Controlar
mudanças climáticas exigirá remover carbono da atmosfera
Só deixar
de despejar carbono na atmosfera pode não ser mais o suficiente para controlar
as mudanças climáticas. Será preciso também encontrar formas de remover o
excesso. Essa é a conclusão principal de um novo estudo assinado pelo
ex-climatologista-chefe da NASA, Jim Hansen.
Segundo o relatório “Young
people’s burden: requirement of negative CO2 emissions” (algo como
“Um fardo para os jovens: a exigência de emissões negativas de CO2”)
– que resenha 225 outros estudos e documentos – o mundo ultrapassou diversos
marcos, como a concentração de 400 partes por milhão (ppm) de gás carbônico na
atmosfera. O planeta já esquentou 1°C sobre se comparado às temperaturas médias
do período pré-industrial – entre os anos 1880 e 1920. No ano passado, já
ficamos em +1,3°C.
Isso é o bastante para
aproximar perigosamente o clima de hoje ao do período Eemiano, quando o nível
dos mares estava entre 6 e 9 metros mais alto do que o atual. Por isso, os
cientistas responsáveis pelo estudo dizem que a meta assumida pelo Acordo de
Paris de limitar o aquecimento global a 2°C em relação aos níveis
pré-industriais não é suficientemente ambiciosa.
A ideia de que o Acordo de
Paris não será suficiente não é nova. Anteriormente, a Agência Internacional de
Energia (IEA) e a Agência Internacional de Energias Renováveis (Irena) já
haviam levantado que as medidas propostas pelos países participantes não seriam
suficientes nem ao menos para conter a temperatura conforme o previsto.
Na ocasião, em uma ampla
pesquisa sobre a demanda e a oferta mundial de energia até 2050, as agências
apontaram a necessidade de mudanças no mercado de combustíveis – o que pode
ampliar o espaço do etanol – em um mundo que precisa reduzir as emissões de CO2.
Limpeza
Para os autores do novo
estudo será preciso ir além da redução e, efetivamente, empreender um esforço
para limpar a atmosfera. A única questão é qual será o grau de dificuldade.
A maneira mais simples e
barata de ‘limpar’ a atmosfera seria através do plantio de vegetação e o
enriquecimento dos solos com material orgânico. Isso ‘aprisionaria’ parte do CO2.
A alternativa – mais incerta – seria por meio do desenvolvimento de tecnologias
e o estabelecimento de uma ampla infraestrutura para a captura desse carbono.
Os autores
estimam que, se essa segunda opção for mesmo necessária, os custos para
implementar os projetos necessários ao longo do século poderão ficar entre US$
89 e 535 trilhões.
A meta
seria fazer com que a concentração de CO2 na atmosfera terrestre
volte para 350 ppm, o que exigiria remover 150 bilhões de toneladas de gás
carbônico da atmosfera até o final do século. Atingir essa meta não estancaria
os processos de mudanças climáticas da noite para o dia, uma vez que o clima
planetário tem inércia própria e pode demorar muitos anos até responder aos
estímulos.
Tudo vai depender da velocidade com que os
governos mundiais consigam descarbonizar suas economias. Se os países
conseguirem atingir o pico de emissões até 2021 e, daí em diante, reduzirem a
quantidade de CO2 que despejam na atmosfera em um ritmo de 6% ao ano
será possível resolver a maior parte da limpeza por meio de processos
biológicos. Caso contrário, será necessário recorrer a soluções de engenharia.
Perda
de controle
Além
do aumento nos níveis dos oceanos também há o risco de que a elevação nas
temperaturas ative diversos mecanismos naturais de resposta lenta (slow
feedback) que reforçam o processo de aquecimento do planeta e podem levar a um
descontrole da situação climática.
Entre
os mais temíveis está o derretimento de áreas de permafrost – áreas frias como
a tundra siberiana onde o subsolo permanece congelado durante o ano todo – o
que levaria à liberação de depósitos de carbono que, hoje, encontram-se
fixados.
A
própria perda de geleiras reduz a quantidade de radiação solar refletida de
volta ao espaço, aumentando ainda mais a absorção de energia pelo planeta.
“A
continuidade do consumo de combustíveis fósseis vai amarrar as novas gerações
com uma limpeza caríssima e com impactos climáticos massivos”.
Deveríamos
obrigar os governos a modificarem suas políticas energéticas sem mais demora”,
disse Hansen que hoje atua com professor e pesquisador do Instituto da Terra na
Universidade de Columbia. (novacana)
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