O
que seria de nós, seres humanos, sem a possibilidade de desenvolver o
pensamento utópico? Hoje resolvi narrar o meu discurso com esse princípio sobre
a condução do combate ao aceleramento das mudanças climáticas e do aquecimento
global, em que o palco das discussões é a 21ª Conferência das Partes da
Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança Climática (COP21).
Na
configuração da geopolítica mundial, finalmente as palavras talvez e não
deixarão de ser acentuadas e serão substituídas por ações afirmativas que se
enquadrarão nas concretizações dos tratados, dos acordos e da história
socioambiental tecidas nos últimos 50 anos. Afinal, desde a Convenção do Clima,
instituída a partir da Rio-92, o problema só se agrava e o apelo da sociedade
civil, do lado de fora do centro das negociações, não ganha eco, de fato, no
dia a dia das deliberações das nações.
Nessa
linha de raciocínio, o rascunho de 55 páginas do atual acordo, com quase duas
mil aspas que denotam a dificuldade de consensos, se constituirá em dezembro em
algo coerente, praticável e sustentável, na conferência oficial em Paris, e
será vinculante. Que os cento e cinquenta países que estabeleceram publicamente
seus compromissos de redução de emissões de dióxido de carbono até 2030
principalmente, revelem a mudança do paradigma de desenvolvimento de nosso
mundo. A concretização do pós-Kyoto não repita os erros anteriores em um modelo
de economia equivocado e predatório, que amplia a injustiça socioambiental.
Neste
cenário, floresçam estadistas e diplomatas, com a vocação do Papa Francisco que
faz valer páginas e páginas, como a Laudato Sí, que foi o grande documento
socioambiental lançado por ele, neste ano. E os representantes dos países
insulares e da África Subsaariana tenham espaço e sejam atendidos pelo Fundo do
Clima em suas necessidades de adaptação e sobrevivência. O mundo dos
combustíveis fósseis seja substituído pela energia limpa, sem mas e poréns
construídos nas políticas desenvolvimentistas.
O
campo das negociações não acontecerá mais em salas compactadas na frieza que
não ecoa no externo, da vida real. Os negociadores dos países partirão para
onde estão os problemas e as soluções. Choque de realidade e inovação. A matriz
energética mundial e o modelo de consumo da humanidade que segue para a casa
dos 10 bilhões de pessoas serão calcados no consumo eficiente. Os eventos
extremos que crescem em decorrência do descompasso do ser humano com a natureza
estacionarão e não existirá mais a dicotomia entre países ricos e pobres neste
enfrentamento. E aquela pergunta recorrente deixará de existir: quem vai pagar
a conta? O entendimento de custo-benefício será outro.
O
Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas (IPCC) terá um efeito,
pode-se dizer terapêutico, sobre os governantes e os 196 diplomatas que
constroem as negociações. Quando os cientistas orientam sobre as medidas
necessárias para ter um mundo com menos de dois graus de aumento da temperatura
média em meados do final do século, a matemática das ações dos gestores
públicos, do universo empresarial e da sociedade como um todo entrará em
sintonia de ações.
O
ator Brasil
E o
Brasil nesta conjunção de atores? Deixará de ser ambíguo entre o seu discurso
descrito em planos e sua política interna. Chegará ao desmatamento zero e não
fará valer os mais pessimistas prognósticos do documento Brasil 2040; cenários
e alternativas para adaptação à mudança do clima, elaborado pela extinta
Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE).
O
anúncio do compromisso do governo brasileiro de reduzir 43% das emissões de
gases de efeito estufa até 2030, com base em 2005, o que já é bem perto do que
acontece hoje, segundo relatórios, terá um percentual muito maior, neste campo
das utopias. E o país não terá só a pretensão de colocar fim ao desmatamento
ilegal (um questionamento pertinente: afinal, há desmatamento legal e em que
proporções e em benefício de quem?) e fazer o reflorestamento de 12 milhões de
hectares; a recuperação de 15 milhões de hectares de pastagens degradadas e a
integração de 5 milhões de hectares de lavoura, pecuária e florestas. Fará isso
e muito mais, terá uma política agrícola compatível com a ambiental, o que não
ocorre atualmente.
Essas
utopias não têm fim e se somadas de forma coesa por milhões de pessoas no
mundo, que têm estes mesmos anseios, quem sabe, podem fazer a diferença nos
resultados da Conferência. Uma pressão avassaladora, incontestável e que não
seja driblada por discursos vazios. (ecodebate)
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