A
preocupante volta do CFC, o gás que provoca o buraco na camada de ozônio.
Organização
Meteorológica Mundial e Agência de Pesquisa Ambiental do Reino Unido
identificaram o ressurgimento do gás CFC-11, cuja produção é banida; uma
agência de pesquisa ambiental ligou emissões a fábricas na China.
Cientistas
detectaram a volta na produção do gás CFC-11, cuja produção é banida.
O
buraco na camada de ozônio, símbolo da causa ambientalista a partir dos anos
1980, diminuiu depois de um esforço mundial para reduzir a emissão de gases
poluentes. Mas cientistas sinalizam que o risco a essa barreira protetora
natural está de volta.
O
ozônio é um gás incolor que forma uma fina camada na atmosfera e absorve componentes
nocivos da luz solar, conhecidos como raios "ultravioleta B" ou
"UV-B". Ele protege os seres humanos dos riscos de desenvolver câncer
de pele ou catarata, entre outras doenças, e impede mutações nocivas em animais
e plantas.
Em
seu relatório anual sobre gases que causam o efeito estufa, a Organização
Meteorológica Mundial (WMO, na sigla em inglês) detectou o ressurgimento do gás
CFC-11, um dos principais causadores do buraco, cuja produção é banida pelo
Protocolo de Montreal.
O
buraco é bem embaixo
Nos
anos 1980, cientistas descobriram que a produção humana de gases CFC
(clorofluorocarboneto) tinha causado um buraco enorme na camada de ozônio,
colocando em risco a vida no planeta. A abertura, encontrada em cima no Polo
Sul, acendeu um alerta global e se tornou o maior ícone da luta pela
preservação ambiental da época.
O
buraco na camada de ozônio na Antártica no ano 2000.
Em
1987, foi assinado o Protocolo de Montreal, um acordo global para proteger a
camada de ozônio no qual os países signatários se comprometeram a reduzir a
produção e a comercialização de substâncias consideradas responsáveis pelo dano
– entre elas os CFCs, incluindo o CFC-11.
Os
gases do tipo foram substituídos por outros, como hidroclorofluorcarbonos,
hidrofluorcarbonos e perfluorcarbonos – que embora não sejam nocivos à camada
de ozônio, contribuem para o aquecimento global, segundo o Pnuma (Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente).
Os
CFCs eram facilmente encontrados em sprays aerossóis, geladeiras, aparelhos de
ar-condicionado, equipamentos contra incêndio e solventes. Desde então, a
quantidade deles na atmosfera vem caindo, mas neste ano os pesquisadores da WMO
notaram que as reduções do nível do CFC-11 vêm diminuindo – o que indica que
alguém, em algum lugar, voltou a produzir o gás.
A
produção do CFC-11 é duplamente nociva: além de aumentar o buraco na camada que
nos protege dos raios UV-B, ela contribuiu para o aquecimento global.
No
início de 2018, a Agência de Pesquisa Ambiental, no Reino Unido, rastreou a
produção de CFC e chegou a uma série de fábricas na China.
A
agência afirmou que esses gases poderiam ser provenientes da produção de
espumas de isolamento térmico de poliuretano, feitas na China para uso
doméstico a custo baixo. O caso ainda está sob investigação.
O
Protocolo de Montreal proibiu o uso de certas substâncias para proteger a
camada de ozônio, vital para conter a radiação ultravioleta.
Cientistas
afirmam que os níveis detectados dessa substância hoje podem indicar uma piora
ainda maior no futuro. "É possível que as novas emissões sejam o ponta do
iceberg", diz químico e meteorologista Matt Rigby, da Universidade de
Bristol.
"Pode
haver muito mais que está preso nesses materiais e que vai acabar sendo
liberado para a atmosfera nas próximas décadas."
Ameaça
constante
De
acordo com a última avaliação da NASA, agência espacial norte-americana,
realizada em setembro de 2018, o tamanho do buraco na camada de ozônio é de 23
milhões de km², quase a mesma superfície da América do Norte (24,7 milhões de
km²).
Mas,
apesar dessa lacuna, a quantidade de moléculas de ozônio na atmosfera ao redor
do planeta ainda é "bastante constante, com uma redução de cerca de 2% nos
últimos anos", diz o químico Stephen Motzka, pesquisador da Administração
Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA, na sigla em inglês).
Com
a diminuição dos gases que geram o buraco, a tendência é que a camada se
recomponha sozinha – em 2017, a NASA informou que o buraco atingiu o menor
tamanho registrado desde 1988. A melhora "excepcional", segundo os
cientistas, está relacionada a condições climáticas.
Camada
de ozônio sobre o Polo Sul no dia 12 de setembro: em roxo e azul estão as áreas
que têm menos ozônio, enquanto em amarelo e vermelho, as que têm mais.
Se
as medidas para diminuição da produção de CFC pelo Protocolo de Montreal não
tivessem sido tomadas, o Pnuma calcula que o consumo de CFC teria alcançado 3
milhões de toneladas em 2010 – o que seria suficiente para que o buraco
aumentasse até ocupar 50% da camada.
As
consequências seriam "20,5 milhões de casos de câncer de pele e 130
milhões casos de cataratas oculares", segundo o órgão da ONU.
Os
especialistas esperam que o buraco seja reduzido para os níveis de 1980 até o
ano de 2070 – mas o cronograma está em risco caso a volta na produção CFC-11
não seja contida.
Por
que o buraco da camada está sobre a Antártida?
Quando
tentamos localizar no planeta onde está o dano à camada de ozônio, olhamos para
a Antártida.
"A
Antártida é onde a redução do ozônio é mais flagrante e maior durante uma época
específica do ano, quando é a primavera (setembro-novembro)", explica
Motzka.
O
frio extremo da região e a grande quantidade de luz ajudam a produzir as
chamadas nuvens estratosféricas polares.
Nestas
nuvens frias, é produzida a reação química a partir dos gases CFC que destrói o
ozônio.
É
por isso que alguns países da América Latina são mais afetados que outros pelo
aumento dos níveis de radiação.
"Países
com altas latitudes no hemisfério sul podem ter uma exposição maior e ser mais
afetados pelos danos da camada de ozônio sobre a Antártida", diz Motzka.
Aqueles
que estão mais próximos do buraco, como Argentina e Chile, são os mais
vulneráveis, segundo o especialista. Neles já foram encontrados uma série de
plantas e animais com mutações e câncer de pele devido aos efeitos dos raios
UV-B. (g1)
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