Um
estudo de âmbito internacional em andamento, conduzido por pesquisadores da
Unicamp e de outras instituições e centros de pesquisa, traz uma série de dados
inéditos sobre o impacto das mudanças climáticas na zona costeira do município
de Santos, no litoral sul de São Paulo.
Conforme
a pesquisa, que envolveu também uma cidade do Reino Unido e um condado dos
Estados Unidos, a elevação do nível do mar no município paulista pode aumentar
18 centímetros até 2050 e 36 cm até 2100, num cenário médio. Associada a
eventos climáticos extremos, entre os quais ressacas e marés altas, esta
elevação poderia causar prejuízos cumulativos da ordem de R$ 1,3 bilhão para a
comunidade santista até 2100, segundo as projeções do trabalho.
O
estudo de caso brasileiro sobre o município de Santos envolveu a participação
dos professores Luci Hidalgo Nunes e Roberto Greco, do Instituto de Geociências
(IG) da Unicamp. Além deles, o projeto internacional conta com a participação
de cientistas da Universidade de São Paulo (USP), Centro de Monitoramento de
Desastres Naturais (Cemaden), Instituto Geológico de São Paulo e Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
Também participam pesquisadores da University of South Florida, dos Estados Unidos, do King’s College London, da Inglaterra, e gestores e técnicos da Prefeitura Municipal de Santos. A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) financia a iniciativa, desenvolvida no âmbito de um acordo de cooperação com o Belmont Forum, mantido pela International Group of Funding Agencies for Global Change Research (IGFA).
Também participam pesquisadores da University of South Florida, dos Estados Unidos, do King’s College London, da Inglaterra, e gestores e técnicos da Prefeitura Municipal de Santos. A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) financia a iniciativa, desenvolvida no âmbito de um acordo de cooperação com o Belmont Forum, mantido pela International Group of Funding Agencies for Global Change Research (IGFA).
O
IGFA é formado por algumas das principais agências financiadoras de projetos de
pesquisa sobre mudanças ambientais no mundo. O responsável geral pelo projeto
de pesquisa, intitulado Metrópole, é o climatologista José Marengo, chefe da
Divisão de Pesquisas do Cemaden, localizado em Cachoeira Paulista (SP).
“A
pesquisa envolve três estudos de casos, um nos Estados Unidos, na região da
Flórida, outro no Reino Unido, e o caso brasileiro. Nos Estados Unidos, as
projeções são para o condado de Broward; e no sul do Reino Unido, para o
balneário de Selsey. No Brasil, Santos foi o município escolhido pela
relevância estratégica para o país, já que a cidade abriga o porto mais
importante do hemisfério sul”, situou a professora Luci Hidalgo, especialista
em clima e que atua no Departamento de Geografia do IG.
Ainda
de acordo com a docente, o município paulista possui dados importantes para a
pesquisa, como as medições de tabuas de marés. “As informações que tínhamos até
então, do IPCC [Intergovernmental Panel on Climate Change], eram globais, muito
abrangentes. Esse foi o grande desafio, ou seja, obter informações locais e
mais realísticas”, avaliou.
O
professor Roberto Greco acrescenta que as previsões de elevação do nível do mar
envolveram três cenários: “um mínimo, mais conservador, outro médio e um mais
extremo.” No cenário conservador, o nível do mar pode elevar 13,5 centímetros
até 2050, e 27 cm até 2100. No cenário médio, a elevação seria de 18
centímetros até 2050 e de 36 até 2100. E, no pior cenário, haveria uma elevação
de 22,50 centímetros para 2050 e 45 para 2100.
“Em
comum, o que estas projeções mostram é que parte do município de Santos pode
ficar inundada pela entrada de água do mar e pela água dos canais que deveriam
drenar a ilha de Santos. Pode ocorrer também alagamento. Além disso, as
estruturas dos prédios e demais construções podem ser bastante afetadas”,
dimensiona Roberto Greco.
Dados da pesquisa informam que, de 1945 até o início da década de 1990, o nível do mar em Santos subiu, em média, 1,3 milímetro ao ano. A partir de 1993 até 2014, o índice dobrou, pulando para 2,7 mm ao ano. Considerando apenas o período de 2004 a 2013, os pesquisadores informam que o índice chegou a 3,6 mm ao ano, número parecido à média global calculada pelo IPCC. A partir desses dados foi possível chegar às projeções de elevação do nível do mar para 2050 e 2100.
Dados da pesquisa informam que, de 1945 até o início da década de 1990, o nível do mar em Santos subiu, em média, 1,3 milímetro ao ano. A partir de 1993 até 2014, o índice dobrou, pulando para 2,7 mm ao ano. Considerando apenas o período de 2004 a 2013, os pesquisadores informam que o índice chegou a 3,6 mm ao ano, número parecido à média global calculada pelo IPCC. A partir desses dados foi possível chegar às projeções de elevação do nível do mar para 2050 e 2100.
Participação
da comunidade
Além
dos dados, a pesquisa envolve a participação da comunidade local (sociedade civil,
empresas públicas, privadas e organizações não governamentais) e do poder
público no sentido de apontar intervenções para que o município se adapte às
mudanças climáticas. O estudo avaliou o custo benefício das principais
propostas da comunidade em relação aos impactos projetados para a elevação do
nível do mar em Santos.
“Um
elemento inovador desse projeto foi a apresentação para a comunidade de imagens
que visualizam o mapa da cidade e põem em evidência as áreas que serão mais
afetadas para o aumento do nível do mar e os danos para os imóveis naquelas
áreas. Essa é uma metodologia inovadora que se quis testar e avaliar para
observar como afeta a propensão dos cidadãos a tomar medidas de
adaptação. O objetivo no futuro será comparar os dados e análises entre
os três países participantes da pesquisa”, explicou Roberto Greco.
No
caso de Santos, entre alternativas apontadas pela população, estão os serviços
de dragagens para remover os sedimentos dos canais; a construção de diques; de
muros de contenção; implementação de sistemas de comporta e estações de
bombeamento; recolocação de areia nas praias – o chamado “engordamento”; e a
recuperação de manguezais.
Em
conjunto com a população, os estudiosos concluíram que tais medidas de
adaptação são bastante apropriadas, sobretudo com relação ao custo. Na
comparação com os eventuais prejuízos que poderiam ser causados pelos eventos
climáticos, o investimento nestas obras e serviços de adaptação às mudanças
climáticas seria bem menor. Conforme os pesquisadores, o custo das medidas de
adaptação consumiria aproximadamente R$ 240 milhões, evitando R$ 1,1 bilhão de
prejuízos causados, se nada for feito. Estas projeções foram feitas para um
período correspondente até 2100.
“Antes se falava muito em medidas de mitigação dos eventos extremos e do aquecimento global. Hoje, é preciso falar de adaptação porque as mudanças já estão entre nós. É relevante, portanto, encontrar soluções para conviver da melhor maneira possível com estas alterações, não se esquecendo das mudanças de comportamentos da sociedade, da redução dos padrões de consumo e consequente diminuição da poluição para alterar este cenário no longo prazo”, explica a docente Luci Hidalgo.
“Antes se falava muito em medidas de mitigação dos eventos extremos e do aquecimento global. Hoje, é preciso falar de adaptação porque as mudanças já estão entre nós. É relevante, portanto, encontrar soluções para conviver da melhor maneira possível com estas alterações, não se esquecendo das mudanças de comportamentos da sociedade, da redução dos padrões de consumo e consequente diminuição da poluição para alterar este cenário no longo prazo”, explica a docente Luci Hidalgo.
A
professora da Unicamp informa que para estabelecer os cenários apresentados à
população de Santos, entidades e poder público, os pesquisadores usaram uma
plataforma chamada COAST (Coastal Adaptation to Sea Level Rise Tool),
desenvolvida por uma empresa americana em parceria com universidades e centros
de pesquisa do país. A ferramenta permite que os usuários respondam perguntas
com relação aos custos e benefícios de ações e estratégias para evitar danos
causados pelo aumento do nível do mar e inundações costeiras.
“Esta
plataforma mostra, dentro das projeções que nós fizemos para Santos, o que pode
acontecer em termos de avanço de água e qual o impacto disso para as
construções. Todos esses cálculos dos danos e das medidas de adaptação, nós
fizemos empregando a plataforma COAST. Essas projeções envolveram as regiões
sudeste e noroeste de Santos, de caráter bastante distintos”, complementa Luci
Hidalgo.
De
acordo com ela, a região sudeste compreende o bairro nobre do Boqueirão até a
Ponta da Praia. Ali estão localizadas as construções de maior valor
imobiliário. Já a região noroeste é uma das mais pobres do município, com
algumas construções em palafitas. “O estudo aponta o quanto o nível do mar pode
afetar em termos de números de edifícios e quanto isso pode custar. Os cálculos
de danos levaram em consideração apenas o valor venal dos edifícios.”
Luci
Hildago esclarece que as estimativas de prejuízos financeiros são bastantes
conservadoras porque levam em conta apenas o valor venal dos imóveis. Segundo a
professora, não foram considerados os valores de automóveis, equipamentos e
infraestrutura pública existente no local. Além disso, o valor venal dos
imóveis estabelecido pela Prefeitura está, quase sempre, desatualizado com
relação ao preço de mercado das propriedades. (ecodebate)
Nenhum comentário:
Postar um comentário