2019 pode ser o ano mais quente
já registrado — entenda por quê.
Causado por um provável El Niño
e pelas mudanças climáticas, há uma previsão de que o planeta aqueça ainda
mais, advertem os cientistas.
Ondas de tempestade atingem
as casas litorâneas de Mondos Beach, na Califórnia, em 12 de janeiro de 2016,
durante um forte El Niño. Ele pode retornar em breve.
É muito provável que o
fenômeno El Niño esteja a caminho, acentuando o clima extremo já agravado pelas
mudanças climáticas e aumentando a chance de que 2019 seja o ano mais quente já
registrado na história humana, alertam os cientistas.
Há uma chance de 80% de que
um El Niño plenamente formado já tenha começado e dure ao menos até o fim de
fevereiro de 2019, segundo o Centro de Previsões Climáticas da Administração
Atmosférica e Oceânica Nacional.
Os impactos do El Niño foram
mais severos nos últimos anos por causa do aquecimento global e esses impactos
piorarão à medida que as temperaturas continuarem a subir, segundo um estudo
recente da revista científica Geophysical Research Letters.
“Com um El Niño, é bem possível
que 2019 seja o ano mais quente já registrado”, afirmou Samantha Stevenson,
coautora do estudo e cientista climática da Universidade da Califórnia, em
Santa Bárbara.
Os quatro anos mais quentes
foram os quatro últimos, de 2015 a 2018, em razão das crescentes emissões de
dióxido de carbono (CO2) que aprisionam o calor—e que também alcançaram níveis
recordes, segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM). O clima da Terra
está mais quente que a média do século 20 nos últimos 406 meses consecutivos, o
que significa que ninguém que tenha menos de 32 anos já viveu um mês mais frio
que a média.
“Cada fração de grau de
aquecimento faz diferença à saúde humana e ao acesso a alimentos e água doce, à
extinção de plantas e animais, à sobrevivência de recifes de corais e de
animais marinhos”, afirmou Elena Manaenkova, Secretária-Geral Adjunta da OMM.
Conheça as causas e o impacto
do aquecimento global e das mudanças do clima em nosso planeta.
Os perigos do aquecimento
Um mundo mais quente
significa mais e maiores extremos climáticos destrutivos e perigosos, como
ondas de calor, incêndios florestais, secas, enchentes e tempestades violentas.
Ocorreram 70 furacões ou ciclones tropicais no Hemisfério Norte em 2018, em
comparação a uma média de 53 em longo prazo. Tempestades poderosas, que fizeram
história, trouxeram devastação às Ilhas Marianas, Filipinas, Vietnã, Coréia do
Sul e Tonga. Nos Estados Unidos, os ciclones Florence e Michael causaram
prejuízos econômicos enormes e considerável perda de vidas, observou a OMM em
sua declaração climática anual.
Ondas de calor resultaram em
uma estarrecedora perda de produtividade em 2018, porque frequentemente estava
muito calor para trabalhar ou até mesmo ficar ao ar livre em segurança. No
último ano, foram perdidas 153 milhões de horas de trabalho em razão das ondas
de calor, um número surpreendente; quase três vezes mais que em 2000, segundo o
relatório de 2018 da Lancet Countdown sobre saúde e mudanças climáticas
divulgado em 28 de novembro.
O último fenômeno El Niño terminou
em 2016 e foi associado ao catastrófico branqueamento de corais na Grande
Barreira de Corais, às graves secas na África, América do Sul, partes do
Pacífico e sudeste da Ásia, e aos incêndios florestais na Indonésia e no
Canadá. Embora não se espere que o atual El Niño seja tão severo, ele ainda
poderia trazer um clima rigoroso a áreas vulneráveis ao redor do mundo,
advertem os cientistas.
Alergias e asma continuarão a aumentar. Prepare-se para um ar mais sujo.
Espera-se que as mudanças climáticas aumentem o ozônio atmosférico - amplamente
conhecido por levar à diminuição da função pulmonar - até dez partes por
bilhão. Os casos de asma podem saltar até 10% em áreas urbanas, como a cidade
de Nova York. As temporadas de pólen mais longas levarão a mais alergias
relacionadas ao ar, dizem os cientistas, e com dióxido de carbono crescente, a
contagem do pólen dobraria em 2000 níveis.
O envelhecimento das
infraestruturas de transporte não se misturará bem às condições climáticas
extremas. Grandes tempestades e condições meteorológicas extremas já mostraram
sua força. O impacto nas redes de transporte não será bonito e o nível
destruição da supertempestade Sandy em 2012 poderá se repetir. Cientistas
esperam que cenários semelhantes aumentem em regiões que se tornarão mais
vulneráveis à mudança do clima. Vários estados dos Estados Unidos, incluindo
Vermont, Tennessee, Iowa e Missouri, já passaram por um clima severo que
danificou estradas, pontes e ferrovias. Alguns engenheiros preocupam-se também
com o envelhecimento da infraestrutura e as demandas crescentes, criando rotas
não confiáveis para o transporte de produtos vitais, como alimentos,
combustível e água.
As cidades podem se tornar ainda mais perigosas. Os conglomerados
urbanos são considerados atraentes, principalmente pela proximidade às
principais conveniências. Mas há uma grande desvantagem. Os desastres naturais
causados pelas mudanças climáticas - como o aumento de furacões e tempestades
mais severas - mostram que qualquer problema pode impactar a vida de milhões de
pessoas. Apenas algumas cidades elaboraram planos para lidar com esses eventos.
O fechamento do sistema de metrô de Nova York e a emissão de ordens de
evacuação antecipada para algumas partes de Nova York e Nova Jersey antes da
supertempestade Sandy, por exemplo, salvou milhares de vidas e lares.
"O planeta continua
aquecendo. Especialmente nos Estados Unidos, onde o ano de 2012 foi o mais
quente já registrado, de longe. Em ciclos de poucos anos, o governo federal
envolve centenas de especialistas para avaliar os impactos das mudanças
climáticas, agora e no futuro. Da agricultura e infraestrutura até o modo como
os seres humanos consomem energia, o Comitê Consultivo para o Desenvolvimento
da Avaliação Climática Nacional destaca como um mundo aquecido pode trazer
perturbações generalizadas. Os agricultores verão declínios em algumas
culturas, enquanto outros irão colher rendimentos aumentados. O carbono
atmosférico não significará períodos de crescimento mais longos? Não
exatamente. Ao longo das próximas décadas, o rendimento de praticamente todas
as culturas no fértil Vale Central da Califórnia, do milho ao trigo, ao arroz e
ao algodão, cairá em até 30%, dizem os pesquisadores. A polinização apagada, impulsionada pelo
declínio das abelhas em parte por causa da mudança do clima, é uma das razões.
Cientistas do governo também esperam que o clima mais quente encurte a duração
da temporada de geada necessária para muitas culturas crescerem na primavera. Além
dos rendimentos, as mudanças climáticas também afetarão o processamento, o
armazenamento e o transporte de alimentos - indústrias que exigem uma
quantidade crescente de água e energia caras à medida que a demanda global
aumenta - levando a preços mais altos dos alimentos.
As secas serão mais comuns em toda parte. O mundo tem uma quantidade
finita de água e a população crescente aumentará a necessidade do recurso. As
bacias hidrográficas no sudoeste dos EUA, incluindo as Montanhas Rochosas e o
Rio Grande (imagens), terão problemas de abastecimento como o escoamento.
Talvez pior, secas mais longas em regiões anteriormente férteis significarão
menos garantia de produção para os agricultores e indústrias dependentes da
água.
Mais
demanda de energia, preços mais altos, mais mudanças climáticas. A tendência
mundial é impressionante. Desde 1970, a demanda global por aquecimento
diminuiu, enquanto a demanda por resfriamento aumentou. Temperaturas mais
elevadas durante a próxima década e uma crescente população global continuarão
a aumentar a demanda de energia, acelerando o ciclo de emissões que causam
mudanças climáticas, que causam mais emissões. Entretanto projeta-se que a
chuva caia até 40% em alguns lugares. Menos água, um ingrediente-chave na
produção de energia, restringirá os sistemas de geração de energia. Além disso,
os analistas do governo antecipam que uma chance maior projetada de inundações
em certas áreas arriscará inundar geradores de energia e interromper as rotas
de transmissão.
O
El Niño e o fenômeno oposto, a La Niña, formam um ciclo natural que pode durar
de alguns meses a dois ou três anos. Quando eles ocorrem, os padrões climáticos
ao redor do mundo podem ser afetados, provocando uma série
de impactos em plantações, escassez, demandas de aquecimento e
resfriamento de residências e construções, riscos de incêndio, branqueamento de
corais e climas extremos. Os pesquisadores dizem que os impactos dos fenômenos
El Niño/La Niña se tornaram cada vez mais severos nos últimos 20 anos devido ao
clima mais quente, como um jogador de beisebol que usa esteroides e toma
estimulantes durante os jogos eliminatórios.
A
combinação do aquecimento causado pelo homem com a elevação natural das
temperaturas aumenta a chance de que qualquer ano futuro com a presença do El
Niño seja o mais quente de todos, afirmou Michael Mann, cientista climático da
Universidade do Estado da Pensilvânia.
Mann
foi coautor de um estudo de
2018 que associa as mudanças climáticas ao recente e mais
intenso ciclo de secas, incêndios florestais e enchentes no Hemisfério Norte.
Esses extremos climáticos destrutivos aumentarão em média 50 por cento e esse
número pode chegar a 300 por cento devido apenas às mudanças climáticas, a não
ser que o mundo aja rapidamente para cortar as emissões de carbono provenientes
da queima de combustíveis fósseis, concluiu o estudo.
Normalmente,
os fenômenos El Niño trazem pesadas chuvas à Califórnia e, se isso ocorrer
neste inverno, poderiam provocar enchentes repentinas e deslizamentos de terra
após os incêndios florestais que queimaram quase 650 mil hectares no último
outono, conta Stevenson. Quase
14 mil casas foram destruídas nesses incêndios e agora as
primeiras tempestades da temporada já causaram
enchentes e deslizamentos de terra.
Tshering
Om, de 43 anos, ordenha um iaque no acampamento de verão da família. A geleira Masangang ergue-se ao fundo. A
família passa cinco meses do ano aqui fora de sua cidade natal, Laya.
Ultimamente, as geleiras têm derretido mais rápido e crescido menos, e a
família está preocupada se enfrentarão recursos hídricos escassos no futuro.
Tshering,
pastor de iaques de 50 anos, realiza um ritual mensal em que ele derruba iaques
machos ao chão e despeja sal em suas gargantas. Acredita-se que a prática mantenha
seus corpos fortes. Tshering tem 40 iaques, 20 deles machos.
O arco
e flecha é o esporte nacional do Butão. O passatempo é desfrutado por jovens e
idosos. Aqui, crianças atiram flechas com arcos feitos de bambu durante sua
semana de férias em julho.
Três
homens descansam durante uma competição local de arco e flecha em Paro. Da
esquerda para a direita: Pema (seus amigos o chamam de “pedra”) trabalha em um
hospital local, Bona trabalha no Museu Nacional do Butão, e Dawa trabalha no
escritório florestal da região.
Estas
bandeiras brancas representam as almas dos mortos em Gasa, Butão.
Em
Gasa, Butão, monges jogam uma partida de vôlei contra a polícia local.
Karma
Tenzin, de 15 anos, está no sétimo ano em Laya. Diferente de seus pais nômades
e pastores de iaque, Karma que ser engenheiro e trabalhar na capital do Butão,
Thimbu.
Abetos
formam uma cobertura densa nesta floresta do Butão. A constituição do Butão
garante que 60% das florestas do país permanecerão protegidas.
Duas
fazendeiras pausam seu trabalho em um arrozal em Laya para fazer uma ligação.
Laya foi ligada à eletricidade pela primeira vez no ano passado. A conexão foi
bem-vinda uma vez que chegar à cidade mais próxima requer dias de caminhada.
Sonam,
de 20 anos, tece uma trama feita de pelo de iaque e lã de ovelha. É uma
habilidade tipicamente desempenhada pelas mulheres e passada de mãe para filha.
Além de tecer para a família, Sonam vende seu artesanato.
Karma
Yangchen, de seis anos, está apenas começando sua carreira de estudante.
A
única loja de Laya é também um dos locais mais populares da cidade. Estudantes
jogam um jogo chamado “carom”, da Índia.
Tshering
prepara lenha em seu acampamento de verão perto da geleira de Masangang. Ele
não sabe se seus filhos seguirão seu antigo estilo de vida nômade de pastoreio
de iaques. A vida está mudando rapidamente em Laya, com alguns escolhendo
trabalhar em escritórios e não no campo.
Uma
mulher de Laya carrega sua filha em suas costas.
Embora
o El Niño traga chuva e um clima mais ameno ao sul dos Estados Unidos, ele
provoca calor e seca na Austrália, além de inverno seco no sudeste da África e
norte do Brasil. Incêndios florestais catastróficos já irromperam no
leste da Austrália, juntamente com uma onda de calor com
temperaturas acima de 44°C no fim de novembro.
Com
a continuidade do aquecimento global, fenômenos futuros do El Niño estão
propensos a resultar em condições ainda mais frias e úmidas nos Estados Unidos,
aumentando os riscos de enchente. Por outro lado, os fenômenos La Niña
aumentarão o risco de incêndios florestais e secas no sudoeste dos Estados
Unidos, afirmou Stevenson.
Embora
haja uma expansão dos efeitos dos fenômenos El Niño/La Niña em um mundo mais
quente, não se sabe se as mudanças climáticas afetarão a ocorrência ou a
intensidade desses fenômenos futuramente, conta ela.
O que causa os fenômenos El
Niño?
A
La Niña e o El Niño são, respectivamente, as fases fria e quente do ciclo El
Niño-Oscilação Sul (ENOS), que regula o calor no leste do Oceano Pacífico
tropical. Em condições definidas pelos climatologistas como “neutras”, a
pressão atmosférica alta predomina no leste do Pacífico, ao passo que a pressão
baixa predomina no oeste. A diferença na pressão cria os ventos alísios, que sopram
de leste a oeste sobre a superfície do Pacífico tropical, empurrando as águas
quentes para o oeste. As águas mais frias e profundas então sobem à superfície
no leste, substituindo as águas quentes.
Durante
os episódios de La Niña, as diferenças de pressão são mais acentuadas, os
ventos alísios sopram com mais força e as correntes de água fria no leste do
Pacífico se intensificam. Por outro lado, durante o El Niño, a elevada pressão
atmosférica na superfície no oeste do Pacífico e a menor pressão na região
costeira das Américas fazem os ventos alísios enfraquecerem ou mudarem de
direção, provocando temperaturas mais altas nas águas do leste do Pacífico.
Foram
pescadores do Peru que batizaram o El Niño em homenagem ao nascimento de Cristo
(“niño” significa “criança” ou “menino” em espanhol), pois os efeitos do
aquecimento das águas da superfície do leste do Oceano Pacífico—como a chuva
nos áridos desertos do Peru—ocorrem perto do Natal.
No
decorrer de meses e, às vezes, de anos, o calor na camada superficial do
Pacífico se dissipa e a água mais fria e mais profunda emerge à superfície,
auxiliada pelas mudanças nos ventos alísios, o que resulta em um retorno às
condições neutras ou ao surgimento da La Niña (“menina”, em espanhol), a
“presenteadora”, por trazer água fria e rica em nutrientes propícia à vida
marinha, alimentando uma população maior de peixes e aumentando a pesca na
costa peruana. (nationalgeographicbrasil)
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