Crise
da água muda hábito de moradores em São Paulo.
Armazenar água da
chuva, lavar menos louça, limpar a piscina de outro jeito: paulistanos contam
qual será o legado da seca histórica.
A maior crise hídrica da história de São Paulo
impôs novos hábitos à população em relação ao uso da água. Parte das 20 milhões
de pessoas da região metropolitana abastecidas pela Companhia de Saneamento
Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) está buscando formas alternativas de
captação do recurso para driblar a redução da pressão e o fechamento da rede e
se prepara para um eventual rodízio oficial. O objetivo é depender cada vez
menos da empresa e mais da chuva.
A mudança de hábitos é semelhante à que aconteceu
durante o apagão energético de 2001, quando a população também teve de se
adaptar. Naquela época, ganharam força as lâmpadas de baixo consumo e os
equipamentos mais econômicos.
Cada vez mais a captação de água da chuva vem se
tornando uma alternativa. O engenheiro de tráfego Weliton Bastos, de 42 anos,
montou um esquema no quintal de sua casa, no Ipiranga, zona sul de São Paulo,
para captar a água da chuva que se acumula na calha. Para isso, comprou duas
caixas de 500 litros. "Aqui em casa, mesmo se encher o Cantareira, não
vamos mudar mais nossos hábitos."
A água é usada para lavar o quintal e dar descarga.
Na chuva de 25/02 ele conseguiu
armazenar 760 litros. "Para mim é uma mudança de comportamento que vai
durar para sempre."
O sobrado da arquiteta Juliana Llussa, de 44 anos,
tem uma piscina de 36 mil litros na cobertura. Para evitar o desperdício, ela
parou de usar água da rua para encher a área de lazer e não usa mais o
aspirador para fazer a limpeza, prática que consome água. "Agora espero
chover para encher a piscina. Em vez de usar o aspirador, faço o tratamento com
cloro e a água fica limpa do mesmo jeito", disse.
Segundo ela, caso a crise se agrave, a água da
piscina será usada para a limpeza da casa. Ela também diz estar lavando menos
louça. "Não coloco mais os pires das xícaras na mesa do café. É uma louça
que suja pouco, não é essencial."
As dez famílias que dividem um terreno no
Sumarezinho, zona oeste, reduziram em 39,3% o consumo de água da Sabesp. Em
dezembro de 2013, os moradores consumiram 28 mil litros de água. Um ano depois,
o gasto era de 17 mil litros. "Aqui, quando chove, é até engraçado. Sai todo
mundo correndo com os baldes para pegar chuva. Como a rua é alta, a água não
chega na torneira", explicou a musicista Fernanda Barbosa, de 21 anos, que
mora em uma das casas.
Em 25/02 a reportagem contabilizou 600 litros de água em baldes.
"Vai ser para sempre. A gente consome menos água, paga um valor menor e
vive bem."
As mudanças atingem os comerciantes. O empresário Francisco Severiano
Alves, de 49 anos, investiu R$ 4000,00, no fim de 2014, para adaptar as calhas
e o reservatório de água de 20.000 litros que tem dentro de sua oficina
mecânica, em Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo. “A gente perdia muita água
da chuva, então fizemos as mudanças para conseguir aproveitá-la. É água de graça
para lavar peças, a garagem e usar no vaso sanitário.”
Paradigma
Para Antonio Eduardo Giansante, mestre em Engenharia Hidráulica e
Saneamento e professor da Universidade Mackenzie, as adaptações para conseguir
a “independência hídrica” são positivas. “É uma mudança de paradigma. As
pessoas estão tomando consciência de que a água é limitada.” Ele diz, porém,
que o poder público deveria dar mais informações e instruções sobre como armazenar
a água da chuva para evitar contaminação e dengue.
Segundo Malu Ribeiro, coordenadora da Rede das águas da SOS Mata
Atlântica, a mudança de comportamento foi o único aspecto positivo da crise
hídrica. “Para ser permanente, esse tipo de mudança tem de fazer parte do nosso
cotidiano, não apenas em tempo de crise.”
No São Paulo Futebol Clube, a limpeza de arquibancadas e de outras
áreas comuns está sendo feita com jatos de ar. “Buscamos cada vez mais
eficiência dentro do clube”, explica Eduardo San Martim, diretor do Meio Ambiente
do SPFC.
O consumo caiu de 5,9 milhões de litros, em outubro/14, para 2,4
milhões, em janeiro/15. A medida de maior impacto foi no gramado do Morumbi.
Como há minas no subsolo, o clube adaptou os veios, canalizou para um
reservatório e usa a água para irrigação. “O gramado é nosso local de trabalho
e precisa estar perfeito.” (OESP)
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