A
geóloga Lorraine Lisiecki da Universidade da Califórnia em Santa Barbara,
descobriu um padrão que associa as mudanças regulares do ciclo orbital da Terra
com as alterações no clima da Terra, analisando dos últimos 1,2 milhão de anos.
Lisiecki
realizou sua análise climática examinando sedimentos do oceano. Os núcleos
analisados vieram de 57 localidades ao redor do mundo [Lisiecki & Raymo,
2005]. Através da análise de sedimentos, os cientistas podem traçar o passado
do clima da Terra, há milhões de anos. Agora, a contribuição de Lisiecki foi
estabelecer o vínculo entre o registro do clima com a história da órbita
terrestre.
Sabe-
se que a órbita da Terra em torno do Sol muda de formato a cada 100.000 anos. A
órbita em volta do Sol se torna mais ou menos elíptica nestes intervalos. O
formato de uma órbita é estabelecido pela sua excentricidade. Outro importante
aspecto relacionado é o ciclo de 41.000 anos da inclinação do eixo da Terra, o
ciclo de Milankovitch.
As
eras glaciais na Terra, também ocorrem ciclicamente, a cada 100.000 anos.
Lisiecki sugere que o calendário das mudanças no clima e o histórico das
mudanças em sua excentricidade têm sido coincidentes. “A clara correlação entre
o momento de mudança na órbita e as mudanças no clima da Terra é uma forte
evidência de uma ligação entre os dois”, disse Lisiecki. “É improvável que
esses eventos não estejam relacionados entre si.”
Além
de encontrar uma estreita ligação entre a mudança no formato da órbita e o
início da glaciação, Lisiecki encontrou uma correlação surpreendente. Ela
descobriu que os ciclos glaciais de maior duração ocorreram durante o período
de menores mudanças na excentricidade da órbita da Terra e vice-versa.
Por
outro lado ela constatou que as mudanças mais fortes na órbita da Terra se
correlacionavam com as mudanças mais fracas no clima. “Isso pode significar que
o clima da Terra tem uma instabilidade interna, além da sensibilidade às
mudanças na órbita”, disse Lisiecki.
A
geóloga conclui que o padrão de alterações climáticas ao longo dos últimos
milhões de anos provavelmente envolve interações complexas entre as diferentes
partes do sistema climático, bem como três diferentes sistemas orbitais. Os
dois primeiros sistemas orbitais a serem considerados são a excentricidade da
órbita e sua inclinação ou obliquidade. Outro elemento é a precessão, ou seja,
as mudanças na orientação do eixo de rotação do planeta.
Para
entender mais sobre estes fenômenos, recomendamos a leitura do artigo Precessão
do Eixo da Terra da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde se
encontram as explanações descritas a seguir.
A
precessão do eixo de rotação da Terra é causada pelas perturbações da Lua e do
Sol na Terra. Ela faz que, na data de uma estação, a Terra esteja em uma
posição diferente na órbita em torno do Sol, com o passar do tempo.
A
precessão do periélio da Terra é causada principalmente pelas perturbações
gravitacionais dos planetas gigantes, Júpiter e Saturno sobre a órbita da
Terra; estas perturbações fazem que a precessão em relação ao Sol tenha um
período de cerca de 21.000 a 23.000 anos, e não no período de 25.770 anos de
precessão em relação às estrelas. Este efeito, da mudança da data de periélio,
tem pouca influência nas estações.
Outro
efeito de muitos corpos é a variação da obliquidade da eclíptica, em torno do
valor médio de 23,4 com um período da ordem de 41 mil anos, conhecido como o
ciclo de Milankovitch, proposto pela astrônomo sérvio Milutin Milankovitch
(1879-1958) em 1920, para explicar as idades do gelo. As evidências indicam que
o ciclo climático mais importante é da ordem de 100 mil anos, o que coincide
com o ciclo de excentricidade.
Por
outro lado, a variação em excentricidade constitui o fator que menos influencia
a variação em insolação na Terra. Nota-se que a idade do gelo se reforça, pois
quando a Terra está coberta de gelo ela reflete mais luz do Sol ao espaço,
aumentando o esfriamento.
Não
se pode reduzir o aquecimento global a um mero exercício astronômico.
Obviamente, a ação deletéria de natureza antrópica ocorre e age sobre o clima.
Mas ocorre uma multifatorialidade de interferências que torna a questão
climática bem complexa. (ecodebate)
Nenhum comentário:
Postar um comentário