Unknown disse...

Não vi nenhuma frase sobre a desocupação das margens da represa. Quem já está morando lá, nem cogita a remota possibilidade de reconhecer, que é cúmplice, na degradação da represa!Porque o esgoto de todos vai pra onde???E se nao for pra la... o governo vai jogar pra onde?? E qual é o custo do tratamento deste esgoto...se todos os anos surgem mais moradores??? Então a primeira coisa a ser feita, é pegar sua trouxinha e voltar pra terra onde nasceu e deixar as margens da represa serem reflorestadas... so assim sera salva!!!Quem sera o primeiro???

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