Crise hídrica. Como sobreviver e aprender com ela
“Temos oportunidade ímpar com
essa crise, com todos os problemas que ela traz, de observar o nível a que
chegamos com nossa atividade de gestão de recursos hídricos. Temos que
transformar isso em momento de virada”, defende o ativista.
A crise
hídrica que
afeta o Brasil, especialmente o estado de São Paulo, traz problemas de toda a
ordem. No entanto, mais do que resolver os problemas gerados a partir da crise
é preciso encarar o debate que está posto. É o que propõe o coordenador
da Campanha de Clima e Energia do Greenpeace, Pedro Telles, em entrevista concedida por telefone à IHU
On-Line. “É preciso
transformar essa crise na possibilidade de mudança na forma como geríamos a
água. (…) Temos a ideia de que o Brasil é o país com maior acesso a água doce.
É fato, mas a água é muito mal gerida”, diz.
A mudança de cultura proposta por Telles começa, obviamente, com o poder
público. “O principal
responsável, sem dúvida, é o governo do Estado de São Paulo. Não tomou as
medidas adequadas”, destaca Telles. No entanto, o ativista alerta que também há
responsabilidades do governo federal, ainda mais porque o problema não ocorre
só em São Paulo. “O governo federal tem se mantido muito calado com relação à
crise. Claro que estamos num contexto que há inúmeros outros escândalos
estourando, caso da Petrobrás e a própria crise
energética, mas ele não
pode se omitir numa crise hídrica que é gravíssima”.
E o colapso também exige mudança de hábitos da sociedade
civil. E, pasme, ainda há
quem não acordou para crise. “No dia a dia mesmo, na maioria dos casos, você
não vê ainda na rua essa questão tão forte. Porque, na grande parte do dia, as
pessoas ainda têm acesso à água. A partir do meio da tarde é que o acesso é
restrito”, alerta. O pior é que as pessoas que mudam seus hábitos tendem a
relaxar quando a situação melhora. “Veja o histórico de Itu. Recebi relatos de que, quando começou a
chover lá, a mobilização diminuiu”. O desafio é transformar a mudança
de hábito em mudança
de cultura. Meta que cabe
tanto ao poder público – que ainda é responsável pela revisão na gestão de todo
o sistema em si -, como também às pessoas e a imprensa, com seu caráter informativo e educativo.
Pedro Telles é coordenador da Campanha de Clima e Energia
do Greenpeace e
mestre em Estudos do Desenvolvimento, pelo Institute of Development Studies.
“A previsão, para esse ano, da
Agência Nacional de Águas – ANA é de que 55% das cidades brasileiras tenham
algum tipo de problema com suprimento de água”.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Você mora em São
Paulo? Como é viver nessa grande cidade em meio à crise hídrica?
Pedro Telles – Sim, moro. Eu já estou adotando uma série de
medidas para reduzir
o consumo de
água, tanto em casa quanto no trabalho, há algum tempo. Hoje, muitas pessoas
estão sem água cerca de 10 ou 12 horas por dia, normalmente no período noturno.
Quem tem caixa d’água ainda consegue ter água basicamente o dia inteiro. Mas,
sabemos que o suprimento de água vai acabar em muito pouco tempo. Se não
adotarmos um consumo mais consciente, obviamente vai acabar mais rápido ainda.
Muita gente está se adaptando a essa realidade e reduzindo o consumo doméstico
e no trabalho.
O que estou fazendo em minha casa são medidas tradicionais: tomar sempre
banho com um balde de água embaixo, ou captar água da máquina de lavar, para
depois reutilizar aquela água para outros usos que não precise de água potável.
Usar, por exemplo, para descargas na privada. Também é sempre bom se questionar
quando vai usar a água: eu realmente preciso usar água para isso? Eu não posso,
por exemplo, usar um álcool gel para limpar minha mão ao invés de colocar
debaixo da torneira? No meu prédio, não há consenso entre os moradores para
construir uma cisterna, em função do gasto. No entanto, aqui no Greenpeace, onde trabalho, temos orçamento para
construir uma cisterna. Já estamos implementando a “cota
do xixi”. Ou seja, só
aciona a descarga depois de três usos do vaso sanitário. Isso tanto aqui no
trabalho, como na minha casa. São medidas de adaptação do seu dia-a-dia que
permitem a viver com menos água.
IHU On-Line – Se formos
circular pela cidade de São Paulo, é possível perceber, pela postura e atitude
das pessoas, que está se vivendo uma crise hídrica?
Pedro Telles - Você não percebe. E isso é um problema muito
sério. Em muitos restaurantes até se pode perceber. Muitos não têm uma caixa
d’água que comporte
o volume de consumo deles e, como não tem como lavar a louça, acabam usando pratos
e copos descartáveis. Ou,
ainda, vai ao banheiro e percebe que a descarga está desativada. Eles acionam a
descarga com um balde num determinado tempo. Mas, isso se percebe em alguns
estabelecimentos comerciais. No dia-a-dia mesmo, na maioria dos casos, você não
vê ainda na rua essa questão tão forte. Porque, na grande parte do dia, as
pessoas ainda tem acesso à água. A partir do meio da tarde é que o acesso é
restrito.
IHU On-Line – Por que o estado
de São Paulo e o Brasil vivem uma crise hídrica?
Pedro Telles - É importante ressaltar essa questão do Brasil.
A previsão, para esse ano, da Agência Nacional de Águas –
ANA é de
que 55% das cidades brasileiras tenham algum tipo de problema
com suprimento de água.
Esse é um número muito forte. Não necessariamente vão ficar no nível de um
racionamento, mas terão algum tipo de dificuldade, de atenção a uma limitação
dos recursos hídricos. São Paulo está nesse estágio – final de março devemos
estar chegando a um esgotamento ou um racionamento muito forte -, mas o Rio
de Janeiro já
chegou no volume morto.
Já há uma cidade de Minas Gerais que está pedindo que o governo declare
calamidade pública, porque os agricultores não estão conseguindo produzir o
suficiente por falta de água. Precisam do decreto para renegociar suas dívidas.
O Maranhão, outra região do país, onde historicamente já
há mais problema, está há três anos com regime de chuvas alterado e não
voltando ao normal. Isso está também gerando impactos em produção lá. Ou seja,
é uma crise que está no Brasil
inteiro. Quais são as
causas disso? Temos uma série de deficiências históricas na gestão de recursos
hídricos no Brasil.
Temos a ideia de que o Brasil é o país com maior acesso a água doce. É fato, mas a água é muito mal gerida. São
muitas regiões diferentes no Brasil e não se pode apontar uma causa única.
Olhando para o caso de São Paulo, vemos que há uma combinação de fatores e os
principais são: destruição de áreas de mananciais – que são as florestas de
onde vem a água – e construções em áreas de represa que vão avançando cada vez
mais e acabando com a capacidade da represa de reter água. Ao mesmo tempo,
podemos destacar desperdício na distribuição. No Brasil como um todo, temos mais de 30%
de desperdício, perda de
água, na distribuição, nos encanamentos. E em São
Paulo isso
está na casa de 35%. Muitos
países tem esse índice na casa dos 10%, 15% e até menos. Então, uma reforma no sistema de
distribuição é urgente. Temos ainda a poluição.
Observamos, agora, muitas pessoas cavado poços
artesianos. Se forem
usados de forma sustentável, podem ser uma alternativa. Mas se tem inúmeros poços contaminados pela poluição. Temos o Rio
Tietê, aqui em São Paulo.
Uma relatora da Organização das Nações Unidas
– ONU para a
questão da água veio a São Paulo, olhou para esse rio e falou: “a primeira
coisa que me chocou foi ver este rio enorme, com a quantidade de água absurda,
totalmente poluído, enquanto a cidade não tem água para tomar”. Então, há
descaso com muitas fontes de água que poderiam ser úteis para a população e que
estão extremamente poluídas.
IHU On-Line – Você aponta uma
série de questões e fatores que levaram à crise hídrica em São Paulo. Podemos
fazer uma analogia e afirmar que esses fatores contribuem para a crise em todo
o Brasil?
Pedro Telles - Sim. A questão de mananciais, por exemplo, é uma questão nacional. Outra
questão nacional é o desmatamento da Amazônia. Uma coisa interessante para se observar
nessa crise da água em nível nacional: ela está escancarando a relação entre
questões ambientais e sociais. É um exemplo muito concreto de que quando você
vai muito além dos limites da natureza, há consequências graves para as pessoas
e para a sociedade.
“No Brasil, temos mais de 30% de desperdício na distribuição”.
Olhando para a questão da Amazônia, conseguimos conectar muitos pontos
claramente. Desmatamos a Amazônia. Enquanto isso, há estudos mostrando que
grande parte da chuva que cai no sul, sudeste e no centro-oeste do Brasil vem
diretamente da Amazônia. Tem um estudo do pesquisador Antônio
Nobre que
fala dos rios voadores. A água evapora lá na Amazônia e chovem em outros locais do país,
inclusive em outros países da América Latina. Existe uma relação entre desmatar
a Amazônia e o ciclo de chuvas aqui em São Paulo, por exemplo.
IHU On-Line – A crise é
atribuída à falta de investimentos do poder público na gestão de recursos
hídricos. Porém, sabe-se que a cultura do desperdício também é comum na
população em geral. Até onde vai a responsabilidade de agente público e onde
começa a da população nessa crise hídrica?
Pedro Telles - Não há dúvida de que, nessa crise, o principal
responsável não é uma seca histórica. De fato estamos com menos chuva, mas a seca
não é a principal responsável. O principal responsável, sem dúvida, é o governo
do Estado de São Paulo. Não tomou as medidas adequadas. Existem relatórios há
dez anos indicando que, no médio prazo, o sistema de água do estado poderia vir
a colapsar. E esse médio prazo chegou, é agora e nada foi feito.
Em janeiro de 2014, a Companhia
de Saneamento Básico do Estado de São Paulo – Sabesp já avisou ao governo do estado que a situação
estava grave. Ainda sugeriu um rodízio de dois dias de água e um dia sem. Se tivesse
sido cumprido, hoje, talvez, ainda estaríamos acima do volume
morto. Mas o governo falou
que não vinha ao caso implementar esse racionamento. Não implementou e a crise
chegou. Então, o poder público tem a maior responsabilidade.
Consumo
exagerado no Brasil
Se você olhar a média de consumo de água do brasileiro, verá que está
notadamente acima do que a Organização Mundial da Saúde –
OMS recomenda
como sendo necessário para uma vida digna. São, em média, 165
litros de água por dia consumidos no Brasil, segundo levantamento de 2013 do Sistema
Nacional de Saneamento Ambiental – SNIS (no sudeste são cerca de 190 litros).
A OMS indica que um volume entre
50 e 100 litros é suficiente.
É possível que as pessoas passem a consumir menos e estressar menos o sistema.
Mas, ao mesmo tempo, se olharmos o papel que o governo e que a grande
mídia desempenharam
ao longo dessa crise, veremos que só se começou a falar muito sério do nível de
gravidade da crise depois das eleições. Tanto por parte do governo como por
parte da grande mídia. Há até estudos que demonstram isso. Se tivéssemos um
esforço maior por parte do governo e da grande mídia, pelo menos desde o começo
de 2014, poderíamos estar numa situação bem melhor.
Houve uma redução de 20% no consumo, conquistada depois das campanhas
de conscientização. Se
tivesse medidas de orientações implementadas mais duramente e há mais tempo, as
pessoas se adaptariam muito melhor. De fato as pessoas podem reduzir o consumo.
Mas é importante um apoio por parte do governo e por parte da mídia.
IHU On-Line – Qual a
responsabilidade do governo federal nessa crise hídrica?
Pedro Telles - A outorga dos rios, de quem pode usar
determinados rios, para captação de água é do governo federal. Além disso, tem
a ANA, que é quem regula o uso de água em nível
nacional. Existe a capacidade de o governo federal agir de forma muito mais
consistente e tomar medidas concretas para, junto com o governo do estado,
mudar a forma de captação e distribuição de água. O principal responsável,
ainda assim, é o governo do estado. Mas o governo federal tem mecanismos,
inclusive regulamentações federais, que permitiriam forçar
o governo do estado a ter
uma gestão mais adequada.
E se formos observar, até agora, o governo federal tem se mantido muito
calado com relação à crise. Claro que estamos num contexto que há inúmeros
outros escândalos estourando, caso
da Petrobrás e a
própria crise energética, mas ele não pode se omitir numa crise
hídrica que é
gravíssima. Inclusive, a crise hídrica está profundamente relacionada com a
crise energética. É importante ter isso em mente: a crise energética acontece
porque dependemos muito de hidroelétricas que agora estão secas, com nível baixo. E o
governo não fez investimento em fontes alternativas de energia. Se tivesse feitos esses investimentos, estaríamos
muito melhor cobertos para lidar com uma crise hídrica que limita as
hidroelétricas.
Crise paulistana é de nível
mundial
Fizemos uma pesquisa buscando megacidades que passaram por uma crise
semelhante. E não conseguimos encontrar. Tem o caso da Califórnia, nos Estados Unidos e da Austrália que estão passando por crises hídricas sérias.
Mas a gente não está conseguindo encontrar cidades na dimensão de São Paulo,
com as dezenas de milhões de habitantes, que passa por algo semelhante. Então,
é uma crise histórica em nível
mundial, não só
brasileiro.
O governo federal tinha que estar muito mais ativo e não só concedendo
recurso, junto ao governo do estado, para obras que terceirizam o problema.
“Vou desviar outro rio para trazer água para São Paulo”, dizem. Mas
são grandes obras que custam caro, que demoram muito, que constroem uma espécie
de indústria
da seca com as
empresas que ganham muito dinheiro com obras, e que vão estender o uso de
recursos hídricos para outros lugares ao invés de investir em recuperação de
mananciais, na redução de desperdícios e outras ações que fazem um uso mais
sustentável da água.
IHU On-Line – Quando se fala
em investimentos na questão hídrica, remontam-se justamente esses projetos
centrados no desvio de cursos de água (transposições), ou na construção de
novas barragens, na superexploração dos reservatórios já existentes e das águas
subterrâneas. Então, isso não é a solução?
Pedro Telles – Não. Isso pode aliviar a questão no curto
prazo. E nem tanto assim, pois essas obras, na maior parte das vezes, demoram
pelo menos um ou dois anos para começar a dar resultado. E estamos com uma
crise agora. Então, nem a urgência que temos a maioria das obras atende. E isso
é uma terceirização do problema. Você está explorando outra área, ao invés de
investir na recuperação de mananciais, na redução das perdas de distribuição,
na despoluição de rios e fontes de água, para investir e manter o sistema como
está. Só está trazendo água de outro lugar que pode vir a acabar novamente.
IHU On-Line – Você já afirmou que, andando pela cidade de São Paulo, não se percebe uma mudança de hábito das pessoas com relação ao consumo de água. Mas reconheceu que há mudanças em alguns casos, tentando reduzir o desperdício. Acredita que essa mudança será definitiva?
IHU On-Line – Você já afirmou que, andando pela cidade de São Paulo, não se percebe uma mudança de hábito das pessoas com relação ao consumo de água. Mas reconheceu que há mudanças em alguns casos, tentando reduzir o desperdício. Acredita que essa mudança será definitiva?
“Não há dúvida de que, nessa
crise, o principal responsável não é uma seca histórica”
Pedro Telles – Veja o histórico de Itu – é uma cidade que tem sistema próprio de
fornecimento de água e se tornou um exemplo paradigmático dessa crise. A água
acabou em Itu, no ano passado. É um nível muito mais grave
do que está hoje em São Paulo. Recebi relatos de que, quando começou a chover
lá, a mobilização diminuiu. As pessoas continuam preocupadas em ter um estoque
de água, mas essas ações mais agressivas para redução de consumo aliviaram.
Não dá para dizer que, necessariamente, essas medidas virão para ficar
aqui em São Paulo. É importante ter um esforço
continuo de
políticas públicas, de estímulo a medidas que devem permanecer ao longo prazo.
Vai ser preciso um esforço mais amplo por parte de governos, de ong’s e da mídia
para transformar isso numa mudança cultural verdadeira. Isso não é tão
automático.
IHU On-Line – Que hábitos as
pessoas devem incorporar na rotina para reduzir o consumo?
Pedro Telles - As medidas incluem ter um estoque de água
potável em
casa. Estamos numa situação em que podemos chegar, à noite ou de manhã, e o
abastecimento estar interrompido e não termos água para beber. Muita gente já
está tomando banho, lavando louça com um balde debaixo para reutilizar essa
água em outros usos em que não se precise de água potável. Por exemplo, dar a
descarga no vaso sanitário. A terceira medida é, por exemplo, no banho, fechar
a torneira. Abre, se molha, fecha e se ensaboa. Depois, abre de novo e enxagua.
São banhos mais rápidos. É preciso se preocupar em usos domésticos em que se
fica muito tempo com a torneira aberta.
E essa questão de dar menos descarga no vaso sanitário é importante.
Você urina duas, três vezes e só depois vai lá e aciona a descarga. Uma das
principais fontes de uso de água potável
em casa é no
banheiro. É uma média de 16 litros de água que vai embora com cada descarga. É um volume
muito grande de água potável. É importante lembrar: a água
que sai da descarga é a mesma da torneira. Uma água que poderia servir para outros usos mais nobres.
Muitas pessoas estão começando a construir cisternas. É uma medida que
ajuda no longo prazo. É algo que você vai ter para sempre aí na sua casa, no
seu prédio. E tem muitos escritórios que estão aplicando medidas semelhantes a
essas.
IHU On-Line – É possível
pensar em práticas que tornem mais eficiente o uso da água pela indústria e
pela agricultura, de modo a otimizar seu uso e sem inviabilizar o consumo?
Pedro Telles - Inclusive precisamos ter leis, ações
regulatórias mais
firmes nesse sentido. A indústria é um grande consumidor de água e agricultura
também. Em nível nacional são os maiores. E a regulamentação
é fraca mesmo
em termos de exigir o reuso exigir um uso de água não potável para ações
que não precisam de água potável. É exigir, por exemplo, que toda grande
indústria tenha um piscinão para captação de água de chuva e uma estrutura de
reuso de água.
IHU On-Line – Em dezembro,
ocorreu a Assembleia Estadual de Água em São Paulo. O evento foi promovido pelo
grupo Itu Vai Parar, já que essa cidade da região metropolitana de São Paulo é
uma das mais afetadas pela crise hídrica. Qual foi o resultado desse encontro?
Pedro Telles - Essa Assembleia terá mais uma edição agora em
março. Esta marcada para acontecer em São Paulo. Esse grupo é dos diversos que
estão surgindo para discutir o uso da água. Estão com uma série de demandas
para com o governo. Como lidar com a crise, políticas públicas mais firmes são
alguns dos temas. Em termos concretos são um grupo
de pressão. E eles têm uma carta
de princípios, que foi
gerada a partir dessa Assembleia. São demandas e uma série de medidas a serem
tomadas por parte do governo.
IHU On-Line – O que o governo
do estado de São Paulo, governo federal e a sociedade civil podem fazer para
que episódios como esse de 2014/2015 não se repita?
Pedro Telles – Temos uma oportunidade ímpar com essa crise,
com todos os problemas que ela traz, de observar o nível a que chegamos com a
nossa atividade de gestão de recursos hídricos. É um nível extremo. Temos que
transformar isso em momento de virada em termos de como lidamos com a água aqui no
Brasil. Tem que haver uma mudança muito estrutural em termos das leis e
políticas públicas para a questão de área de manancial, questão de desmatamento
– que sofremos um revés forte com a questão do Código Florestal. Inclusive já tem um filme chamado “A
Lei da Água. O Novo Código Florestal” (2014) que fala exatamente das implicações do novo
Código sobre a questão da água. Enfim, é preciso mudanças estruturais em como
olhamos para essas questões.
Precisamos, ainda, olhar para o que existe na distribuição de recursos
hídricos, para políticas de despoluição de fontes que serviriam como recursos
hídricos e redução de grandes consumidores (indústria e agricultura). Há grande
volume de desperdício por causa desses grandes consumidores.
Assim, é preciso transformar essa crise na possibilidade
de mudança na
forma como geríamos a água. E, individualmente, há a chance das pessoas
adotarem medidas que gerem benefícios de longo prazo. Isso pode ser construindo
cisternas, ou até construir prédios que tenham sistema de reusos de água usada
em máquinas de lavar para descargas de vasos sanitários, por exemplo. Também é
preciso ter apoio por parte do governo, das organizações da sociedade
civil e da mídia para que essas medidas adotadas durante a
crise se tornem de fato uma mudança cultural. Transformar essa crise numa
oportunidade de mudança. É isso em essência. (ecodebate)


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