Rogério Jordão discute como a experiência da população que
vive nas regiões secas do semiárido brasileiro pode auxiliar as grandes
metrópoles.
Cisterna
Dica de quem convive com a seca no Brasil aos moradores das cidades:
captem água da chuva já!
Nesse momento de estiagem em São Paulo e no Sudeste é bom ouvir pessoas
como o pedagogo Rafael Santos Neves, coordenador do Programa Um milhão de
Cisternas da ASA – Articulação Semiárido Brasileiro. A ASA é uma rede com
mais de três mil organizações da sociedade civil de nove estados do Nordeste,
Norte e do Vale do Jequitinhonha (MG), baseada em Recife (PE).
Conversei com ele
por telefone para saber como a experiência da população que vive nas regiões
secas do semiárido brasileiro pode auxiliar o paulistano, ou qualquer morador
de cidade grande, a lidar com a escassez prolongada de água que se avizinha.
Rafael sabe do que fala: viu a seca de perto pelo trabalho que desenvolve junto
às famílias agricultoras – experiência que pode trazer inspiração aos que vivem
nas metrópoles brasileiras.
O que a ASA tem a
dizer sobre o manejo da água?
A resposta de
Rafael é direta e prática: “tem que estocar água da chuva”.
Como?
Com cisternas, que
são reservatórios de água preparados para captar a chuva, que no contexto urbano
poderiam servir a casas, prédios, escolas. No caso de uma cidade como São Paulo
é água que, por conta da poluição do ar, não serviria para beber, mas supriria
muitas necessidades do cotidiano (uma cisterna pode resolver até 50% da demanda
de uma casa).
Implementar
cisternas é o que a ASA faz há 15 anos especialmente no Nordeste e Minas
Gerais. O que começou como uma iniciativa de ONGs, sindicatos rurais e igrejas,
se transformou em programa do governo federal. Um raro exemplo de uma política
pública que nasceu de baixo para cima e vem dando certo: já foram instaladas
mais de 560 mil cisternas.
Para muita gente
do semiárido a instalação da cisterna foi a primeira vez que o Estado chegou
até elas. E mais importante: resolveu, em grande parte, o problema crônico da
água para muitas famílias rurais. O semiárido passa por uma estiagem prolongada
desde 2013. Não é a primeira, nem será a última, pois o fenômeno é cíclico:
aconteceu em 1927, depois em 1983 (esta, com efeitos trágicos para a
população).
E nas cidades
grandes do sudeste, como será lidar com a escassez?
Mudar a cultura,
mudar a relação com a água, mas transformar soluções individuais como a
colocação de cisternas em políticas públicas, é o que tem a dizer Rafael.
Em cidades como
São Paulo, isso significa que as ações governamentais deveriam se colar
mais às iniciativas da sociedade civil para enfrentar o problema comum da
escassez: sem esconder informações e também planejando de baixo para cima, na
medida do possível.
A chuva, para
Rafael, é um “bem”. Desperdiçá-la em períodos de estiagem prolongada, um
“crime”. Fica o conselho. (yahoo)
Nenhum comentário:
Postar um comentário