A cidade de São Sebastião do Rio de
Janeiro, também conhecida como “Cidade Maravilhosa” foi fundada por Estácio de
Sá no dia 1° de março de 1565 e comemorou seus 450 anos em 2015. O Rio de
Janeiro foi a capital do Brasil entre 1763 a 1960. Atualmente é a segunda
cidade do país em termos populacionais e econômicos, ficando atrás apenas da
cidade de São Paulo.
A população carioca era de 811 mil
habitantes em 1900 e chegou a 3,3 milhões de pessoas em 1960, quando o
município deixou de ser a sede da capital federal do Brasil. Nas primeiras seis
décadas do século XX houve um aumento absoluto de 2,5 milhões de indivíduos.
Nas décadas seguintes a população carioca passou para 4,3 milhões em 1970; 5,1
milhões em 1980; 5,5 milhões em 1991; 5,9 milhões em 2000 e 6,3 milhões em
2010. Entre 1960 e 2010, o acréscimo foi de 3 milhões de pessoas. Em termos
absolutos, o crescimento demográfico foi maior nos últimos 50 anos do que nos
primeiros 60 anos do século XX. Mas em termos relativos o crescimento foi menor
e a população carioca deve atingir um pico entre 2020 e 2025.
A população da cidade do Rio de
Janeiro aumentou muito nos últimos 110 anos porque havia elevado crescimento
vegetativo (nascimentos – mortes) e altas taxas de imigração, o que
possibilitava a manutenção de uma estrutura etária jovem. Todavia, esta
realidade vem mudando rapidamente.
A população da “Cidade Maravilhosa”
liderou o processo de transição da fecundidade no Brasil. As mulheres cariocas
tinham em média cerca de 5 filhos em 1960, caindo para cerca de 3,5 filhos em
1970 e chegando ao nível de reposição (2,1 filhos) na década de 1980. Com isto
houve uma mudança na pirâmide populacional e a cidade do Rio de Janeiro passou
a liderar o processo de envelhecimento populacional no país.
Olhando a pirâmide de 1970, podemos
perceber que o maior grupo etário foi aquele nascido entre 1960-65 e que tinha
de 5 a 9 anos, quando o Brasil foi tricampeão mundial. O grupo etário 0-4 anos
no quinquênio 1960-65 representava cerca de 11% da população total. Para efeito
de comparação, o maior grupo etário brasileiro foi o de 0-4 anos entre 1980-85.
Portanto, a cidade do Rio de Janeiro estava na vanguarda do processo de transição
da fecundidade do país, com antecedência de 20 anos.
Concomitantemente, a população
carioca passou a liderar o processo de mudança da estrutura etária, com a
redução gradual dos grupos de idades mais jovens. O aumento do grupo etário 0-4
anos em 1980 (conforme pode ser visto na pirâmide) não ocorreu devido ao
aumento da fecundidade, mas sim porque havia muitas mulheres em idade
reprodutiva, especialmente nas idades de 15 a 24 anos.
Em 1991, a taxa de fecundidade total
(TFT) da cidade do Rio de Janeiro estava em 1,6 filhos
por mulher o que provocou uma diminuição do volume dos grupos etários 5-9 anos
e 10-14 anos na pirâmide do ano 2000. Mas a TFT aumentou para 1,9 filhos por
mulher em 2000, fazendo com que houvesse uma ligeira recuperação do tamanho do
grupo etário 0-4 anos na virada do milênio. Os pesquisadores Cavenaghi e Alves
(2006) levantam a seguinte hipótese para o ocorrido neste período:
“Mesmo com esta pequena elevação as taxas de
fecundidade do Rio de Janeiro continuam abaixo do nível de reposição. Esta
pequena variação para cima da fecundidade no Rio de Janeiro pode estar
relacionada com o ciclo econômico brasileiro e regional, já que os anos de 1987
a 1991 foram marcados pela recessão econômica e alta inflação, o que pode ter
contribuído para a redução dos nascimentos ou o adiamento da fecundidade,
enquanto os anos de 1995 a 2000 foram marcados pela estabilidade dos preços e
por um crescimento econômico pequeno, mas positivo, o que pode ter estimulado a
fecundidade e a antecipação dos nascimentos”.
Na primeira década do século XXI a
fecundidade voltou a cair para 1,6 filhos por mulher e a base da pirâmide
apresentou uma redução bastante rápida. A pirâmide populacional de 2010 mostra
que todos os grupos etários abaixo de 25 anos são menores do que o grupo 25-29
anos. Isto quer dizer que a quantidade de mulheres entrando no período
reprodutivo vai diminuir nos próximos anos e décadas. A combinação de baixa TFT
e menor número de mulheres em período fértil significa menor número de
nascimentos e um estreitamento ainda maior da base da pirâmide.
O percentual da população carioca com
menos de 40 anos era de 73% em 1970, passou para 70% em 1980, para 64% em 2000
e caiu para 59% em 2010. Portanto, a base da pirâmide está se estreitando de
maneira acelerada. Por consequência, a parte da população acima de 40 anos está
crescendo rapidamente.
Uma forma de avaliar a mudança da
estrutura etária é por meio do Índice de Envelhecimento (IE). Em 1970 havia na
cidade do Rio de Janeiro 1,28 milhão de crianças e adolescentes de 0-14 anos e
323 mil idosos (60 anos e mais). Em 2010 estes números haviam passado,
respectivamente para 1,22 milhão e 940 mil. Ou seja, o número de crianças de
adolescentes diminuiu entre 1970 e 2010 e o número de idosos triplicou no mesmo
período. O Índice de Envelhecimento passou de 25 em 1970, para 33 em 1980, 57
em 2000 e 77 em 2010. Provavelmente teremos mais idosos do que crianças e
adolescentes no próximo censo em 2020 (IE maior do que 100). É possível também
que, em 2020, o número de idosos de 80 anos e mais seja maior do que o número
de crianças de 0-4 anos.
A cidade do Rio de Janeiro completou
400 anos em 1965 e 450 anos em 2015. As transformações demográficas ocorridas
nestes 50 anos foram as maiores da história. A “Cidade Maravilhosa” deixou para
trás uma estrutura etária jovem e caminha para um envelhecimento cada vez
maior. Isto também significa uma diminuição do ritmo de crescimento da
população. Tudo indica que estas tendências vão se aprofundar ainda mais nos
próximos anos.
Sendo assim, não é difícil prever que
o volume total da população carioca vai atingir um pico em breve e vai começar
a diminuir no quinquênio 2020-25 (20 anos antes do Brasil). A dúvida não é se
vai haver decrescimento do número de habitantes, mas em que ritmo isto vai
acontecer. Porém, o futuro da dinâmica populacional do Rio de Janeiro dependerá
dos níveis prospectivos das taxas de fecundidade e das taxas de migração.
Estas, por sua vez, dependem do desempenho econômico, social e ambiental.
O envelhecimento populacional é uma
realidade indiscutível. Já o decrescimento populacional é a tendência provável.
Alguns pronatalistas vão ficar alarmados com a redução do volume da população
carioca. No campo oposto, provavelmente, os ambientalistas e os críticos do
modelo econômico que gera desigualdade social, degradação da natureza e
imobilidade urbana não reclamarão. O certo é que a nova realidade demográfica
da capital fluminense vai trazer novos desafios e novas oportunidades. Menor
densidade demográfica pode contribuir para uma melhor qualidade de vida humana
e ecossistêmica. (ecodebate)
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