Revisão de estudos revela que árvores de florestas
tropicais úmidas estão morrendo mais rápido.
Como se o desmatamento já não fosse suficientemente ruim, uma série de
outras ameaças mata num ritmo cada vez mais intenso as árvores da Amazônia e de
outras florestas tropicais úmidas da Terra.
A Amazônia
é o bioma que registra o maior número de focos de calor.
Uma revisão
de artigos científicos feita por especialistas no tema, incluindo o pesquisador
brasileiro Paulo Brando, do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia),
indica que a taxa de mortalidade dessas árvores mostra sinais de aceleração nos
últimos anos. Os motivos são o aumento da temperatura, secas longas e piores,
ventos mais fortes, incêndios mais extensos, mais cipós e até a abundância de
gás carbônico na atmosfera – uma das causas do efeito estufa e elemento
fundamental da fotossíntese.
As mudanças
climáticas estão relacionadas a todos os problemas apontados. “O trabalho
mostra que há indícios fortes que relacionam a mortalidade das árvores de
florestas tropicais úmidas às alterações esperadas para essas regiões, em
escalas global e regional”, afirma Brando.
O foco do
estudo foram as florestas intactas, primárias ou antigas, na América do Sul,
África e Sudeste Asiático. Porém, ele tende a focar na Amazônia brasileira,
pois é o local mais estudado de todos, com mais volume de dados.
“Na
Amazônia, todas essas causas de mortalidade de árvores estão presentes”, diz
Brando. “Mas é difícil dizer que uma é mais relevante do que outra, porque
todas têm um papel. Secas causam picos de mortalidade, enquanto o aumento de CO2 provoca mudanças de fundo. Já eventos de
tempestades de vento impactam mais áreas fragmentadas, e o fogo causa muitos
danos no sudeste da Amazônia.”
A equação da morte
É
impossível estabelecer qual desses ataques é pior. As secas, por exemplo. Elas
têm se tornado cada vez mais longas e severas – na Amazônia, episódios anômalos
ocorreram em 1997, 2005, 2010 e 2015. Como defesa imediata, as árvores tomam
atitudes extremas, como fechar os estômatos (células por onde ocorre a
respiração das plantas) e perder mais folhas.
Essas
folhas, por sua vez, se acumulam em abundância no solo e servem de combustível
para incêndios florestais, que se alastram facilmente e por mais tempo.
Secas e
temperaturas mais altas ainda podem levar as árvores a definharem de fome,
também num mecanismo de defesa que acaba se tornando um algoz. Ao fechar os
estômatos para salvar água em seu interior, ela deixa de capturar o gás
carbônico do ar, sua fonte de alimentação, enquanto consome o que tem dentro.
O regime
forçado as deixa mais suscetíveis a ataques de pestes, como insetos, ou à
competição por comida com os cipós – que por sua vez têm se proliferado ainda
nesses ambientes. E, mesmo que a dieta não aconteça, excesso de gás carbônico
no ar também não significa que elas crescerão abundantemente.
“Quando
há muito gás carbônico, algumas árvores podem dominar o pedaço e roubar os
recursos dos vizinhos. Assim, há um aumento esperado na mortalidade de árvores
mas não necessariamente mudanças drásticas nos estoques de carbono”, explica o
pesquisador do IPAM. “Outra explicação é que a floresta se torna mais dinâmica
com mais CO2; cresce mais rapidamente e morre mais rapidamente,
tanto pelo metabolismo quanto por mudanças na estrutura da floresta.”
Tampouco o
fato de estarem próximas à linha do Equador traz vantagem para as florestas
tropicais úmidas num planeta mais quente: um novo regime de temperatura,
esperado para os próximos anos devido às mudanças climáticas, pode mudar o
metabolismo das árvores.
Os autores
do estudo abrem uma discussão sobre cenários que possam reverter o quadro, como
um aumento da precipitação anual, mas não entram na discussão sobre como a ação
humana pode reverter o quadro.
Segundo
Brando, reduzir a taxa de mudança no clima e estabilizar o processo o quanto
antes, que envolve derrubar os níveis de emissão de CO2, mas também do desmatamento, são fatores
essenciais para manter as florestas tropicais do mundo. “Quanto menor a área de
borda de floresta, comum em paisagens fragmentadas, menor o impacto da seca,
fogo e ventos.”
Ele também
destaca a importância de se aprofundar as análises. “As redes de observação são
extremamente importantes para entendermos se as nossas florestas estão
saudáveis, e o Brasil tem feitos avanços importantes”, diz. “Precisamos saber o
que realmente está acontecendo, para fechar buracos nas observações que ainda
existem e nos preparar para os efeitos das mudanças climáticas.” (ecodebate)
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