Água e Energia: Especialista diz que população terá de
conviver com algum tipo de racionamento
O coordenador do Instituto Virtual Internacional de Mudanças Globais
(Ivig), do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de
Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe-UFRJ), Marcos
Freitas, afirmou em 23/01/14, que a crise de energia e de água “chegou ao
país”. Segundo ele, a consequência é a população brasileira ter de conviver com
algum tipo de racionamento,
Diferentemente de 2001, quando a crise de energia marcou o início de
funcionamento da Agência Nacional de Águas (ANA), hoje as empresas do setor
elétrico não têm dinheiro para ações emergenciais. Conforme Freitas, a situação
é delicada, porque antigas usinas hidrelétricas estão deficitárias e precisam
de modernização.
Para o técnico, de 2001 até hoje, o setor elétrico dotou-se de um
sistema térmico que não existia. Na época, a geração hídrica representava 85%
da capacidade. O restante era geração térmica. Atualmente, 60% são de fonte
hídrica e o restante, térmica. “Houve investimento na geração térmica, o que é
bom para aguentarmos o período seco. Naquele ano, éramos limitados em relação à
geração térmica.”
Marcos Freitas afirmou que, este ano, haverá necessidade de racionamento
de energia elétrica no Brasil e de água em algumas regiões, especialmente no
Grande Rio e na Grande São Paulo, atingindo aproximadamente 30 milhões de
pessoas.
Conforme Freitas, o racionamento deveria ter ocorrido no ano passado,
“seja na troca de energia entre bacias transfronteiriças, caso de trazer
energia da Argentina ou do Paraguai, ou na otimização dos recursos brasileiros,
principalmente nos sistemas urbanos de abastecimento. Isto é segurança hídrica.
É mais delicado que a falta de energia”, acrescentou.
Segundo ele, 2015 está começando com 18% de capacidade dos reservatórios
no Sudeste e Centro-Oeste, contra 35% a 40% no início da crise energética.
“Naquele ano, não tínhamos tanta térmica como agora”. Ele acredita que isso
gerará impacto em um ano difícil para a economia. “Teremos de conviver com um
custo de energia mais elevado e com algum regime de racionamento, que acaba
sendo impositivo”.
O coordenador do Instituto Virtual Internacional de Mudanças Globais
explicou que ausência de planejamento gera blecautes e falta de energia, que é
“muito mais perigoso que um racionamento”, porque pode atingir serviços essenciais
como hospitais e transportes coletivos. Ele lembrou que, na crise de energia
dos anos 2000, estudos indicaram retração da economia entre 0,5% e 1% do
Produto Interno Bruto, que é a soma dos bens e serviços fabricados no país.
Freitas informou que outro agravante é o crescimento da agricultura de
irrigação em várias regiões brasileiras, principalmente em São Paulo,
aumentando o consumo de água dos rios. Em 2004, a área de irrigação equivalia a
até 3,5 milhões de hectares no país. Hoje, supera 6 milhões de hectares.
Apesar de pequena em comparação com a agricultura de sequeiro (de
chuva), em torno de 100 milhões de hectares, Freitas ponderou que a expansão da
agricultura de irrigação tira o consumo de água dos rios e aumenta a competição
com a geração hidrelétrica e com o abastecimento de água nas cidades.
De acordo com ele, a cultura que usa irrigação é a da cana-de-açúcar.
Ele destacou que as hidrelétricas construídas após 2001/2002 são obrigadas a
ter outorga de disponibilidade hídrica (oferta de água), além do potencial
hidráulico, “mas são poucas”.
As usinas do Sudeste já estavam construídas e não têm outorga. Segundo
Freitas, essa variável não é avaliada, o que aumenta o consumo de água de
irrigação na agricultura e acelera a seca nos reservatórios. (ecodebate)
Nenhum comentário:
Postar um comentário