Atual ritmo de desmatamento vai intensificar aquecimento
global, alerta estudo.
Em artigo na Nature Communications, grupo internacional afirma que a continuação do desmatamento de 7 mil Km² anuais poderá anular esforços para redução de emissões.
Em artigo na Nature Communications, grupo internacional afirma que a continuação do desmatamento de 7 mil Km² anuais poderá anular esforços para redução de emissões.
Forçamentos radiativos médios
anuais globais devido a mudanças nas concentrações de forcers climáticos de
curta duração (SLCFs) sob cenários de desmatamento global (a) e regional (b –
d). As barras representam o forçamento radiativo líquido de SLCFs (laranja) eo
forçamento radiativo direto de aerossóis (DRF, em vermelho), primeiro
forçamento radiativo indireto de aerossol (IRF, em azul) e RF devido a
alterações em O 3 (verde) e CH 4 (roxa).
O processo
de aquecimento global pode ocorrer de forma ainda mais intensa do que o
previsto originalmente caso não se consiga frear o desmatamento –
particularmente nas regiões tropicais do planeta. O alerta foi publicado na Nature Communications por um grupo internacional
de cientistas.
“Se
continuarmos destruindo as florestas no ritmo atual – cerca de 7 mil km² por
ano no caso da Amazônia -, daqui a três ou quatro décadas teremos uma grande
perda acumulada. E isso vai intensificar o processo de aquecimento do planeta
independentemente do esforço feito para reduzir as emissões de gases de efeito
estufa”, disse Paulo Artaxo, professor do Instituto de
Física da Universidade de São Paulo (IFUSP).
Alcançando a conclusão
O grupo
chegou à conclusão após conseguir reproduzir matematicamente as condições
atmosféricas atuais do planeta, por meio de modelagem computacional que usou um
modelo numérico da atmosfera (https://www.metoffice.gov.uk/research/modelling-systems/unified-model) desenvolvido no Met
Office, agência nacional de meteorologia do Reino Unido.
Tal modelo
incluía fatores como concentrações de aerossóis, compostos orgânicos voláteis
(VOCs, na sigla em inglês) antropogênicos e biogênicos, ozônio, dióxido de
carbono, metano e também os outros itens que influenciam na temperatura global
– entre eles o chamado albedo de superfície (a fração da radiação solar
refletida de volta para o espaço em comparação à fração absorvida, que muda de
acordo com o tipo de cobertura da superfície).
O trabalho, coordenado pela pesquisadora Catherine Scott, da Universidade de Leeds (UK), também se baseou em anos de análise e levantamento sobre o funcionamento das florestas tropicais e temperadas, os gases emitidos pela vegetação e seus impactos na regulação do clima. A coleta de informações sobre florestas tropicais foi coordenada por Artaxo, no âmbito de dois Projetos Temáticos apoiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP: “GoAmazon: interação da pluma urbana de Manaus com emissões biogênicas da Floresta Amazônica” e “Aeroclima: efeitos diretos e indiretos de aerossóis no clima da Amazônia e Pantanal”. Os dados sobre as florestas temperadas foram obtidos na Suécia, na Finlândia e na Rússia, sob a coordenação de Erik Swietlicki, da Universidade de Lund (Suécia).
O trabalho, coordenado pela pesquisadora Catherine Scott, da Universidade de Leeds (UK), também se baseou em anos de análise e levantamento sobre o funcionamento das florestas tropicais e temperadas, os gases emitidos pela vegetação e seus impactos na regulação do clima. A coleta de informações sobre florestas tropicais foi coordenada por Artaxo, no âmbito de dois Projetos Temáticos apoiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP: “GoAmazon: interação da pluma urbana de Manaus com emissões biogênicas da Floresta Amazônica” e “Aeroclima: efeitos diretos e indiretos de aerossóis no clima da Amazônia e Pantanal”. Os dados sobre as florestas temperadas foram obtidos na Suécia, na Finlândia e na Rússia, sob a coordenação de Erik Swietlicki, da Universidade de Lund (Suécia).
A maioria dos cientistas acredita que o
Aquecimento Global é real e é causado pelo ser humano.
Entendendo como a floresta tropical controla a
temperatura
“Depois que
conseguimos regular o modelo para reproduzir as condições atuais da atmosfera
terrestre e o aumento da temperatura do planeta ocorrido desde 1850, fizemos
uma simulação em que o mesmo cenário era mantido, mas todas as florestas eram
eliminadas. O resultado foi uma elevação significativa de 0,8°C na temperatura
média. Ou seja, hoje o planeta estaria em média quase 1°C mais quente se não
houvesse mais florestas”, comentou Artaxo.
Os estudos
revelaram ainda que a diferença observada nas simulações se deve principalmente
às emissões de BVOCs (compostos orgânicos voláteis biogênicos) pelas florestas
tropicais.
“Ao serem
oxidados, os BVOCs dão origem a partículas de aerossol que esfriam o clima
refletindo parte da radiação solar de volta ao espaço. Uma vez que a floresta é
derrubada, ela deixa de emitir BVOCs e este resfriamento deixa de existir,
levando a um aquecimento futuro. Este efeito não estava sendo levado em conta
em modelagens anteriores”, comentou Artaxo.
Segundo o
pesquisador, as florestas temperadas produzem VOCs diferentes e com menor
capacidade de dar origem a essas partículas esfriadoras.
Como
destacado no artigo, atualmente a vegetação cobre um terço da área continental
do planeta – fração bem menor do que a existente antes da intervenção humana.
Grandes áreas florestais na Europa, Ásia, África e América já foram derrubadas.
O
desmatamento e a poluição são as principais causas do aquecimento global.
“Vale
ressaltar que não tratamos neste artigo do impacto direto e imediato das
queimadas, como a emissão do carbono negro [considerada um fator importante no
aquecimento global devido à alta capacidade dessa partícula de absorver a
radiação solar]. Ele existe, mas dura somente algumas semanas. Estamos olhando
para efeitos de longo prazo na variação da temperatura”, afirmou Artaxo.
Segundo o
professor do IFUSP, o desmatamento altera em definitivo a quantidade de
aerossóis e de ozônio na atmosfera do planeta, o que muda todo o balanço
radiativo da atmosfera.
“A partir
deste estudo aumentou a importância relativa de se manter a floresta em pé. Não
só é urgente parar a destruição, como também pensar em políticas de
reflorestamento em larga escala, principalmente em regiões tropicais. Caso
contrário, pouco vai adiantar o esforço para reduzir as emissões de gases
estufa proveniente da queima de combustíveis fósseis”, disse Artaxo.
(ecodebate)
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