Despoluição da Bacia do Guandu é urgente para abastecimento
do Rio de Janeiro
O governo do Rio de Janeiro precisa, urgentemente, implantar ações de
despoluição de rios ou pelo menos remover os poluentes de rios e riachos nas
proximidades da captação do Rio Guandu, como o Rio dos Poços. Com isso,
diminuiria de 110 m³/s para 45 m³/s a necessidade de água tirada do sistema
para diluir e tratar esgotos, disse à Agência Brasil o professor Marcos Freitas, coordenador do
Instituto Virtual Internacional de Mudanças Globais (Ivig) – unidade do Instituto
Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (Coppe-UFRJ).
Segundo ele, a Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae) precisa de
pelo menos 90 m³/s de água para diluir 2 m³/s de esgoto. “Isso é um tiro no pé
do Rio de Janeiro, que tem a fragilidade intramuros de uma obra orçada, na
década de 1970, em R$ 2 milhões ou R$ 3 milhões, e que agora deve ficar entre
R$ 45 milhões e R$ 50 milhões”, estimou. A obra pode ser feita em seis
meses e, embora não trate a poluição do Rio dos Poços, não deixa ele chegar ao
local onde é feita a captação de água da Cedae, no Rio Guandu.
Ele admite que a medida traria problemas de salinização dos rios que
afetariam algumas indústrias instaladas na região, mas destacou que a
prioridade, no momento, é o abastecimento humano. “A gente não tem que pensar
em outra coisa que não seja isso este ano. Os demais usos vão ter que esperar”.
Como o Rio de Janeiro importa quase tudo que consome, Freitas estima que a
economia fluminense, principalmente a agricultura, não deve sofrer grandes
impactos.
Outra providência a ser tomada é em relação às perdas, disse o professor
da UFRJ. Segundo ele, 50% dos 45 m³/s de água usados para diluir esgoto viram
perdas, das quais 10% equivalem a perdas econômicas causadas por ligações
clandestinas, os chamados gatos, e 40% são perdas físicas.
Especialista da UFRJ destaca a importância metas para 2014
de despoluição de rios e perdas de água no tratamento de esgoto. Ele
acrescentou que investir em redução de perdas de água é importante para que São
Paulo e outros usuários do Paraíba do Sul não acusem o Rio de usar muita água
para diluir esgoto.
Marcos Freitas reconhece que há um longo caminho para que as perdas
atinjam o nível de 6%, registrado no Japão. Ele avaliou que se poderia traçar
para 2014 a meta de 30% de perdas, aproximando-se do nível de 20%, praticado no
Paraná. “Investir em redução de perdas é importante e a gente tem que conviver
com isso porque, do contrário, daqui a pouco a gente vai ser pressionado por
São Paulo e demais usuários da Bacia do Paraíba do Sul como perdulários, que
estamos usando água boa para diluir esgoto e perdendo parte da água tratada”,
advertiu.
Outra parcela importante do problema são os consumidores, com destaque
para os residenciais, que constituem “o lado mais delicado da situação”, disse
o professor. Não existe, segundo ele, conscientização da população sobre a
necessidade de economizar água. Um dos empecilhos para que as pessoas poupem
mais água é que a maior parte das moradias do Grande Rio é constituída de
prédios nos quais não há medição individual de água. A medição é geral. A
hidrometração individualizada é coisa recente nas grandes cidades. Daí, a
população ignorar quanto gasta em termos de água.
Marcio Freitas diz que o consumidor é outra parte importante
na questão da perda de água. Ele defende hidrômetros para cada residência ao
contrário do rateio pelo condomínio.
Se essa conta, que hoje é dividida pelo condomínio, fosse colocada em
cada unidade residencial pesaria diretamente no bolso do consumidor que ficaria
mais atento às perdas de água. “Aí, os efeitos tarifários seriam mais
perceptíveis”, disse o professor da UFRJ. Freitas acrescentou que resolvendo
essas três variáveis – poluição, perdas e consumo – “você conseguiria
aguentar o ano seco”.
Não havendo nenhum dos três esforços necessários, “a gente pode chegar
ao meio do ano já com racionamento no Grande Rio e em parcelas do Rio Paraíba
do Sul, como São Fidélis, por exemplo, (no norte do estado), que já está com
uma situação delicada”, manifestou. (ecodebate)
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