IPCC faz alerta para medidas
imediatas e sem precedentes de redução do ritmo das mudanças climáticas.
Limitar
o aquecimento global a 1,5°C em relação
aos níveis pré-industriais exige mudanças imediatas e sem precedentes na
economia mundial. Essa é a avaliação do novo relatório do Painel Intergovernamental
sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), da
Organização das Nações Unidas (ONU), publicado em 07/10/18.
Este gráfico, baseado na
comparação de amostras atmosféricas contidas em núcleos de gelo e medições
diretas mais recentes, fornece evidências de que o CO2 atmosférico
aumentou desde a Revolução Industrial.
Produzido
por 91 cientistas e revisores de 40 países para guiar líderes globais, o relatório
detalha – com base em 6 mil estudos científicos – a diferença que o impacto do
aumento de 1,5°C ou 2°C nas temperaturas teria para o planeta. Atualmente, a
ação do homem já provocou o aumento médio de 1,1°C na temperatura global.
Diplomatas
de vários países do mundo se reuniram na semana passada em Incheon, na Coreia
do Sul, para negociar o relatório preparado por cientistas do IPCC. De acordo
com Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo
e membro do IPCC, houve uma forte reação dos Estados Unidos e dos Emirados
Árabes em defesa dos combustíveis fósseis, até que finalmente se chegasse a um
consenso.
“O
relatório diz com todas as letras que se quisermos limitar o aumento da
temperatura em 2°C, não tem jeito, vai ter que ser emissão zero de carbono até
2050 e emissões negativas, ou seja, além de não emitir carbono, também
sequestrar [retirar] carbono da atmosfera ao longo dos últimos 50 anos deste
século. Essa seria hoje a única maneira de conseguirmos isso, uma tarefa praticamente
impossível”, disse Artaxo à Agência FAPESP.
Outro ponto
destacado no relatório é que muitos dos efeitos do aquecimento global já são
percebidos e serão intensificados antes mesmo de atingir o limite de 1,5°C.
Caso o aquecimento global continue no mesmo ritmo de hoje, a temperatura global
deve aumentar 1,5°C (em comparação com os níveis pré-industriais) até 2040.
Entre as
determinações para limitar o aquecimento global estão banir os combustíveis
fósseis e o desmatamento.
Isso
acarretaria piora da escassez de alimentos, secas, enchentes, na redução da
biodiversidade e a mortalidade em massa de recifes de corais. Outros impactos
em destaque são o aumento do nível do mar, dos casos de doenças transmitidas
por vetores, de ondas de calor e de ciclones tropicais.
Porém, a
diferença de 0,5°C, além de diminuir o impacto das mudanças climáticas,
impediria, por exemplo, que os corais fossem completamente erradicados e também
aliviaria a pressão sobre o Ártico, reduzindo o aumento do nível do mar.
De acordo
com o relatório, o que acontecer entre 2018 e 2030 será determinante,
especialmente para as emissões de CO2. Entre as determinações
para limitar o aquecimento global em 1,5°C estão banir os combustíveis fósseis
e o desmatamento.
“Estamos em
uma encruzilhada. Aquilo que for feito nos próximos cinco e 10 anos será
determinante para o clima no planeta neste e nos próximos séculos. Se não
agirmos agora e conseguirmos obter reduções substanciais nas emissões ao longo
da próxima década, será muito difícil manter o aquecimento global em apenas
1,5°C”, disse.
Desmatamento na Amazônia
Intensificação do Acordo de Paris
Intensificação do Acordo de Paris
A
necessidade de emissões negativas aumenta automaticamente a importância do
combate ao desmatamento da Amazônia e a promoção de
iniciativas de reflorestamento em larga escala visando aumentar o armazenamento
de carbono. As florestas são capazes de armazenar carbono da atmosfera, questão
fundamental para as mudanças climáticas.
“Com a
necessidade de estocar carbono, aumenta a preocupação com a Amazônia e outras
áreas de florestas tropicais que estão em risco. Temos que parar 100% com o
desmatamento de áreas tropicais. Parar de destruir floresta é a maneira mais
barata e eficiente para reduzir emissões e que só traz benefícios. É mais fácil
e barato, por exemplo, que mudar a estrutura energética de um país e, além
disso, é o que traz retorno imediato”, disse.
Artaxo
ressalta que a necessidade de desmatamento zero deixa o Brasil em posição
delicada. “Desmatamento é basicamente uma questão de legislação e de fazer
cumprir essa legislação. Isso deixa o Brasil em situação delicada, já que nos
últimos quatro anos o desmatamento aumentou de 5 mil km² para 8 mil km². É um
valor absurdamente alto”, disse.
O relatório
do IPCC será peça-chave para a 24ª Conferência das Partes (COP-24) da
Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) que será
realizada em Katowice, na Polônia, em dezembro. Na conferência, os governos vão
revisar o Acordo de Paris (2015) para combater as mudanças climáticas.
“Lá será
discutida a intensificação do Acordo de Paris, com metas mais altas de redução
das emissões de gases do efeito estufa. Mas a Alemanha, por exemplo, já falou
que não vai conseguir atingir as metas voluntárias do Acordo de Paris. Os
Estados Unidos não querem que a opinião pública da indústria do carvão se vire
contra eles. Países como a Polônia, por exemplo, com 70% da energia gerada por
carvão, afirmam também que não vão conseguir atingir as metas”, disse Artaxo.
O Acordo de
Paris adotado por 195 nações na 21ª Conferência das Partes (COP-21) da UNFCCC,
em dezembro de 2015, incluiu o objetivo de fortalecer a resposta global à
ameaça das mudanças climáticas “mantendo o aumento na temperatura média global
menor que o aumento de 2°C do nível pré-industrial (1750) e esforços para
limitar o aumento da temperatura a 1,5°C”.
Como parte
da decisão de adotar o Acordo de Paris na COP-21, o IPCC foi convidado para
produzir, em 2018, o Relatório Especial Global Warming of 1.5°C, sobre o
aquecimento global de 1,5°C acima dos níveis pré-industriais e vias de emissão
de gases de efeito estufa. O relatório tem como objetivo examinar a questão
para o fortalecimento da resposta global às mudanças climáticas,
desenvolvimento sustentável e esforços para erradicar a pobreza. (ecodebate)
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