A
Agência Internacional de Energia (IEA em inglês) divulgou em março os dados que
mostram que as emissões globais de dióxido de carbono relacionadas à energia
ficaram estáveis pelo terceiro ano consecutivo (2014, 2015 e 2016). Isto
aconteceu mesmo com o crescimento da economia internacional, sinalizando um
desacoplamento relativo das emissões de CO2 e da atividade
econômica. Este fato inédito nas últimas décadas foi possível graças ao crescimento
da geração de energia renovável, a substituição de carvão por gás natural, as
melhorias na eficiência energética, bem como mudanças estruturais na economia
global.
As
emissões globais do setor de energia ficaram em 32,1 gigatoneladas nos últimos
três anos, enquanto a economia global cresceu em torno de3%, segundo
estimativas da IEA. As emissões de dióxido de carbono diminuíram nos dois
maiores consumidores e emissores de energia do mundo. Nos Estados Unidos
(devido ao aumento do fornecimento de gás de xisto) e na China (devido à
redução do uso do carvão mineral, necessário para reduzir a poluição do ar). E
permaneceram estáveis na Europa, os três, compensando os aumentos na maior
parte do resto do mundo. As emissões nos Estados Unidos no ano passado estavam
em seu nível mais baixo desde 1992, período em que a economia cresceu 80%.
Evidentemente, a transferência de fábricas para o Terceiro Mundo ajuda neste
processo.
Ainda segundo IEA, em 2016, as energias
renováveis forneceram mais de metade do crescimento da demanda global de
eletricidade, sendo a hidrelétrica responsável pela metade dessa participação.
O aumento global da capacidade nuclear do mundo no ano passado foi a maior
desde 1993, com novos reatores na China, Estados Unidos, Coréia do Sul, Índia,
Rússia e Paquistão. A demanda de carvão caiu mundialmente, mas a queda foi
particularmente acentuada nos Estados Unidos, onde a demanda caiu 11% em 2016.
Pela primeira vez, a geração de eletricidade a partir do gás natural foi maior
do que a do ano passado nos Estados Unidos. Na China, as emissões caíram 1% no
ano passado, à medida que a demanda de carvão diminuía e o PIB cresceu 6,7%.
Esta tendência teve várias razões, sendo que a principal foi a mudança do
carvão para o gás no setor industrial e imobiliário, impulsionada em grande
parte pelas políticas governamentais de combate à poluição atmosférica. Dois
terços do crescimento da demanda de eletricidade na China, que cresceu 5,4%,
foi fornecido por energias renováveis - principalmente hidrelétricas e eólicas
– bem como nucleares.
Esse
desacoplamento relativo se deveu às forças do mercado, às reduções de custos
tecnológicos e às preocupações com as alterações climáticas e a poluição
atmosférica. Porém, a própria IEA ressalva que a pausa no crescimento das
emissões é uma notícia positiva para melhorar a poluição do ar, mas não é
suficiente para colocar o mundo em um caminho para manter as temperaturas
globais abaixo de 2ºC.
Sem
dúvida, é necessário reduzir urgentemente as emissões de gases de efeito estufa
(GEE). Os seres humanos já lançaram 1,9 trilhões de toneladas de carbono na
atmosfera. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas
(IPCC), para evitar o pior cenário, o mundo só pode emitir, entre 2012 e 2100,
1.000 gigatoneladas (Gt) de CO2. Em termos médios, isso significa
que o mundo só pode liberar no máximo 11,3 GtCO2 por ano até 2100. O
problema é que as emissões estão atualmente em torno de 40 GtCO2, o
que dá uma ideia do tamanho do desafio para fazer essa redução.
Assim,
o chamado “orçamento carbono” não está sendo cumprido e as INDCs do Acordo de
Paris são insuficientes para resolver o tamanho do desafio. A estagnação das
emissões do setor de energia é uma boa notícia, mas insuficiente. A
concentração de CO2 na atmosfera ultrapassou 400 partes por milhão
(ppm) em 2014 e já se aproxima de 410 ppm em 2017. O nível seguro é 350 ppm.
Porém, os anos de 2015 e 2016 marcaram aumento de mais de 3 ppm ao ano, recorde
absoluto. Com o aumento do efeito estufa aumenta a temperatura global e os três
últimos anos foram os mais quentes desde o início do registro em 1880.
Consequentemente, o nível de degelo global também tem batido todos os recortes.
O
mundo precisa de uma mudança da matriz energética. O avanço da produção de
energia renovável, a construção de uma rede inteligente de distribuição e o
fortalecimento dos prosumidores são tarefas imprescindíveis. Mas também é
preciso reduzir o desmatamento, fazer a transição da dieta cárnea para uma
dieta vegetariana (ou vegana) e reduzir a demanda agregada global via o
decrescimento demoeconômico, promovendo a transição do modelo de crescimento
econômico infinito para um novo modelo de redução do metabolismo entrópico, que
Howard e Elisabeth ODUM (2013) chamam de DECLÍNIO PRÓSPERO. (ecodebate)
Nenhum comentário:
Postar um comentário