Educação do Campo e Sustentabilidade: Diversas Interpretações e Perspectivas
Há tempos existe uma
movimentação nas áreas rurais brasileira, onde os povos das comunidades lutam
por uma educação de qualidade, que respeite sua terra, seu modo de viver, sua
cultura e suas tradições. A luta dessa conquista ainda não alcançada de fato,
se dá por conta das ações apenas copiadas da área urbana para as comunidades
que possuem seu tempo e espaço próprio, específico do campo.
Esse processo negativo e
histórico, o qual insiste em acompanhar quem vive no meio rural, iniciou-se nos
tempos da República com o ilusório progresso de libertação a partir da
escolarização, que ocorria apenas na área urbana e para as classes mais altas.
No Império, a educação continuava a evoluir abrangendo agora as classes menos
favorecidas que viviam nas cidades. Porém, a educação do campo continuava estagnada,
sem qualidade, sem infraestrutura e sem condição nenhuma de funcionamento.
No período da revolução
industrial ocorreu o aumento do êxodo rural, a população rural ganhou um olhar
para que a educação fosse realizada como cópia da urbana com o intuito de fixar
esse homem no campo e reduzir o inchaço nas cidades por conta da produção
industrial que crescia na época. Percebe-se que a educação oferecida era apenas
para que o homem permanecesse no campo. A ordem e o progresso escrito na
bandeira brasileira e declamada ao vento, servia apenas para o homem
privilegiado dos centros urbanos, com acesso às melhores escolas e com
professores capacitados, usufruindo de material didático e de formações
voltadas para o interesse industrial.
Nesse tempo, a escola tinha
a função de minimizar a miséria do centro urbano, ensinando que o homem do
campo poderia usufruir da escola sem ter que ir para a cidade. Por isso, não
era dada um real valor, pois acreditavam que o homem do campo não tinha necessidade
de ler e escrever e sua escolarização poderia ser oferecida e realizada de
qualquer maneira, sem as mínimas condições, com uma desconexão da realidade
vivida.
Atualmente, ainda
acompanhamos essa marca viva na história dos sujeitos que permanecem e sobrevivem
no campo. Uma educação descontextualizada com a realidade, com metodologias
copiadas silenciosamente. Mas, qual papel o professor assume ao realizar uma
cópia silenciosa do meio urbano, autor ou mero espectador? Existe uma reflexão
em suas ações no chão da escola? O que tem sido feito enquanto política pública
para solucionar problemas educacionais dos sujeitos do campo?
1. ESCOLA DO CAMPO
A escola, lugar de
transformação e de grande valor através da relação entre
comunidade-professor-aluno, deveria ser a primeira a acompanhar essa
transformação e organizar-se com um currículo que contemple a identidade do
grupo inserido no processo. Porém, o que vemos é uma escola em caminhos
divergentes por conta das ações de professores que ensinam da maneira como
aprenderam na cidade, pois este mesmo docente não foi preparado para atuar nas
escolas do campo. Não teve uma formação inicial em educação do campo e
geralmente as formações continuadas oferecidas não alcançam o objetivo proposto
nas políticas da educação do campo. Esse profissional deve perceber que a
educação realizada nesse meio deve ser no e do campo e não para o campo.
Todavia, o professor carrega
consigo a culpa de não ter sido preparado para atuar no campo, já que as
metodologias e atividades foram pensadas para a estrutura e alunos das escolas
da área urbana. As políticas públicas, quase nunca obedecidas ou conhecidas no
dia a dia, são executadas como deveriam porque o currículo deveria ser o
espelho dessas ações, mas o que continuamos a ver é o fazer realizado
distorcidamente e em um futuro próximo reconhecer que as ações não devem ser
isoladas, pois uma escola não existe sem o contexto.
A partir das mudanças de
concepções e de atitudes, poderemos prever a possibilidade de transformação das
marcas deixadas pelo passado, com perspectivas de mudança, pois apesar dessa
árdua caminhada o professor possui uma postura reflexiva e busca sempre inovar
através de práticas que trabalhem a interação e cooperação entre o grupo.
Atualmente, as mudanças se
dão por conta dos avanços das novas tecnologias nos diversos setores, mas
refletindo sobre os avanços na área de educação, sempre nos questionamos se a
educação está acompanhando esses avanços. A passos lentos podemos dizer que
sim, pois em se tratando de educação do campo vemos a luta das políticas
públicas serem cumpridas como a insistente discussão das Diretrizes
Curriculares para a Educação Básica do Campo e a LDB 9394/96 em que no seu
artigo 28 incisos I,II e III tratam sob conteúdos, calendários e especificidades
da educação do campo.
Os avanços nas áreas rurais
a passos lentos para as pessoas que permanecem no campo é retrato de luta e de
resistência, pois o capitalismo com seus argumentos sempre subordinou o campo à
cidade, sempre tentou mostrar que o melhor estava na área urbana e que o campo
sempre seria um atraso.
Surge então, o MST lutando
por direitos e deveres a serem cumpridos para os povos do campo, fortalecendo
uma escola que respeite as especificidades e necessidades desses sujeitos.
Sendo que três referências subsidiam esse projeto, quais sejam: a pedagogia
socialista que considera o trabalho como atividade que constrói o homem, a
cultura e as relações sociais de produção; a pedagogia do oprimido, como
expressão da educação popular e a pedagogia do movimento. (MOURÃO e
BORGES,2016, p.198).
2. O PROFESSOR DO CAMPO: AUTOR DE VÁRIAS OBRAS O professor que atua no
campo, possui a figura de um pesquisador, pois como já citamos no texto, ele
não teve uma base de estudos sobre o campo, então é levado a partir de sua
experiência a buscar metodologias que se adapte ao contexto específico do campo
para que haja de fato a articulação entre a teoria e a prática resultando em um
trabalho positivo e diferenciado.O professor tem que ser
autor de sua prática e o currículo tem ser diferenciado para impactar na
organização do trabalho pedagógico, assim como a identidade do professor do
campo tem que ser valorizada para que esse reconhecimento resulte em
estratégias próprias para sua escola e suas atitudes transformadoras apontando
uma nova postura em suas ações. Ele deve conhecer sua realidade para trazer
para o cotidiano de sua prática os saberes construídos historicamente pela
comunidade na qual está inserido. (MOURÃO e BORGES, 2016,p.207)Deve também respeitar o
tempo de cada aluno, pois “inúmeras redes e escolas das cidades e dos campos
têm avançado para organizar os currículos, tempos e espaços, o trabalho do
mestre e educandos, respeitando os tempos humanos, mentais culturais, éticos,
socializadores, indenitários, corpóreos dos educandos (ROCHA e HAGE, 2010,
p.12).
3. EDUCAÇÃO DO CAMPO E SUSTENTABILIDADE: DESAFIOS A VENCER.Os acendimentos da batalha
por uma educação do campo surgem num situação em que, dentro do modo
capitalístico de produção, principalmente nos últimos 30 anos, a agricultura
comercial brasileira passou por muitas transformações, nas quais o agronegócio
deu um salto significativo principalmente na concentração do poder,
incorporação de novas tecnologias e utilização de recursos vindos do governo. As lutas sociais pela
ampliação, acesso, permanência e direito a esses recursos, são fortalecidas
quando se compreende uma educação do campo voltada para o fortalecimento de um
projeto popular que valorize e transforme a agricultura familiar, integrando comunidades
assentadas e pequenos agricultores, não somente no desenvolvimento econômico,
mas também no social e ambiental. Esse tem sido o maior problema, trocam-se os
governos e não há a concretização de um modelo de educação voltado para o
campo, que, na prática, possa ser desenvolvido nas comunidades de assentados ou
mesmo em localidades rurais e ribeirinhos, enfatizando ainda que este processo
de educação cooperaria no fortalecimento dessas comunidades que procuram a
reprodução de suas culturas tradicionais.
A Educação do Campo nasce,
em seguida, das experiências camponesas de resistência em seus territórios.
Entende-se que a compreensão
dos fenômenos educativos, articulada com projetos de desenvolvimento local
(rural) sustentável, pode ser importante instrumento de análise das reais
situações de como as comunidades do campo estão e podem desenvolver o seu
trabalho e concretizar as suas ações de trabalho digno e solidário.
De tal modo, é importante
ter a valorização do espaço local que apresenta projetos de articulação entre
desenvolvimento sustentável e educação do campo. O resgate das experiências
locais, como fator principal na condução dos processos educacionais nas
escolas, deve ser destacado como ponto interessante. Cada lugar constrói
possibilidades de aprendizado, espaços culturais e valores comuns.
Diante dessa
contextualização da educação ambiental e da educação campo, podemos começar a
refletir sobre o problema que envolve a nossa relação com a natureza, visto que
estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a
humanidade deve nomear o seu destino, cultivando uma aliança global para cuidar
da Terra e uns dos outros, ou arriscar a nossa destruição e a diversidade da
vida. Assim, a escola tem um
papel importantíssimo nesse processo de sensibilização. É uma oportunidade de
se criar um movimento no cotidiano de inserção crítica dos educandos/educador.
É um desafio que se coloca
para, ao entender a realidade, procurarmos enfrentar os problemas transformando
a realidade e a nós reciprocamente. Uma Prática participativa e
problematizadora, que se estabelece no cotidiano, tem como seu ponto de partida
a realidade local contextualizada numa perspectiva mais ampla.
Faz-se necessário uma prática refletida para se
fazer diferente e mudar a realidade. Construção de uma nova visão de mundo /
nova relação com o mundo deve ser recíproca e relacional. É mais que saber e sentir, é
se transformar participando individual e coletivamente na transformação da
realidade para a construção da sustentabilidade socioambiental. (ecodebate)


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