Construindo Escola Sustentável: Elaboração e Utilização de
Cartilha como Ferramenta de Educação Ambiental
A Educação Ambiental tem sido uma
ferramenta inovadora e transformadora para a formação de gerações
socioambientais responsáveis, o que nos leva a grande caminhada pela
sustentabilidade do planeta, reconhecendo a importância da aplicação da EA como
ação básica e indispensável para alcançarmos comportamentos corretos de
preservação ao meio e vida.
Este trabalho relata uma experiência
de construção coletiva das cartilhas ambientais do projeto Recicléia adote essa
ideia como um processo pedagógico em educação ambiental, envolvendo alunos/as e
professores/as da Escola Estadual de Ensino Médio Frei Miguel de Bulhões no
município de São Miguel do Guamá-Pa.
A metodologia utilizada no decorrer do
processo abarcou a discussão de questões que envolveram a percepção,
valorização e importância do tema meio ambiente. Considera-se que a experiência
desenvolvida na elaboração das cartilhas Recicléia adote essa ideia contendo
informações sobre a importância da preservação do meio ambiente com uma visão
holística das diferentes questões ambientais, caracterizou uma prática dinâmica
e diferenciada de aprendizagem, em que foi oportunizada a toda a comunidade
escolar repensar as atitudes de respeito e cuidado com o meio ambiente,
contando ainda com a oportunidade de aprender os conteúdos disciplinares a
partir de sua realidade ambiental.
Introdução
Nos dias atuais uma das grandes
dificuldades enfrentadas pelos professores da educação básica é a falta de
material didático adequado à sua realidade principalmente no que diz respeito
às questões ambientais. Material este, que leve em consideração sua cultura
hábitos. Enfim as peculiaridades de cada região do Brasil.
Dias (2000) afirma que os materiais
didáticos existentes para trabalhar a educação ambiental em sala de aula ainda
são muito relacionados às generalidades, sem, contudo levar em contar a
contextualização e as particularidades de cada região. Além disso, a produção de
cartilhas, cartazes, etc. não tem surtido o efeito desejado por não levar em
conta os aspectos ambientais das regiões e dos processos envolvidos nas
problemáticas das mesmas.
Vale ressaltar que grande parte da
produção dos livros didáticos está centralizada na região sudeste do país, mas
também à abordagem de questões de outros países e de imagens da realidade
estrangeira.
Neste sentido a Educação Ambiental
deve ser proporcionada respeitando as diferenças ambientais e pessoais dos
educandos, devendo ser trabalhada de forma transversal, abordando os saberes e
os valores da sustentabilidade com o intuito de promover uma visão crítica que
possa despertar senso de justiça ambiental e, consequentemente, gerar uma
cidadania pautada na ética do cuidado com o meio ambiente. Além disso, é
essencial que haja a inserção da mesma no inicio da formação do aluno com o
intuito de despertar na criança de maneira contínua e permanente a
conscientização de preservação e cidadania, desenvolvendo valores,
conhecimentos e atitudes que auxiliem a melhor qualidade ambiental.
Carvalho (2015) ressalta a importância
da construção desse artefato didático, a produção da cartilha, tendo o próprio
estudante como protagonista, a oportunidade de apresentar suas indagações e
indignações através das histórias contadas na maioria das vezes com seus
personagens tematizados, que denunciam suas histórias de vida e suas
necessidades e a preocupação com o outro e com o ambiente. Quando isso ocorre
de fato há a produção de conhecimento.
É nesta perspectiva que no projeto
Recicléia adotou-se uma abordagem, mais atrativa para trabalhar a EA nas
escolas públicas. Não adianta chegar às escolas públicas da periferia, onde os
problemas socioambientais são bastante graves, utilizando uma linguagem acadêmica,
científica, e falando de Tbilisi, eco 92 rio+20 com transparências cheias de
gráficos e slides que mostram a fome no mundo. Quando se trata de alunos que
frequentam escolas que não lhes oferecem estímulos em sala de aula e de
professoras que se formaram há bastante tempo, a linguagem precisa ser mais
direta.
O Projeto Recicléia adote essa ideia
vem ao longo dos anos através de cartilhas e teatros, fornecer subsídios para
tentar melhorar o ensino na rede pública através da inserção da EA. Vem
produzindo um material atraente e informativo para as crianças, onde os
professores possam ter uma informação mais simples e direta sobre EA, e
personalizado, utilizando as características daquela comunidade que está sendo
trabalhada, como por exemplo, pessoas de destaque local, termos da sua
linguagem, assim, professores e alunos teriam uma abertura maior para
discutirem sobre os problemas locais ali inseridos, como também as possíveis
soluções.
O objetivo deste trabalho é
sensibilizar alunos e professores do Ensino Fundamental para as questões
ambientais locais, fornecer material adequado para que as professoras possam
dar continuidade à implantação da EA na escola pública e, como também,
incentivar o hábito da leitura entre os alunos.
Acreditando que de fato a Educação
Ambiental deve ser trabalhada de forma interdisciplinar e deve, portanto,
envolver a responsabilidade de todos é que a elaboração da cartilha de educação
ambiental Recicleia adote essa ideia oportuniza que seja trabalhada esta
interdisciplinaridade dentro da escola, envolvendo professores de diversas
disciplinas Além de propiciar aos indivíduos participantes uma melhor
compreensão do meio ambiente, inclusive de sua participação ativa e
indissolúvel neste e, portanto, a consciência de sua responsabilidade por
alguns dos impactos que a humanidade causa, criando motivação para que possam
atuar na minimização dos problemas ambientais. Busca-se também, contribuir para
a conscientização dos alunos quanto ao senso crítico, reavaliando suas atitudes
e propondo soluções para a melhoria do ambiente.
Além disso, a elaboração de cartilhas,
baseadas na pesquisa, estimula a criatividade e o raciocínio dos alunos
proporcionando uma excelente oportunidade para estes exercerem a criatividade,
instigando também a pesquisa sobre os impactos humanos na natureza, sobre a
destruição que temos causado, desenvolvendo o senso crítico e fazendo com que
busquem atitudes que possam minimizar ou mesmo resolver os problemas em
questão.
Um arcabouço legal que de certa forma,
fortaleça a aplicabilidade do programa, ainda assim outras questões funcionam
como obstáculo a sua execução.
A estrutura desse trabalho segue com a
fundamentação teórica onde iremos ressaltar a importância da utilização de
materiais didáticos na educação básica e a opinião de alguns autores a respeito
da temática. Além disso, conta ainda com a metodologia que é onde serão
apresentados os métodos utilizados para a elaboração das cartilhas e teatro. Em
seguida, nas nossas considerações finais será feita uma análise no geral a
respeito do trabalho em si e da importância da cartilha para a educação básica
e por final serão apresentadas nossas referências bibliográficas utilizadas
neste trabalho.
EDUCAÇÃO AMBIENTAL:UM CAMINHO PARA A
TRANSFORMAÇÃO
Ao longo dos tempos, a humanidade
desvendou, conheceu, dominou e modificou a natureza para melhor aproveitá-la.
Estabeleceu outras formas de vida, e, por conseguinte, novas necessidades foram
surgindo e os homens foram criando novas técnicas para suprirem essas
necessidades, muitas delas decorrentes do consumo e da produção (SANTOS; FARIA,
2004).
Esta dominação e exploração do homem
sobre a natureza tem causado sérios impactos sobre o meio, sendo e este o
principal responsável pelas consequências advindas de suas próprias ações
ambiciosas que visam à lucratividade que os recursos ambientais oferecem, sem
ao menos pensar no ambiente como um todo onde proporcionam avanço tecnológicos
a sociedade, mas acarretam efeitos ambientais que comprometem a qualidade de
vida de futuras e atuais gerações.
Torna-se cada vez mais urgente a
mudança deste cenário de degradação e isto só será possível através de uma
tomada de consciência no que diz respeito às questões ambientais para que o
homem procure a mudança e tente agir de maneira diferente quando relacionado ao
meio ambiente. Essa conscientização e o pensamento crítico são produtos
relevantes alcançados por meio da educação ambiental, que visa instigar a
reflexão e modificação do pensamento sobre o que o cerca e observar o que pode
ser feito com o auxilio deste mecanismo, atingir o equilíbrio entre a sociedade
e os recursos naturais.
De acordo com a Lei nº 9795/99 que
dispõe sobre a Política Nacional de Educação Ambiental (ANDRADE, 2001) no seu
artigo 1º, entende-se por educação ambiental o processo por meio dos quais o
indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos,
habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio
ambiente, bem de uso comum do povo, essencial a sadia qualidade de vida e sua
sustentabilidade. Portanto, a Educação Ambiental pode ser entendida como um
processo participativo, no qual o educando assume o papel de elemento central
do processo de ensino/aprendizagem pretendido, participando ativamente do
diagnóstico de problemas ambientais buscando as suas soluções, sendo preparado
como agente transformador das atuais condutas populares, através do
desenvolvimento de habilidades e da formação de atitudes, ou através de uma
conduta ética condizente ao exercício da cidadania.
Nesta temática, a EA constituiu-se em
uma forma abrangente de educação, cuja proposta visa atingir todos os cidadãos,
com um processo pedagógico e participativo permanente, procurando incutir no
educando uma consciência crítica sobre a problemática ambiental,
compreendendo-se como crítica a capacidade de captar a gênese e a evolução de
problemas ambientais (SOUSA, 2007).
Atualmente, verifica-se cada vez mais
a presença da educação ambiental nos diferentes espaços sociais, especialmente
no escolar e através dela como enfatiza Dias (1994), podemos perceber que
existem formas mais inteligentes de se lidar com o ambiente, integrando-se com
ele através do desenvolvimento sustentável e que [...] a atual crise ambiental
mostra apenas sintomas de uma crise mais profunda: a falta de ética e do
respeito aos alores. Podemos também, através da Educação Ambiental, apreciar
cuidadosamente a fascinante diversidade do mundo vivo, que a natureza preparou
durante milhões de anos e a fascinante experiência de sermos parte dela.
Para Guimarães (2006) , a crise
socioambiental é uma crise de um modelo de sociedade e seus paradigmas, modelo
que nos apresenta um caminho único a seguir .É portanto uma crise
civilizatória.
Para que este cenário se transforme é
necessário instigar e incomodar a sociedade na busca da formação do cidadão
crítico reflexivo e atuante sobre o meio em que vive, procurando desmembrar
novos horizontes voltados às práticas ambientais. O cenário escolar deve se
destacar como mediador dessa transformação socioambiental, enfocando na dinâmica
da interdisciplinaridade que se configura como um processo fundamental para a
formação do discente com o conhecimento integrado e abrangente.
É neste contexto que educação
ambiental deve apresentar-se como ferramenta interdisciplinar de maneira abrangente
e complexa suscitando identidades e valores face à “reapropriação” da natureza,
avançando numa perspectiva que fomenta distintas interpretações e privilegia a
articulação do diálogo entre saberes, resultando em um processo de entender o
meio a partir de cada sujeito, na busca fundamentada e abrangente de um saber
ambiental que resulte na direção de mudanças de padrões.
Existem formas simples, que podemos
garantir o trabalho com sustentabilidade nas nossas escolas, conduzindo a
comunidade escolar de um modo geral para um exercício sustentável. Onde será o
artifício alavancador da ampliação dessa consciência a ação com comunidade
escolar e local, com isso, transformar elementos chave para melhoria da qualidade de vida. A função social da escola
é formar cidadãos críticos, reflexivos e conscientes de seus direitos e deveres
perante o meio onde vive e a sociedade a qual esta inserido. É justamente a
escola que vai garantir para esses discentes uma aprendizagem com mais
conhecimento, valores e as habilidades, onde serão essenciais a socialização
com o meio. Através desta aquisição de conhecimento que irá favorecer a
participação ativa e sustentável na sociedade.
A escola tem essa função, entretanto,
vale lembrar que é uma parceria, sendo necessário que a escola juntamente com o
professor e o aluno, apresentem depoimento daqueles valores que norteiam suas
ações, fazendo desta instituição de vivência de valores democráticos. A escola
é um ambiente propício para brotar ações voltadas para o meio ambiente, para sensibilização
com os atos que executamos no espaço em que habitamos e também estudamos. E, é
nesse meio que aprimoramos vários valores humanos os quais conduzirá o aluno a
refletir, pesquisar, investigar e analisar como está agindo no seu meio,
utilizando práticas saudáveis no meio ambiente em que vive. Desta forma a
equipe escolar pode melhorar essas atitudes, beneficiando a todos os que
convivem na escola através de projetos desenvolvidos na unidade escolar,
sensibilizando a comunidade escolar para lidar com os problemas ambientais,
onde podemos detectar mudanças climáticas, escassez de água, uma grande
produção de lixo por parte da população na maioria das vezes sem um destino
apropriado e ficando exposto no solo. No que se refere à comunidade escolar argumentar
da necessidade de conservar os bens materiais da instituição, o exagerado uso
de papel descartado no lixo, um excessivo desperdício de água nas escolas e na
própria residência, uma destruição excessiva de recursos naturais, bem como a
necessidade de tratar de alguns temas sociais urgentes, de abrangência
nacional.
Faz-se necessária no âmbito escolar o
entendimento do conhecimento interdisciplinar que aborda questões relevantes
voltadas à preservação e conservação do meio ambiente, sendo assim, um fator
significativo para que as crianças compreendam e conscientizem-se do valor dos
recursos naturais presentes no meio. Desse modo, acredita-se que o instrumento
capaz de auxiliar essa mudança se enquadra dentro do próprio âmbito escolar,
com o auxilio fundamental dos educadores. A educação é uma ferramenta de
transformação, na qual o aluno constrói uma consciência crítica e modifica a
maneira de pensa e agir.
“A educação é um dos principais meios
que nos permitem realizarmos como seres em sociedade, nos da percepção de
nossas atitudes no cotidiano e na tomada de decisão para uma vida sustentável.”
(LOUREIRO,2004).
É de suma importância da integração
entre o ambiente escolar e os educadores ambientais, que constituem papéis
fundamentais para aplicabilidade da educação ambiental como principal eixo
norteador na mudança de comportamento dos educandos formando o cidadão crítico
reflexivo e atuante sobre o meio em que vive, na qual procura-se desmembrar
novos horizontes voltados às práticas ambientais.
Diante disso, é relevante que os
projetos voltados a Educação Ambiental fomentem a busca da interdependência, na
qual a E.A não se estabelece como uma área que atua de forma singular, e sim
paralela às outras “ciências” torna-se mais dinâmico e claro a busca de meios que
auxiliem para a transformação ambiental.
Entre as possibilidades de se promover
a educação ambiental, está a utilização de cartilhas (qualquer compilação
elementar que preceitue um padrão de comportamento por meio de ilustrações). O
uso de ilustrações é útil porque: reproduz, em muitos aspectos a realidade;
facilita a percepção de detalhes; reduz ou amplia o tamanho real dos objetos
representados; torna próximos fatos e lugares distantes no espaço e no tempo e;
permite a visualização imediata de processos muito lentos ou rápidos.
É nesta perspectiva de poder trabalhar
e inserir a educação ambiental no ambiente escolar que foi elaborado um projeto
intitulado “Recicleia adote essa ideia”. O objetivo do projeto foi desenvolver
uma consciência crítica socioambiental nos alunos e despertar a sensibilização
e conscientização onde cada um perceba que é responsável e pode fazer a
diferença na busca de um ambiente em equilíbrio.
A EA deve ser trabalhada de forma
interdisciplinar integrado a outras ciências, uma peça fundamental que provê a
eficácia da efetivação da educação ambiental, considerasse um método difícil de
ser aplicado e complexo, mas que é possível ser desenvolvido começando com a
ruptura de uma fragmentação de conhecimento e saberes. Ainda incentivar a
formação do cidadão capacitando-o a realizar reflexões críticas sobre como
poder ajudar o ambiente em que se vive, produzindo atividades articuladoras
aproveitando a contribuição integrada de todos os campos de conhecimentos.
Através da interdisciplinaridade se propaga como eixo norteador do processo
educacional trabalha com criatividade, inovação e articulação, ainda buscar
conduzir a interdisciplinaridade aproximada à realidade, para que os educandos
possam vivenciar e refletir de forma ativa superando qualquer tipo de barreira.
Nesse sentido, Effting, 2007afirma:
“A Educação Ambiental não se dá por
atividades pontuais, mas por toda uma mudança de paradigmas que exige uma
contínua reflexão e apropriação dos valores que remetem a ela, as dificuldades
enfrentadas assumem características ainda mais contundentes.”
Acreditando que de fato a Educação
Ambiental é interdisciplinar e envolve a responsabilidade de todos, através da
Cartilha de Educação Ambiental Recicleia adote essa ideia vê-se uma
oportunidade para ser trabalhada esta interdisciplinaridade dentro da escola.
Trabalhando com a Cartilha Educação Ambiental, além de proporcionar uma
excelente oportunidade para os alunos aprenderem de uma forma diferente e
divertida, instiga também a pesquisa sobre os impactos humanos na natureza,
sobre a destruição que temos causado, desenvolvendo o senso crítico e fazendo
com que busquem atitudes que possam minimizar ou mesmo resolver os problemas em
questão. A produção de uma cartilha como sendo um instrumento didático é
essencial, pois os alunos podem relacionar a teoria à prática.
PROJETO RECICLEIA “ADOTE ESSA IDEIA”
O projeto Recicleia “adote essa ideia”
foi fundado em 2006, na EEEM Frei Miguel de Bulhões no município de São Miguel
do Guamá-Pa, após uma visita de campo ao lixão municipal, pelos alunos do 3º
ano do ensino médio coordenado pela professora de geografia dentro de um
processo de conhecimento coletivo os quais ficaram muito impressionados com a
realidade que viram no lixão principalmente com as condições precárias dos
catadores expostos a todos os tipos de doenças. Segundo relato de um aluno o
que mais chamou a atenção naquele momento foi a presença de crianças no local a
cena de uma criança comendo uma maçã estragada disse uma aluna: “não me sai da
cabeça, precisamos fazer alguma coisa”.
No retorno a sala de aula os alunos
tiveram a ideia de criar um projeto que tivesse características para uma
solução imediata daquela situação. Lançamos então o projeto “lixão tem solução”
que tinha como objetivo principal a mobilização para chamar a atenção de toda a
comunidade escolar para àquela problemática vivenciada pelas pessoas que
sobrevivem da cata do lixo, no entanto o que mais inquietava os alunos era a
presença de menores naquele ambiente tão degradado e desumano.
A comunidade escolar foi mobilizada e
os alunos cadastraram as 25 famílias que sobreviviam catando o lixo e fizeram
todo um planejamento para doações de cestas básicas. Em contrapartida as
famílias se comprometeram em não levar as crianças para o lixão. Tentou- se
realizar o cadastro dessas famílias nos programas sociais, porém não se obteve
o sucesso esperado, por conta das políticas públicas locais muito inoperantes.
Com o projeto lixão tem solução em
andamento, os alunos passaram para uma nova fase de reflexão. Entenderam que só
doar cestas básicas não era suficiente, precisavam criar uma ferramenta de
educação ambiental mais abrangente que levasse a uma verdadeira sensibilização
e conscientização da sociedade como um todo. E a partir desta reflexão houvesse
a condução para uma ação de transformação mais efetiva daquela condição
precária pelos quais viviam os catadores.
É dentro desta perspectiva que surge o projeto
Recicleia “adote essa ideia”, que tem como referencia a boneca Recicleia a qual
é formada por materiais encontrados no lixo.
Figura 1 - O projeto tem como
logomarca uma boneca a qual é formada por materiais encontrados no lixo.
O projeto “Recicleia - adote essa
ideia” deu maior amplitude às ideias do projeto inicial. O mesmo desenvolveu-se
tanto que ganhou reconhecimento nacional com realização de várias produções e
apresentações em importantes eventos pelo Brasil.
Além da cartilha, foi elaborada o
teatro Recicleia com o tema “lixão tem solução” uma prática educacional na qual
se realizou uma oficina de teatro para os alunos e oficinas para a confecção do
figurino feito todo de materiais reutilizáveis, assim poderão visualizar o
valor da reutilização de materiais que seriam destinados ao lixo e desenvolver
as capacidades potenciais de cada aluno, busca-se trabalhar com conscientização
e preservação do ambiente onde os alunos terão que desenvolver a criatividade,
e capacidade de criação de cada um.
A elaboração do teatro visa gerar transformações
de práticas e atitudes referentes ao meio ambiente promovendo uma reflexão nos
estudantes sobre a realidade que os cerca.
Figura 2 Parte da apresentação do
teatro sobre o lixo.
Intercalando Educação ambiental e
cartilhas Recicleia adote essa ideia
Até o presente momento foram
produzidas e publicadas 09 cartilhas educativas. Além de várias peças de
teatro. Estes materiais foram distribuídos nas escolas, que estavam sendo
acompanhadas pelas atividades realizadas pelo Projeto Recicleia adote essa
ideia. As cartilhas educativas que foram impressas estão descritas a seguir:
Material e métodos
O material foi produzido de forma
coletiva: um dos componentes do grupo desenhava as ilustrações e gravuras,
outro pintava, outro fazia a elaboração dos textos e a análise final e assim
por diante, de tal forma que o produto final foi a resultante do somatório das
ideias de todos da equipe de trabalho.
Utilizando as categorias de
leitor-alvo infantil, sugeridas por Coelho & Santana (2002) que são:
PL – PRÉ-LEITOR (dos 2 aos 5 anos).
Fase dos primeiros contatos da criança com os livros antes da alfabetização,
quando o objeto-livro e imagens são descobertos.
LI – LEITOR INICIANTE (a partir dos
6/7 anos) Fase de aprendizagem da leitura; início do processo de socialização e
de racionalização da realidade com que a criança entra em contato.
LEP – LEITOR EM PROCESSO (a partir dos
8/9 anos) Fase do domínio relativo do mecanismo da leitura e da agudização do
interesse pelo conhecimento das coisas; com o pensamento lógico se organizando
em formas concretas que permitem as operações mentais.
LF – LEITOR FLUENTE (a partir dos
10/11 anos) Fase de consolidação da leitura e da compreensão do mundo expresso
no livro.
O material foi elaborado para as
categorias de público-alvo: LI, LEP e LF, os quais correspondem aos alunos de
1a a 4a séries do Ensino Fundamental.
A metodologia empregada na elaboração
da cartilha foi baseada em seis etapas:
1ª Etapa consiste em Pesquisa
bibliográfica, 2ª Etapa: A visita de campo, 3ª Etapa: Seleção de conteúdos e
elaboração da cartilha, 4ª Desenho e pintura, 5ª Revisão ortográfica e 6ª Etapa
a utilização.
É importante que o objetivo fique
claro logo de início, pois, do contrário, corre-se o risco de que a cartilha
transforme-se num artefato meramente ilustrativo. Não é pelo fato de tratar-se
de um instrumento educacional informal que se exigirá menos atenção ou rigor na
sua elaboração. Trata-se de um método de geração dentro de um fazer coletivo. É
precisamente através deste compartilhamento e apresentação de ideias que surgem
as propostas sobre o enredo da cartilha e as personagens que a comporão.
Entretanto, a proposta começa
efetivamente a tomar corpo quando “busca-se definir qual será efetivamente a
mensagem principal e as mensagens específicas a serem transmitidas”, por meio
da definição do enredo e falas que irão compor a cartilha.
O enredo deve ser simples e acessível
(de fácil entendimento) ao público alvo para o qual foi destinada, refletindo o
cotidiano da escola ou da comunidade. Trata-se de fazer com que o aluno
reconheça-se nas ações retratadas na cartilha; compreenda de que forma suas
atividades impactam o meio ambiente e; o que pode fazer para ajudar.
Entende-se, assim, que quanto mais se identificar com o que vê, maiores são as
chances de que a cartilha obtenha êxito em seus propósitos.
Considerações finais
Os resultados da confecção e da
aplicação do projeto Recicleia foram bastante positivos, pois, serviu de
estímulo para a criatividade dos alunos assim como a interação das escolas de
educação básica, buscando sensibilizá-las da relevância da temática ambiental
estar inserida no cotidiano das escolas.
Percebe-se nas escolas reações
diferenciadas para o uso do material utilizado. O que podemos constatar na
Escola de Estadual de Ensino Médio Frei Miguel de Bulhões onde se iniciou o
projeto, o material produzido e as atividades realizadas na escola, fizeram com
que os professores, assim como a gestão escolar apoiassem a formação de agentes
ambientais escolar para atuarem na revitalização de áreas inóspitas e ociosas
da escola.
A utilização das cartilhas do projeto
Recicleia serviu para mostrar às crianças o que pode acontecer quando as
pessoas o resolvem jogar papel no chão, arrancar folhas de árvores, riscar
paredes de locais públicos, passar horas embaixo de chuveiro e etc, buscamos
sensibilizá-las para que elas não cometam este tipo de ação.
Trabalhando com este material,
observamos que até mesmo aqueles que não se interessava por leitura, se
identificava com as histórias das cartilhas, pois de acordo com Coracini (2002
a) “(...) em muitos casos, as historietas assumem função apelativa,
especialmente quando expressam instruções para melhorar uma atitude, melhorar
um hábito, alertar para os perigos iminentes e outras. São recursos que atingem
até pessoas que não sejam hábeis em leitura, provavelmente porque utilizam
símbolos convencionais para expressar sentimentos, efeitos de ações, emoções”.
Essa é uma de nossas preocupações ao criarmos as cartilhas, contextualizá-las e
deixá-las leves e bem humoradas.
Dessa forma o projeto apresentou resultados
relevantes e funcionou como um instrumento capaz de interferir no processo de
ensino-aprendizagem no sentido de formar cidadãos conscientes e capazes de
integrarem-se melhor com a sociedade. Constatou-se que, com práticas de ações pedagógicas
deste tipo, a educação ambiental pode contribuir, de forma sistêmica, para
reverter algumas das causas da degradação ambiental no nosso planeta e auxiliar
na busca de soluções para uma sociedade mais equilibrada. (ecodebate)
Nenhum comentário:
Postar um comentário