Dentro de visão holística e
sistêmica da questão, a preservação da floresta tem aspectos que transcendem a
meras questões legais, éticas ou morais.
Quando ainda existia o
Gondwana, o grande continente que precedeu a separação da massa sul-americana
dos demais continentes do planeta, a área geográfica que engloba as regiões
sudeste e sul do Brasil, já constituiu um grande deserto. Isto ocorreu na época
em que a América do Sul ainda não havia se separado completamente da África.
Esta efeméride é datada como
tendo ocorrido há cerca de 130 milhões de anos atrás. O curso do rio Amazonas
ainda se dirigia e desembocava no oceano Pacífico, e o oceano Atlântico ainda
não era bem implantado e delineado. Estas informações se restringem aos meios
acadêmicos e são pouco conhecidas do grande público.
A tectônica de placas não é
ciência de domínio público com deveria ser. Só aparecem animações na televisão
quando terremotos sacodem a terra. Nem os vulcões merecem destaque. Pela deriva
continental ou a chamada “continental drifting”, teoria comprovada e bastante
aceita, os continentes emersos ou submarinos se movimentam como gigantescos
gomos de uma bola de futebol. E isto define uma geometria e processos de
operação que definem completamente as zonas que podem ter vulcões e terremotos
em toda superfície da terra.
A dinâmica continental sempre
existiu, mas só foi compreendida nos anos 60 do século passado. Depois da
segunda grande guerra, foram criadas várias organizações internacionais, como a
própria Organização das Nações Unidas, que desenvolveu um projeto chamado
“Challenger” que significa desafio em português, que ao mapear toda a
superfície do fundo do mar, permitiu a elaboração de diretrizes e fundamentos
para compreensão de todos os processos do globo.
Distribuição geográfica dos
fósseis gondwânicos.
Não interessa aprofundamento
técnico que seria exaustivo sobre todos os fundamentos da geologia histórica,
que é uma das feições mais fascinantes de toda a ciência da terra. Mas se
debruçando sobre a última série histórica, todos os atuais continentes se
originaram de apenas uma grande massa continental emersa, chamada “Gondwana”.
A gente não precisa ser
geólogo, para entender como nos livros primários de geografia, os recortes do
leste da América do Sul e do oeste do continente africano se encaixam
perfeitamente. Efetivamente estavam juntos e se separaram. Quando eles se
separaram, muitas mudanças aconteceram na América e na África. Ergueu-se a
Cordilheira dos Andes de forma repentina, considerando-se a palavra “repentina”
em termos de tempo geológico, ou seja, repentino significa poucos milhões de
anos.
O Rio Amazonas sofreu
alteração de curso e de paisagem. Passou a desaguar no oceano Atlântico e
formou uma enorme planície. A grande umidade gerada nesta planície produziu uma
extensa e complexa floresta, que absorve a água do oceano Atlântico.
Posteriormente, a evaporação das árvores é empurrada pelos ventos, formando os
chamados rios voadores, que formam zonas de convergência de umidade,
condensam-se e precipitam-se na forma de chuvas sobre o cone sul da América,
incluindo as regiões sul e sudeste atuais do Brasil.
A cordilheira dos Andes,
formada pela colisão da placa de Nazca com a placa sul-americana numa zona
chamada de subducção ou consumo, passou a constituir uma alta e comprida
barreira, que represa os rios voadores e produz seu direcionamento para o sul.
Resumindo e simplificando, se não fosse a umidade da Amazônia Legal e os rios
voadores, as regiões sudeste e o Sul do Brasil tenderiam a continuar a ser
desertos. Foi essa grande umidade que alterou a aridez do cone sul gerando
biomas equilibrados e de grande fertilidade. Este mesmo arranjo, produziu a
Mata Atlântica e o próprio Aquífero Guarani.
Animação da divisão da
Pangeia e de Gondwana.
Buscando a mesma latitude das
regiões sul e sudeste do Brasil, no continente africano sobre um globo
terrestre se encontrará em território do norte do Chile, o Deserto de Atacama,
considerado um dos mais elevados e mais áridos do planeta. Na África, na mesma
latitude, esta situad o Deserto de Kalahari.
A Cordilheira do Andes não
possibilita que os rios voadores formados na Amazônia Legal, façam a irrigação
do Deserto de Atacama. Por outro lado, se sabe que as nuvens no Oceano
Pacífico, tendem a se condensar antes de alcançarem este deserto, que alcança
altitudes de quase 7 mil metros, devido ao choque das placas de Nazca e placa
sul-americana na zona de colisão continental, onde a placa oceânica submerge
para o interior da crosta terrestre.
Ainda não é possível elaborar
interpretações definitivas deste cenário descrito, mas cada vez parece mais que
as alterações intempéricas que ocorrem no sul e sudeste do país estão
intimamente associadas com a falta de preservação e conservação eficiente na
região amazônica.
Sem alarmismo desnecessário,
parece o momento de declarar uma guerra, na obtenção de condições salutares na
Amazônia que não altere ciclos fundamentais para a manutenção de todo o
equilíbrio ecossistêmico de todo o país.
Gondwana.
Dentro de visão holística e
sistêmica da questão, a preservação da floresta tem aspectos que transcendem a
meras questões legais, éticas ou morais. Ou a simples enfeixamentos de boas
práticas e boas intenções e preservações para o usufruto das gerações futuras.
Todo este cenário, amplia a
pressão sobre os recursos naturais, agravando cenários de escassez de água,
vulnerabilizando os recursos hídricos que precisam ser retirada do meio
natural. Se não houver quase a deflagração de uma guerra pela preservação,
estas águas podem estar indisponíveis ou nem existir em cenário futuro próximo,
numa situação catastrófica e desoladora. (ecodebate)
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