Mudança climática/perda de biodiversidade: Ameaças
inseparáveis que precisam ser debatidas juntas.
Perda de Biodiversidade – Modelos preveem aumento de
10 a 30 vezes nas terras agrícolas dedicadas à bioenergia.
Plataforma intergovernamental de política científica
sobre biodiversidade e serviços ecossistêmicos.
A
demanda por bioenergia para reduzir as emissões
de CO2 procedentes de
combustíveis fósseis pode causar um aumento de 10 a 30 vezes no uso relacionado
à energia de áreas verdes nos próximos anos, acrescentando uma pressão
esmagadora no habitat para plantas e animais e comprometendo a essencial
diversidade de espécies na Terra.
Palestrando
a ministros de Estado e a outros representantes de alto nível em uma importante
reunião da ONU sobre biodiversidade no Egito, Anne Larigauderie, Secretária Executiva
da Plataforma Intergovernamental sobre
Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos, disse que cientistas do clima
preveem que muito mais terras serão necessárias para o milho e outras culturas
energéticas, a fim de mitigar a mudança climática nas próximas décadas.
Citando
o último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC),
que limitou o aquecimento climático a 1.5ºC, a Dra. Larigauderie observou que a
maioria dos cenários do IPCC prevê um grande aumento nas áreas para culturas
energéticas até 2050 – até 724 milhões de hectares ao todo, uma área quase do
tamanho da Austrália.
“A
questão-chave aqui é: de onde viria esta enorme quantidade de novas terras?”,
ela perguntou. “Existe atualmente tal enorme quantidade de terras marginais
disponíveis ou haveria competição com a biodiversidade? Alguns cientistas argumentam que restam muito poucas terras
marginais.”
“Esta
importante questão precisa ser esclarecida, mas a demanda por terra para
energia quase seguramente crescerá, com consequências negativas para a
biodiversidade.”
A
Dra. Larigauderie fez estes comentários no início da 14ª reunião da Conferência
das Partes da Convenção Sobre Diversidade Biológica da ONU (COP 14, https://www.cbd.int/conferences/2018), organizada com o governo do
Egito em Sharm el-Sheikh, de 14 a 29 de novembro.
Atingir
os alvos de intensa mitigação climática sem massiva bioenergia é possível, ela
acrescentou, mas os cenários indicam que isso exige reduções substanciais no
uso de energia e rápidos aumentos na produção de energia de baixo carbono
através de fontes eólicas, solares e nucleares.
Preservar
a diversidade de espécies vegetais e animais e os serviços que a natureza provê
é em si a chave para mitigar o aquecimento planetário, ela disse.
Um
novo estudo baseado em evidências de períodos quentes do passado sugere que o
aquecimento global pode ser o dobro do previsto.
Por
exemplo:
Os
ecossistemas terrestres, com suas diversas plantas e solos, atualmente
sequestram cerca de um terço das emissões anuais de CO2.
Similarmente,
o oceano sequestra cerca de um quarto das emissões anuais de carbono.
O
reflorestamento mitiga melhor o clima do que a maioria das culturas
energéticas. Em climas temperados, um hectare reflorestado é quatro vezes mais
efetivo na mitigação climática do que um hectare de milho usado como biocombustível.
“Todos
os métodos que produzem ecossistemas mais saudáveis deveriam ser promovidos
como uma forma de combater a mudança climática,” ela disse. “Isso inclui o
florestamento e o reflorestamento, bem como a restauração – executada
adequadamente usando espécies nativas, por exemplo.”
O
último relatório do IPCC “deu um senso de extrema urgência para essas trocas de
escolhas e sinergias entre o clima, a biodiversidade e a degradação da terra”,
ela disse.
Esforços
estão em andamento para melhorar a tão necessária colaboração interdisciplinar
entre o IPCC e o IPBES, ela acrescentou, no contexto do segundo programa de
trabalho do IPBES a ser aprovado em 2019.
“Por
detrás de todas essas discussões está a necessidade de se elevar o tópico da
biodiversidade ao mesmo nível do clima na agenda política. Sinto que podemos
estar mais próximos… Mas precisamos intensificar ainda mais nossos esforços
como comunidade nos próximos dois anos.”
Em
comentários separados a líderes empresariais nas reuniões da ONU, a Dra. Larigauderie
disse que esperava-se que a COP 14 tomasse a decisão de requerer um relatório
do IPBES sobre critérios, métricas e indicadores dos impactos que diferentes
setores econômicos têm na biodiversidade e nos serviços ecossistêmicos, o qual
poderia ser realizado em 2019 caso aprovado pelo próximo Plenário do IPBES.
As
empresas têm várias razões convincentes para proteger e usar a biodiversidade
de forma sustentável, ela observou.
Entre
elas:
Muitos
negócios dependem direta ou indiretamente da biodiversidade e da saúde dos
serviços ecossistêmicos
Eles
são muitas vezes responsáveis pela perda de biodiversidade e dos serviços
ecossistêmicos e os consumidores irão cada vez mais favorecer as empresas com
uma política de biodiversidade, assim como eles tomam decisões agora que
refletem preocupações com o clima e com a poluição.
A
gestão adequada do impacto na biodiversidade não somente minimizaria riscos
operacionais, regulamentares, de reputação e de mercado, mas também traria
oportunidades de negócios para as empresas na forma de novos mercados,
eficiências de produção, engajamento dos funcionários e vantagem competitiva.
Avaliações
do IPBES recentemente publicadas sobre biodiversidade regional e relatórios de
serviços ecossistêmicos contêm estudos de caso, opções de políticas e
oportunidades para priorizar a biodiversidade em diferentes setores econômicos,
ela observou.
“Elas
mostram em especial que a ação ambiental proativa por parte das empresas é
fundamental e precisa aumentar, mas também que elas precisam ser apoiadas por
medidas regulamentares complementares bem como por incentivos/desincentivos por
parte dos governos.”
Espera-se
que seja dada uma ênfase maior nisto em uma grande avaliação global de
biodiversidade e serviços ecossistêmicos que está sendo preparada para ser
publicada em Paris em maio do ano que vem, disse a Dra. Larigauderie. Será o
primeiro relatório do tipo desde a Avaliação Ecossistêmica do Milênio de 2005.
Uma
importante pormenorização dos elementos da Avaliação Global sobre a Biodiversidade
do IPBES publicada em 19/11/18.
Sobre
a 14ª reunião da Conferência das Partes da Convenção Sobre Diversidade
Biológica da ONU
Segmento
de Alto Nível (14-15 de novembro, https://www.cbd.int/meetings/COP-14-HLS).
Espera-se que nada menos que 80 ministros do Meio Ambiente, da Infraestrutura,
de Energia, da Indústria e de outros setores juntem-se às discussões sobre
priorizar a biodiversidade em suas respectivas áreas de trabalho.
De
17 a 29 de novembro, negociações serão realizadas entre as 196 partes da CDB
nos seguintes temas principais: Alcançar as globalmente adotadas Metas de Aichi
(2010-2020); priorizar os problemas de biodiversidade; e o início de dois anos
de negociação do quadro mundial para a biodiversidade pós-2020, agendado para
acordo final na COP 15 da CDB na China em 2020. (ecodebate)
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