O Brasil não deve cumprir o
objetivo 1 dos ODS – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, que trata da
“Erradicação da Pobreza” e que estabelece: “Acabar com a pobreza em todas as
suas formas, em todos os lugares” até 2030. Em vez de cair, o número de pobres
e de indigentes (extrema pobreza) subiu.
A economia brasileira vive a
sua mais longa e mais profunda recessão da história republicana. Um dos
resultados é o aumento da pobreza e da extrema pobreza devido à queda da renda
per capita e ao aumento do desemprego que atingem a população mais carente. É o
que mostra o gráfico acima, retirado do Relatório LUZ 2018, do Grupo de
Trabalho da Sociedade Civil para Agenda 2030.
O número de pessoas na
pobreza, no Brasil, em 1993, estava em 45,6 milhões de indivíduos. Este número
caiu para menos de 40 milhões depois do lançamento do Plano Real (e da redução
da inflação) e chegou a 41,8 milhões em 2003. Com a retomada do crescimento
econômico durante o superciclo das commodities e ao aumento do gasto social a
exclusão social caiu rapidamente e o número de pessoas em situação de pobreza
diminuiu para 14,1 milhões de pessoas em 2014. Mas depois do estelionato
eleitoral de 2014 e no segundo mandato da dupla Dilma-Temer, a pobreza voltou a
subir, chegando a 17 milhões em 2015, 21,6 milhões em 2016 e cerca de 22 milhões
em 2017.
A indigência teve
comportamento semelhante. O número de pessoas na extrema pobreza no Brasil, em
1993, estava em torno de 20 milhões, caindo para algo em torno de 14 milhões
depois da implantação do Plano Real. Em 2013, estava em torno de 13 milhões e
caiu para 5,2 milhões de pessoas em 2014. Mas o número de pessoas em situação
de extrema pobreza aumentou para 6,4 milhões em 2015, 10 milhões em 2016 e 11,8
milhões em 2017.
Não há dados ainda para o ano
de 2018, mas a expectativa de retomada da economia e do emprego não está
ocorrendo conforme previa o governo e, provavelmente, o número de pessoas em
situação de pobreza e de indigência aumente também em 2018. Ainda mais com a
desvalorização cambial. Ou seja, o Brasil está regredindo no que diz respeito
ao objetivo número 1 dos ODS.
A redução da pobreza é um processo que vem
ocorrendo no longo prazo no Brasil. Avanços civilizacionais têm melhorado a
qualidade de vida dos cidadãos em termos de renda, educação e saúde,
especialmente depois da Segunda Guerra Mundial. Não sem novidade, a maior
redução da pobreza no Brasil ocorreu nos tempos do chamado “milagre econômico”
e da “economia em marcha forçada”, isto é entre o final da década de 1960 e o
ano de 1980.
A pesquisadora Sonia Rocha,
em texto publicado no XXV Fórum Nacional do BNDES, em maio de 2013, documentou
o processo de redução da pobreza no Brasil entre 1970 e 2011. Na década de
1970, a proporção de pobres no país caiu fortemente de 68,4% em 1970 para 35,3%
em 1980. A pobreza voltou a subir durante a recessão ocorrida no governo
Figueiredo, entre 1981 e 1983. Caiu especialmente durante o processo de
congelamento de preços do Plano Cruzado e voltou a subir para a casa de 30%
durante a recessão dos governos Sarney e Collor. Depois do governo Itamar, a
pobreza foi reduzida para algo em torno de 20% e chegou ao nível mais baixo, em
torno de 10% no final do governo Lula.
Portanto, a pobreza vem caindo no Brasil no
longo prazo, mas não de forma linear. A experiência passada mostra que nas
crises econômicas a pobreza sobe e volta a cair na retomada da economia.
Contudo, este padrão pode não se repetir na atualidade, pois a atual recessão é
a mais longa e profunda e a que tem mostrado o ritmo mais lento de recuperação.
Além do mais, o melhor período do bônus demográfico já passou e a janela de
oportunidade começou a se fechar.
Oxalá o próximo governo, a
ser eleito em 2018, consiga por ordem na casa e possa cumprir com as metas
acordadas na Agenda 2030 da ONU. Porém, o nível do debate eleitoral até o
momento não tem gerado muito otimismo no eleitorado. O país utópico do futuro
sem pobreza está cada vez mais distante e o Brasil distópico é a realidade que
insiste em permanecer presente. (ecodebate)
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