quinta-feira, 9 de julho de 2015

Ocupação da bacia hidrográfica do rio Mississipi

Lições da ocupação da bacia hidrográfica do rio Mississipi
Bacia hidrográfica do rio Mississipi.
Este rio se mistura com a notável e relevante história dos Estados Unidos. Cruzando o país de norte a sul, no meio leste americano, desemboca num delta onde se situa a cidade de Nova Orleans, profundamente afetada pelo episódio do furacão Katrina na década passada. O rio nasce no Minesota e segue para o sul. A partir do estado de Ohio corre a fração meridional do rio, que tem uma profunda ligação histórica com vários ritmos musicais desenvolvidos a partir de descendentes dos primeiros escravos americanos, citando-se o jazz, blues e a própria música gospel.
A ocupação da bacia hidrográfica do rio Mississipi se confunde com a história americana. No sul se desenvolveram utilizando a mão de obra escrava, as primeiras grandes plantações de algodão. Mesmo na rica sociedade americana, o débito com os irmãos negros nunca foi e talvez nunca seja resgatado nem na dimensão econômica, e muito menos no aspecto existencial, onde provavelmente seja impossível qualquer forma de compensação.
Mas além desta inesquecível lição de conotação ou valor humanístico, a bacia hidrográfica do rio Mississipi deixa, no mínimo, mais 2 experiências relevantes, que podem e devem ser objeto de reflexão permanente e sem preconceito. O rio Mississipi ensina que não é possível escravizar a natureza, assim como não foi possível escravizar pessoas. E a geologia da bacia hidrográfica do rio Mississipi, ensina grandes fundamentos na manutenção de reservas hídricas, seu transporte e no abastecimento de água às populações.
Os primórdios da economia americana foram estimulados pelas primeiras safras de algodão, desenvolvidas sobre planícies aluviais enriquecidas de nutrientes pelas deposições de sedimentos pelas enchentes do rio Mississipi, que extravasava e alimentava suas planícies. Este processo é muito importante e constitui fundamento da evolução fluvial, que necessita das planícies para extravasamento e além da fertilização superficial, provê a realimentação de água aos aquíferos sedimentares em rochas psamíticas existentes nas camadas subterrâneas.
Logo não é viável querer restringir a vida de qualquer curso de água apenas no canal principal de escoamento. Certamente influenciada por uma época onde escravizar pessoas era admissível, se desenvolveu a concepção de perenizar o rio em sua caixa de drenagem e impedir que as enchentes alcançassem as planícies. Ora, hoje se tem conhecimento e consciência de que esta missão é impossível. Mas na época, certamente a arrogância e autossuficiência com a concepção cartesiana de que a tecnologia adequadamente utilizada podia controlar a natureza, falaram mais alto.
Em algum momento o corpo de engenharia do exército americano certamente de inegável capacidade técnica, foi chamado a contribuir nesta missão. Então se criaram redes de barragens na fase madura ou senil do rio, acompanhadas de diques de terra e muros de concreto, limitando o curso do rio e impedindo sua conexão com as planícies de inundação. Não se conhece as datas em detalhe, mas os fatos são absolutamente verdadeiros. Depois de concluída toda esta obra de engenharia, embora dos alertas de parte do corpo de engenheiros, que já tinha se apercebido da inviabilidade da tarefa, em poucos meses sobreveio uma enchente e acabou com todas as intervenções antrópicas.
A mensagem certa já havia sido enviada e nem houve tentativa de reconstrução da malfadada estrutura de contenção, constituída de vários elementos integrados, destacando-se barragens de contenção, diques e canais. Não se escravizam pessoas e não se deve acorrentar ou tentar agrilhoar rios e a natureza. Com os seres humanos e com os recursos naturais é preciso desenvolver uma relação de harmonia e equilíbrio. O resto é desenfreada pretensão, acreditar que sistemas políticos ou artefatos tecnológicos possam substituir bom senso e homeostase.
Já no século atual, cidade atingida pela bacia hidrográfica do rio Mississipi necessitava reforçar suas fontes de abastecimento de água. Não ocorre a lembrança exata se era Memphis no Tenesse ou Denver no Colorado. E não importa muito o local, interessa o fato. Diante da escassez de recursos hídricos para abastecimento das populações, houve grande criatividade associada a conhecimento técnico da geologia da área. Na bacia sedimentar do Mississipi existia uma camada estratigráfica de rochas areníticas que podiam armazenar e transportar água para níveis topográficos inferiores. Semelhante ao arenito Botucatu na bacia gondwânica do rio Paraná no Brasil, que assenta e armazena o denominado aquífero Guarani, englobando vários países sul-americanos.
Então em geomorfologias mais elevadas se construíram reservatórios que aumentaram a pressão hidrostática e permitiram a infiltração de água até a camada de rochas sedimentares porosas. E então, estas rochas transportaram a água de forma subterrânea até o subsolo do núcleo urbano de interesse. E de lá, as águas foram extraídas e recuperadas por poços tubulares.
Engenhoso e criativo. O rio Mississipi perpetua aprendizados para a sociedade humana. Ensina que pessoas e a natureza não podem ser agrilhoadas. Aliás, pessoas fazem parte do meio natural. Então está se falando da mesma coisa. Este rio com alma traz aprendizados tão inesquecíveis como seu próprio espírito, que corre eterno, ao lado das almas humanas. (ecodebate)

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