Peixes do Mar Báltico apresentam tumores devido a vestígio nazista.
Alta incidência de tumores cancerosos em peixes pode advir de munições alemãs afundadas pelos Aliados após 1945. Ameaça ambiental também representa risco à saúde humana e tem prazo para ser removida.
Congelamento do Mar Báltico fora de época, em 2013.
Cientistas alemães
constataram uma incidência de 25% de tumores entre um tipo de linguado
encontrado numa área do Mar Báltico, próximo à cidade alemã de Kiel. Em outras
áreas desse mar, essa percentagem é de cerca de 5%.
A hipótese é que as
proliferações cancerosas possam estar relacionadas ao volume estimado em 1,6
milhão de toneladas de armamentos dos nazistas, afundados nos mares Báltico e
do Norte ao fim da Segunda Guerra Mundial.
Até recentemente, a espécie
Limanda limanda era ignorada na pesca comercial, porém a escassez de espécies
comestíveis tradicionais como o bacalhau e o hadoque tem feito crescer sua popularidade
para o consumo humano.
"Não aconselharia
ninguém a nadar no Mar Báltico"
Ao apresentar seus achados
numa conferência em Rostock em 15/05/17, os cientistas do Instituto Thünen de
Ecologia Pesqueira enfatizaram tratar-se de dados preliminares. Mas advertiram
que, à medida que as munições continuam a enferrujar e vazar, o impacto
ambiental da descarga em massa de armas nazistas sobre as águas costeiras rasas
pode ser muito mais grave do que se estimava.
Em comunicado à DW, o
vice-diretor do Instituto Thünen, Thomas Lang, declarou que no momento a
incidência elevada de tumores deve "ser vista como local" para o
Limanda limanda. Num estudo anterior com bacalhaus não se encontrou qualquer
indicação de um incremento, afirmou.
No entanto, outras fontes advertem contra os riscos para a saúde humana nas águas da região. "Eu não aconselharia ninguém a ir nadar no Mar Báltico", diz Diana S. Pyrikova, diretora executiva da organização Diálogo Internacional sobre Munições Submarinas (Idum, na sigla em inglês). O grupo sediado em Haia, Holanda, estuda o descarte global de armas há mais de uma década.
Ameaça cancerígena
Pyrikova aponta que certas
substâncias que vazam das antigas munições no fundo dos oceanos, como TNT e componentes
de armamentos químicos, têm sido relacionadas ao câncer. Ela se preocupa que,
ao consumir regularmente os peixes afetados, os humanos possam estar acumulando
cancerígenos.
Segundo a agência de
notícias DPA, outra equipe de pesquisadores da Universidade de Kiel registrou
altos níveis de TNT entre os mexilhões que crescem em torno das munições
enferrujadas. Apesar das apreensões, o secretário do Ambiente do estado de
Schleswig-Holstein insiste que os armamentos afundados não devem ser vistos
como causa única dos tumores.
Na conferência em Rostock,
os cientistas explicaram que suas suspeitas de que a exposição ao explosivo TNT
possa estar causando os tumores se baseia em experimentos realizados em
laboratório. Certos peixes podem ser mais suscetíveis a acumular as substâncias
tóxicas, dependendo da profundidade em que vivam e quanto tempo mantenham a
água do mar dentro do corpo.
Não mais de 30 anos para
agir
As armas da Alemanha nazista
foram afundadas no mar por ordem das Forças Aliadas, após sua vitória sobre as
tropas de Adolf Hitler em 1945. A maioria foi parar em áreas profundas do
Báltico, perto das bacias de Bornholm e Gotlândia, porém parte foi também
lançada em águas mais rasas. Os Estados Unidos, Reino Unido e França igualmente
jogaram grandes quantidades de armamentos em suas costas.
Embora a maior parte da
munição alemã descartada fosse convencional – explosivos ou armas de fogo –
cerca de 40 mil toneladas continham substâncias de combate químico, como gás de
mostarda, arsênico e fosgênio (gás lacrimogêneo e sufocante que ganhou terrível
fama durante a Primeira Guerra Mundial).
Relatos históricos descrevem
como barcos foram abarrotados de armamentos e em seguida naufragados, visando
facilitar a localização futura, se necessário. Embora alguns cientistas afirmem
que muitas das minas, bombas e granadas continuem seladas, outros alertam que a
corrosão permitiria que elas se espalhem mais no fundo do mar, dispersando seu
conteúdo.
"Muitos governos e
Forças Armadas acham que é mais econômico deixá-las lá, e que a água salgada
impedirá as substâncias químicas de se dissolverem, mas isso não é
verdade"; enfatiza Pyrikova, do Idum.
Segundo a ONG, só restam de
25 a 30 anos para remover as munições, antes de estarem tão corroídas que não
possam mais ser localizadas. E o pior é que seu conteúdo tóxico permaneceria na
água e no sedimento no fundo do mar.
Governos fazem vista grossa
Novas tecnologias poderiam
reduzir os efeitos nocivos das munições abandonadas, sem o enorme esforço de
removê-las. "Esteiras de alta tecnologia podem ser instaladas no fundo do
mar. Com o passar do tempo, elas dissolveriam os invólucros, absorveriam as
substâncias químicas e lentamente ajudariam na recuperação do ambiente
marinho", propõe Pyrikova.
Entretanto mesmo isso exige
um investimento substancial de governos que, até o momento, têm preferido fazer
vista grossa ao problema, acusa. Atualmente não há nenhum acordo proibindo a
eliminação de armas nos oceanos, e segundo certos relatórios, algumas forças
militares ainda adotam essa prática.
O Idum está se esforçando para organizar uma
conferência das Nações Unidas abordando o assunto. Segundo Pyrikova, contudo, a
maioria dos políticos e diplomatas ainda se mostra surpresa diante da extensão
do problema e de seu impacto ambiental. (g1)
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