Chuvas de
janeiro/16 garantem forte recuperação aos reservatórios que abastecem a Grande
BH
Chuvas
dobram o volume do Sistema Paraopeba, aliviando o papel da nova captação da
Copava no manancial e reforçando a expectativa de atravessar período de
estiagem sem racionamentos.
Em
Serra Azul, o cenário agora é de abundância: o nível da represa chegou a
23,7% de sua capacidade.
Onde
nos últimos dois anos se via o fundo seco do leito do lago de Vargem das
Flores, em Betim, em que o pasto cresceu e barcos encalharam, agora motos
aquáticas e lanchas aceleram. Em Serra Azul, na Barragem de Juatuba
,que foi o reservatório da Grande BH mais castigado pela seca, as
águas já preenchem vales que funcionários da Copasa achavam só voltar
a ser parte da lagoa com mais de dois anos de chuvas fortes. Já em Brumadinho,
onde fica Rio Manso, o maior reservatório da região, cinco bombas
flutuantes espalhadas pela represa mostram que a companhia de abastecimento
se preparava para sugar do chamado volume morto, que é quando o espelho
d’água se retrai tanto que foge ao alcance da captação instalada. As chuvas
de janeiro – as mais vigorosas em quatro anos – nos três reservatórios
que compõem o Sistema Paraopeba e abastecem mais de 30% da Grande BH
trouxeram de novo opulência aos lagos exauridos por três anos de estiagem
e reforçam a confiança da Copasa em atravessar a seca sem rodízios
ou racionamentos. E a ajuda dos céus promete ser grande, já que há meteorologistas
confiantes no retorno das longas estações chuvosas.
Só
as precipitações deste mês mais que dobraram o volume do Sistema
Paraopeba. O somatório dos três reservatórios chegou a apresentar em
dezembro 21,3%, o pior nível histórico, mas um mês de chuvas foi suficiente
para elevar esse patamar para os 43,1% registrados ontem pela
Copasa. De acordo com o Inmet, choveu 370 milímetros entre 1º de janeiro
e 28/01/16 na Grande BH. O volume é tão expressivo, que só perdeu
para o mesmo período de 2011, que fechou com 375,8 milímetros.
Um
incremento que especialistas consideram importante, mas que não
permite ainda afirmar com certeza se será capaz de impedir grande
abatimento da água reservada. Se a seca deste ano for como a da última
temporada, por exemplo, quando a redução experimentada foi de 17,7%
no volume do Paraopeba, isso sequer ultrapassaria os ganhos de janeiro,
sendo que ainda há precipitações consideráveis previstas pelo Instituto
Nacional de Meteorologia (Inmet) para fevereiro e março. Contudo,
se a estiagem for rigorosa como a de 2014, quando um percentual de
43% do volume do Paraopeba foi sugado ou evaporou entre fevereiro
e dezembro, seria preciso reforço além do conferido pelas chuvas
deste mês. Segundo a Copasa, os piores cenários são sempre levados
em conta quando traçado o planejamento anual, justamente para que
se possa fazer frente à demanda.
Antes
mesmo de o mês acabar, as chuvas nos sistemas produtores de água já superavam
a média histórica de 31 dias de janeiro. Até o final de janeiro/16 o Rio das Velhas registrava acumulado pluviométrico de 406,9 milímetros,
número superior à média histórica do mês, de 302 (-34,7%), e oito vezes
maior que os 50,1 milímetros acumulados no mesmo período do ano
passado. Mas, para o presidente do Comitê da Sub-bacia Hidrográfica
do Rio Paraopeba (CBH-Paraopeba), Denes Lott, as chuvas, por enquanto,
serviram apenas para aliviar o papel da captação inaugurada pela
Copasa no manancial, em 21 de dezembro, e que tem como função manter
o fornecimento de água enquanto os reservatórios se recuperam.
Limites
No
entanto, pelo que o comitê tem avaliado com meteorologistas e especialistas,
ainda não é possível determinar se o incremento das chuvas será suficiente
para atravessar o período seco. “Não dá ainda para dizer com segurança
se o volume que ganharmos com as chuvas vai ser suficiente. Temos tido
contato com especialistas que preveem uma seca prolongada novamente,
que iria além do normal e, em vez de se encerrar em setembro, se prolongaria
até outubro”, disse.
Não
são todos os meteorologistas que compactuam com essa ideia. Segundo
o professor Ruibran dos Reis, do Climatempo, um bloqueio formado pelas
altas temperaturas nas águas do Oceano Atlântico entre o Rio Grande
do Sul e a África se foi, propiciando desde dezembro a chegada de massas
de ar frio formadoras de chuva. “Teremos chuvas acima da média em fevereiro,
a partir de meados do mês, e uma estação seca menor”, prevê.
A
Copasa ainda trata com cautela a situação. “A quantidade de água existente
nos reservatórios do Sistema Paraopeba ainda não é suficiente
para o pleno abastecimento das cidades atendidas por ele”, informa
a empresa por meio de nota. “No entanto, o risco de desabastecimento
está afastado, pois a Copasa já opera com o bombeamento no Rio Paraopeba”,
informou.
Em 07/01/16 o segundo principal reservatório no abastecimento da Grande BH estava reduzido a um filete de água.
Em 07/01/16 o segundo principal reservatório no abastecimento da Grande BH estava reduzido a um filete de água.
Duas
faces de um reservatório
O
barro trincado que antes era inundado por um lago de 8,9 km2
– três lagoas da Pampulha – chegou a estar tão seco que em certos pontos
viram-se com nitidez as margens originais do Ribeirão Serra Azul, barrado
em 1983 para formar o reservatório de Serra Azul, segundo maior em
abastecimento na Grande BH. Por poucos metros, a água não escapou das
aberturas da torre de captação, tornando impossível sugar o líquido
sem o auxílio de outros métodos que precisariam beber do chamado volume
morto. Por causa da penúria em Serra Azul mostrada pelo Estado de Minas
em 21/01/15 a Copasa e o governo do estado anunciaram medidas de controle
de desperdício, uma campanha para economia de água e admitiram que a
Grande BH passava por uma crise hídrica. Naquele momento, o reservatório
bateu em 5,7% de seu volume. Tudo levava a crer que isso se repetiria
neste ano, quando a represa voltou ao mesmo patamar, em dezembro, mas
o cenário mudou com o grande volume de chuvas deste mês, que chegou a
485,6 milímetros, índice quatro vezes maior que os 115,3 do mesmo período
do ano passado e 70% superior aos 285,7 da média histórica, e que levou
o represamento a atingir ontem 23,7% da capacidade.
Em 07/01/16 o EM
fotografou
a represa, então com um volume equivalente a 7,3% de sua capacidade. Depois
das chuvas, já em 27 de janeiro, quando o volume chegou a 20,6% da capacidade,
as alterações eram visíveis. Várias pontes rurais que tinham sido
inundadas para formar o reservatório e ressurgiram com a seca agora
voltam a ser envoltas pelo líquido límpido da represa que tem a melhor
qualidade do Sistema Paraopeba. Ilhas e bancos de areia que despontavam
de locais de acúmulo de água estão mais uma vez no fundo. O terreno trincado
do leito exposto ao sol agora é riscado por rastros largos de enxurradas
que aos poucos devolvem o volume perdido ao represamento que vinha
até sendo poupado da captação rotineira.
O reservatório de Rio Manso foi o que mais se
beneficiou com as chuvas, que injetaram 563,3 milímetros num período
em que o normal seria uma média de 288,2 milímetros. Com isso, o maior reservatório
do Sistema Paraopeba, em Brumadinho, e que chegou ao volume de
28,7% na seca, em dezembro, subiu para 52,6%, de acordo com o último boletim
da Copasa. Para o presidente do Comitê da Sub-bacia Hidrográfica do
Rio Paraopeba (CBH-Paraopeba), Denes Lott, os dois reservatórios
não se recuperaram apenas esperando as chuvas e com a captação que a
Copasa fez no fim do ano passado no Paraopeba. Ele lembra que as outorgas
no entorno dos reservatórios chegaram a ser reduzidas depois de o
Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) ter declarado estado de
escassez hídrica com restrição de uso das águas.
No Sistema Vargem das Flores, em Betim, de
20,4% em novembro, o represamento já apresenta mais de 48%. Uma festa
para quem leva motos aquáticas e lanchas ou pesca e nada na lagoa. Mas
esse é justamente o lado ruim desse aumento de volume da lagoa, segundo
ambientalistas. “A gente achou que, com a seca, as pessoas ficariam mais
conscientes, mas nem a lagoa encheu direito e já a estão poluindo
com o combustível dessas embarcações e o lixo de quem não a preserva”,
lamenta o presidente da Associação dos Protetores, Usuários e
Amigos da Represa Várzea das Flores, Ronner Gontijo. “Agradecemos as
chuvas, mas não melhoramos os cuidados com as nascentes, há prefeituras
que retiram água ilegalmente do reservatório, há captações clandestinas
e poluição”, lamentou. (em)
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