Pela primeira vez, governo admite que chuvas não vão
tirar o Sistema Cantareira da dependência da reserva profunda.
Mesmo com as chuvas acima da média em fevereiro e
março, o Sistema Cantareira não vai conseguir recuperar totalmente o volume
morto até o fim de abril, admitiu pela primeira vez o governo Geraldo Alckmin
(PSDB). Projeção feita pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE)
revela que o principal manancial paulista deve encerrar o próximo mês com nível
6% abaixo de zero, ou seja, ainda na reserva profunda.
“Poderemos atingir um total armazenado em torno de
420 bilhões de litros, ao fim de abril, 65 bilhões de litros abaixo do ‘zero’
do volume útil por gravidade”, afirmou o superintendente do DAEE, Ricardo
Borsari, em ofício encaminhado ao presidente da Agência Nacional de Águas
(ANA), Vicente Andreu, no dia 20 deste mês.
O volume de água é o mesmo registrado em 21/08/14. Os dois órgãos são responsáveis pela gestão conjunta do
Sistema Cantareira.
Sistema Cantareira abastece 5,6 milhões
O manancial, formado por quatro represas, tem 1,47
trilhão de litros, dos quais 982 bilhões fazem parte do volume útil, porque
ficam acima do nível dos túneis de captação e podem ser retirados por
gravidade, e 485 bilhões, do volume morto, que só podem ser captados por
bombas. Destes, 287,5 bilhões de litros foram liberados em duas cotas para a
Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) abastecer a
região metropolitana, onde 5,6 milhões de pessoas ainda dependem da água do
sistema.
Em 30/03/15, o Cantareira operava com 18,9% da
capacidade, segundo a Sabesp, que inclui as duas cotas do volume morto no
cálculo. Na prática, contudo, o nível estava em -10,4%, se considerada a
quantidade de água da reserva profunda usada como negativo, como quer o
Ministério Público Estadual (MPE). No sábado, o Estado mostrou que o sistema
tem atualmente 57% menos água do que há um ano, déficit de 243 bilhões de
litros.
O documento faz parte das negociações entre a ANA,
do governo Dilma Rousseff, e o DAEE, do governo Alckmin, para definir a
retirada de água do Cantareira. Por causa das discordâncias entre os órgãos,
desde 15 de março o manancial é operado pela Sabesp sem uma regra
estabelecida.
O presidente da agência federal quer definir uma
metodologia de operação e metas futuras de armazenamento até 30 de novembro.
No ofício, Borsari diz que a projeção considera a
manutenção das atuais condições de entrada de água (60% das médias mensais
históricas) e retirada (10 mil litros por segundo), como ocorre desde
fevereiro. Neste cenário, o volume morto só será recuperado no dia 22 de julho,
segundo o simulador lançado em janeiro pelo Estado.
Justiça
Justiça
Em ação civil movida em 2014, o MPE pede que os
gestores do Cantareira e da Sabesp operem o manancial para que ele chegue ao
fim de abril com 10% positivos, mesmo índice registrado em 30 de abril do ano
passado. O governo Alckmin afirma que essa meta é impossível de ser
atingida.
Após duas liminares terem sido concedidas e depois
derrubas pela Justiça, o juiz federal Wilson Zauhy Filho decidiu, na semana
passada, suspender o processo até o dia 11 de maio, quando o DAEE se
comprometeu a entregar, em juízo, os estudos da proposta que será feita pela
Sabesp para a renovação da outorga do Sistema Cantareira e as respostas às
propostas feitas pela ANA para a gestão do manancial durante a crise. (OESP)
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