A água utilizada pela população de Natal era considerada como a mais
pura e saborosa do país e, consequentemente, um motivo de orgulho. O
crescimento urbano acelerado, entretanto, contribuiu decididamente para a
deterioração da qualidade desse amor-próprio potiguar. Tornou-se comum,
especialmente a partir da década de 80, as notícias de contaminação da água
fornecida à população.
Esse processo conduziu, inclusive, a mudanças no comportamento social. O
raro hábito de se beber água mineral foi se ampliando e, hoje, é uma prática
que atinge todas as camadas sociais. Água mineral se tornou um item obrigatório
nas listas de despesas da maioria das famílias potiguares.
Cabral et al. (2009) afirmam que apesar da importância que as águas
subterrâneas representam para o abastecimento da cidade de Natal, cerca de 65%
do total, sua qualidade, a cada dia, se deteriora em decorrência das
crescentes atividades urbanas. Righetto & Rocha (2005) relatam que dentre as
atividades mais impactantes, destaca-se a infiltração no solo de águas servidas
das fossas e sumidouros.
Cabral et al. (2009) estudaram a evolução hidroquímica do nitrato em
duas captações da porção Sul de Natal, abrangendo os bairros do Tirol e Nova Descoberta
(Captação Dunas) e o bairro de Planalto (captação Planalto) e compreendendo o
período de 1996 a 2006. Os tratamentos estatísticos desenvolvidos indicaram,
para o bairro Planalto, que os resultados de nitrato estavam abaixo do limite
de potabilidade vigente, mas existia uma tendência clara e preocupante de
aumento com o decorrer do tempo nos teores desse parâmetro A situação da
captação Dunas era mais grave e preocupante, já que os resultados para nitrato
indicavam, na grande maioria dos casos, valores típicos de contaminação
provenientes de efluentes domésticos. Além disso, Era indicado o agravante de
que esse processo de contaminação parece se incrementar com o passar dos anos.
Esse aumento de nitrato teria uma correspondência direta com o aumento da
densidade populacional associado à ausência de um sistema de saneamento
apropriado.
Os mapas de isoconcentrações de nitrato de 2006 a 2012 (Nascimento,
2012) evidenciam a evolução da contaminação na região de Natal e ilustram a
gravidade da situação. De maneira simplificada e elementar, pode-se afirmar que
Natal estava assentada sobre um magnífico aquífero, tanto no parâmetro de
reserva, como de qualidade de água e que o processo de crescimento urbano está
levando a desintegração irreversível e completa de sua potabilidade.
Isoconcentrações de Nitrato na cidade de Natal em 2006 e 2012.
(nascimento, 2012).
Uma lição simples e objetiva da história do Aquífero Barreiras em Natal
é que esse desastre ambiental não pode ser repetido. É fundamental assegurar
que em uma área com característica hidrogeológica similar, não se deva permitir
que processos contaminantes, antropogênicos, se instalem. Em termos práticos,
finalmente, é garantir a preservação ambiental, com criação de um tipo de
Reserva Hidrogeológica em setores onde o Barreiras tenha recursos e qualidade
hídricas significativas.
Em recente trabalho coordenado pela ANA-SEMARH-RN (Nascimento, 2012),
foram mapeadas na Região Metropolitana de Natal, espaços relativamente extensos
com alta favorabilidade à explotação do Aquífero Barreiras, devido ao potencial
expressivo de reserva hídrica em zonas com pouca ou nenhuma atuação
antropogênica. A região ao longo da média bacia do rio Maxaranguape é um dos
exemplos desse adequado ambiente.
Vegetação da região do Médio Maxaranguape.
A proposta, então, urgente e indispensável é a definição, após
detalhamento hidrogeológico e hidro geoquímico, de áreas de proteção de
aquíferos, para abastecimentos estratégicos. Essas reservas hidrogeológicas,
fundamentais para o fornecimento hídrico atual e futuro da sociedade, devem ser
radicalmente mantidas, estando imunes à atuação antropogênicas.
Malvezzi (2014) afirma que não existe, na lei brasileira de recursos
hídricos, nenhum parágrafo que normatize o cuidado com os mananciais, a não ser
um princípio geral da referida lei que afirma ser necessária a gestão dos
recursos hídricos integrada à gestão ambiental. O autor comenta, ainda, que não
existe nenhum programa relevante em termos de proteção dos mananciais e que sem
uma visão sistêmica do ciclo das águas e sem uma ética do uso da água que
implique o cuidado dos mananciais, comprometeremos sempre mais o abastecimento
humano, a dessedentação dos animais e os demais usos. (ecodebate)
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