Em 2014, o mercado brasileiro de equipamentos
eletrônicos movimentou R$ 2,5 bilhões. A cada minuto, foram vendidos no País
104 smartphones, 19 computadores e 18 tablets. Daqui a algum tempo – não muito
– esses aparelhos serão substituídos por outros. Estes, por uma nova geração de
produtos, que também serão trocados pouco depois. Do ponto de vista econômico,
o ciclo é fundamental, porque gera negócios e, portanto, lucro. Mas ele traz um
problema: o lixo eletrônico, conhecido como e-lixo. Um relatório divulgado
recentemente pela Organização das Nações Unidas prevê que o mundo terá 50
milhões de toneladas de resíduos em 2017. Os dados ainda mostram que, todos os
anos, até 90% desse material, com valor estimado em US$ 19 bilhões, são
comercializados ilegalmente ou jogados no lixo comum.
De acordo com cálculos da ONU, o mercado global de
resíduos eletrônicos, desde a coleta até a reciclagem, movimenta em torno de
US$ 400 bilhões por ano. “É um setor super-rentável”, diz Ana Maria Luz,
presidente do Instituto GEA, ONG especializada em educação ambiental. “Falta
apenas implementar políticas públicas e privadas para estimular esse mercado.”
A ONU reconhece que o assunto está começando a figurar na agenda política
internacional, embora ainda seja subestimado. O e-lixo produzido no mundo varia
de acordo com a riqueza e a consciência ambiental de cada país. Vão desde os 63
quilos gerados por uma pessoa do Catar (que detém a renda per capita mais alta
do mundo) passando pelos 30 quilos dos americanos, os 18 de quilos de um
espanhol e os sete quilos de um brasileiro. Detalhe: o Brasil recicla apenas 2%
de seu e-lixo. “As pessoas não sabem o que fazer com esses resíduos”, afirma a
bióloga Aline Mellucci, coordenadora do Centro de Descarte e Reuso de Resíduos
de Informática da USP. Ao lado do técnico André Rangel, ela comanda o
departamento da universidade que recicla cerca de 100 toneladas de lixo
eletrônico, o que equivale a 90% de equipamentos de informática da própria
universidade.
O Brasil foi o primeiro País da América do Sul a
criar, em 2010, uma lei para regulamentar o setor. Até agora, porém, ela não
entrou em vigor. “Estamos acertando alguns pontos com os empresários e
esperamos a assinatura de um acordo até o final do ano”, diz Beatriz Martins
Carvalho, coordenadora de desenvolvimento sustentável do Ministério da
Indústria, Desenvolvimento e Comércio Exterior. Cálculos do governo estimam que
a reciclagem do lixo eletrônico tem potencial para gerar dez mil empregos e
injetar R$ 700 milhões na economia brasileira. “O nosso maior problema é que
não conhecemos com profundidade esse mercado”, diz Beatriz. “Não temos dados
suficientes sobre a indústria de reciclagem, a quantidade de resíduos produzidos
e como resolver os problemas de coleta e reciclagem em um País de tamanho
continental como o Brasil.”
Criar parcerias com os diferentes agentes da cadeia
de reciclagem tem sido uma estratégia de sucesso. O Instituto GEA, em conjunto
com universidades como a USP, capacita coletores de resíduos, ensinando-os a
separar o lixo eletrônico adequadamente. Em dois anos, a parceria já treinou
mais de 300 catadores. Graças a ações desse tipo, algumas cooperativas de lixo
aumentaram seus ganhos em até 900%. “A gente aprende que reciclar o lixo
eletrônico não é importante apenas para o meio ambiente, mas também para
valorizar o nosso trabalho”, afirma uma das participantes do curso da USP,
Marli Monteiro Andrade, presidente da Cooperativa de Catadores de Cotia, na
região metropolitana de São Paulo. “No ano passado, trabalhamos 140 toneladas
de resíduos, sendo que 15% eram lixo eletrônico, o que proporcionou uma renda
mensal de R$ 2,2 mil para cada um dos 32 cooperados”, comemora Marli. “Só não
crescemos mais por falta de produtos e espaço.” (sesconfloripa)
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