Estudo internacional avalia
causas da crise hídrica no Sudeste do Brasil
O
aumento da população e do consumo de água são apontados como os principais
fatores associados à crise hídrica no Sudeste do Brasil, segundo estudo
realizado por uma rede internacional de cientistas, da qual participa o Centro
de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE).
Intitulado
“Factors other than climate change, main drivers of 2014/15 water shortage
in southeast Brazil”, o estudo publicado no boletim da Sociedade Americana
de Meteorologia não identificou alterações no risco climático induzidos por
atividades humanas para a ocorrência de eventos extremos como a recente seca no
Sudeste.
“As
pessoas estão interessadas em saber se as influências humanas em nosso meio
ambiente estão afetando as condições de tempo e clima que vivenciamos hoje”,
diz Caio Coelho, do CPTEC/INPE. Segundo o pesquisador, secas podem ser
estudadas sob várias perspectivas e esse trabalho examinou o fenômeno em termos
de falta de chuva, disponibilidade e consumo de água.
As
consequências ou impactos da seca, como a redução no fornecimento de água, o
crescimento do número de casos de dengue e o aumento dos preços da energia, são
resultado da baixa disponibilidade de água em combinação com o número de
pessoas e infraestrutura afetadas.
Foram
empregados três métodos independentes para analisar o papel do aquecimento
global induzido pelas atividades humanas na falta de chuva e disponibilidade de
água. O primeiro método empregou análises estatísticas dos dados históricos de
precipitação para avaliar tendências nos eventos extremos observados desde
1941. Os resultados dessas análises indicaram que o déficit de chuva registrado
no Sudeste em 2014/15 foi excepcional, porém não único, uma vez que condições
similares foram observadas na região em 1953/54, 1962/63 e 1970/71.
O
segundo método identificado como weather@home
usou resultados de milhares de simulações produzidas por um modelo climático
atmosférico, reconhecido pela comunidade científica internacional como
estado-da-arte, para executar duas análises distintas: uma que representa o
clima atual assim como observado durante o evento de seca 2014/15, e outra que
representa o mesmo evento de seca, porém em um mundo hipotético sem a
interferência humana na concentração de gases causadores do efeito estufa. O
terceiro método utiliza modelos climáticos globais acoplados oceano-atmosfera
do projeto internacional de intercomparação de modelos acoplados versão 5
(CMIP5).
A
aplicação dos três métodos de forma independente levou a conclusão de que a
frequência de ocorrência de seca em termos de disponibilidade de água nos
últimos anos não foi influenciada pelas alterações climáticas promovidas pelas
atividades humanas. O estudo indicou que a falta de chuva no sudeste do Brasil
em 2014 e 2015 foi excepcional, porém não incomum, com o mais recente episódio
de seca observado em 2001.
“Estudos
empregando métodos múltiplos como este são importantes para ajudar a responder
questões de direta relevância e interesse de diversos setores da sociedade após
a ocorrência de eventos climáticos de grande impacto. O modelo weather@home, que roda em uma grande rede
voluntária de computadores pessoais, produz um imenso volume de dados,
fornecendo aos cientistas confiança para avaliar quantitativamente se os gases
do efeito estufa impactaram o evento de seca de 2014/15 em São Paulo. Este é um
aspecto inovador do estudo que permite ao público se envolver diretamente na
ciência”, diz Coelho.
O
estudo foi executado por uma rede internacional de pesquisadores do CPTEC/INPE
(Brasil), KNMI (Holanda), Universidade de Oxford (Reino Unido), Universidade de
Melbourne (Austrália), Centro Climático da Cruz Vermelha (Holanda),
Universidade de Amsterdã (Holanda), Universidade de Utrecht (Holanda),
Universidade de Columbia (Estados Unidos da América), IRI (Estados Unidos da
América) e NASA (Estados Unidos da América), sob coordenação da Climate Central
(Estados Unidos da América). (ecodebate)
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